Água da Barragem do Bico da Pedra, artigo de Aroldo Cangussu

[EcoDebate] Matéria veiculada em jornal da cidade, na semana passada, dando conta que o Ministério da Saúde está preocupado com o elevado índice de casos de câncer em Janaúba, levantou alguma preocupação com a qualidade da água usada pela população. Como se sabe, a água de abastecimento humano das cidades de Janaúba e Nova Porteirinha é captada na Barragem do Bico da Pedra e, após tratamento, é distribuída para as residências.

Esse manancial é um dos mais importantes da região do semi-árido mineiro, pois, além da qualidade, tem quantidade suficiente para atender a demanda e agüentar o período de seca. O foco da preocupação dos técnicos da concessionária é com as atividades de piscicultura e agricultura no entorno do lago. A ração dada aos peixes, juntamente com as fezes, e o agrotóxico aplicado nas plantações de banana às margens da represa, podem ser produtos cancerígenos. Tem que se combater com veemência esses problemas.

Estive, nessa semana, em viagem de trabalho, à cidade de Guanambi – BA, e voltei impressionado com a crise de água que está se enfrentando lá. Não tem mais água na cidade. As duas barragens que servem de reservatório para captação de água para abastecimento humano estão secas. Foi implantado, pela concessionária baiana, um rigoroso racionamento de água na cidade. Os prédios, hospitais e hotéis estão tendo de montar um esquema custoso de abastecimento de água. Caminhões pipa andam para todo lado buscando água onde ainda tem e levando para quem pode pagar. É tão difícil a situação que a Codevasf está desenvolvendo um projeto de captação de água no rio São Francisco, a 120 km de distância. Só que essa obra ainda vai levar dois anos para ficar pronta.

Realmente, como se vem falando há algum tempo, a crise maior que a humanidade vai enfrentar no século XXI é, sem sombra de dúvida, a questão da água. Com a superpopulação e, consequentemente o esgotamento de mananciais e outros recursos naturais, a escassez de água vai se tornar um problema dramático se alguma medida não for tomada.

É claro que existem algumas possibilidades de salvação. Mas será dificultosa a operação de remediação. Vislumbram-se no horizonte algumas soluções, tais como o aproveitamento dos gigantescos aqüíferos subterrâneos, dentre eles o Aqüífero Guarani e, recentemente descoberto, o de Alter do Chão, no Estado do Pará, que tem reservas de água que daria para abastecer todo o planeta.

Porém, temos que preservar obstinadamente esses menos de 1% de água doce disponível no nosso pequeno planeta para que a humanidade não venha a sofrer de sede.

* Aroldo Cangussu é engenheiro, ex-secretário municipal de meio ambiente de Janaúba e diretor da ARC EMPREENDIMENTOS AMBIENTAIS LTDA.

EcoDebate, 09/08/2010

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