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Artigo

Bullying, ‘afinal eu estou pagando’… artigo de Américo Canhoto

[EcoDebate] Sempre foi assim – Por que eu?

Estar inserido no rebanho dos normais, acreditando e fazendo tudo o que os outros fazem, tanto faz que seja certo ou errado, bom ou mau, nos dá o álibi da maioria.

No livro “Pequenos descuidos grandes problemas”, alinhavado há alguns anos, inserimos o conceito de crianças da Geração Nova. A educação delas não é nada diferente da que as normais devem receber. Apenas alguns cuidados devem ser redobrados, a responsabilidade em encaminhar para a vida uma criança com “tamanho potencial cognitivo”, como a de boa parte das da atualidade, é muito maior.

O senso de justiça e de desenvolvimento ético – moral dessas crianças é extraordinário, porém elas podem ser corrompidas pela educação proporcionada pelos atuais adultos normais (Lembram-se do filme Gremlins? – assistam).

Este é um bate-papo dedicado a pessoas que já admitem falhas na educação das crianças. E ás que planejam tê-las evitando algumas das mais comuns, pois em prevenir está a sabedoria. Sua leitura pode ser útil, também para os que já percebem a necessidade de modificarem a própria educação sem críticas, culpas e culpados; mas, pagando o preço quando for apenado.


Não se culpar pelas falhas na educação dos filhos não deixa de ser uma atitude inteligente, pois para que a culpa? Se cada um de nós tenta fazer o que está ao alcance ou é possível em cada momento – mas, quando não o fazemos; é da lei que arquemos com as conseqüências.

Filhos? É lógico e natural que desejemos e planejemos para eles o melhor: saúde, paz, prosperidade, alegria. Tentamos educá-los para que sejam os melhores, os mais saudáveis, os mais prósperos, os mais felizes. No entanto, isso, é uma ilusão, uma fantasia, pois não temos clareza do que seja: felicidade, saúde, paz, prosperidade, harmonia.

O que muitas vezes não se ensina ás crianças é que sempre há o outro na outra ponta de nossos interesses.
É lógico; e dita o bom senso que, quem não ensinar isso aos seus filhos deve pagar pelos desatinos que vierem a causar.

Todo cuidado é pouco para não projetarmos nas crianças nossos desejos e expectativas não realizadas: não tentemos nos livrar de nossas frustrações através delas.

Desejamos para elas o que ignoramos ou não conseguimos experimentar. É evidente que esse tipo de educação não pode dar certo. Ela passa a ser uma teoria, uma fantasia, desmentida e antagonizada pela realidade de cada um. Idealizamos para o futuro delas conquistas que ainda não fazem parte da rotina da nossa realidade, pois fomos e somos treinados a viver num mundo de ilusões, aparências e valores que flutuam ao sabor do desejo e dos interesses do momento. Significa que estamos mais ou menos perdidos. Quando se trata de educar nossas crianças parecemos cegos a guiar cegos, como nos disse o Mestre Jesus.

Toda criança necessita de atenção, cuidados, respeito: amor.

No contexto atual, onde predominam as coisas descartáveis até as relações familiares tem pouca profundidade; a vida em família limita-se a uma convivência superficial, na qual as palavras não costumam combinar com as atitudes. E, como não poderia deixar de ser: a cada dia que passa aumenta o número de famílias que sentem dificuldades em educar até as crianças normais quanto mais as que apresentam o perfil indagador e “rebelde”.

A primeira impressão ao pararmos para pensar sobre o assunto é que as crianças e os jovens estão cada vez mais problemáticos. Engano nosso, pois podemos encontrar essas mesmas dúvidas: O que será dessa juventude? Quase com as mesmas palavras em escritos de Sócrates, Platão e outros bem anteriores a eles. Em todos os tempos, sempre houve dificuldades nas relações entre as gerações. Que hoje o problema é mais complexo é inegável (na época não havia a Internet, por exemplo).

No entanto, a resposta para explicar as dificuldades crescentes de relacionamento entre adultos, crianças e jovens na vida contemporânea é simples: poucos se prepararam para este momento, que é de instabilidade e de mudanças rápidas. E, é difícil encarar a instabilidade com bom humor, pois a falta de controle sobre os fatos, acontecimentos e perspectivas, acende o medo que alimenta a ansiedade. As pessoas, quando perdem o controle sobre o medo e ansiedade podem praticar todo tipo de desatinos, dentre eles, o de tentar repassar a educação dos filhos para a escola – e tanto faz escola cara ou barata

Nos dias de hoje a arte de participar da educação exige preparo, reciclagem rápida e contínua.

É bom que os pais se preparem para receber os filhos com consciência para bem ajudar na sua educação. Não se trata da educação ideal, pois não há filhos, pais ou mães ideais. Existe apenas a realidade de cada um. E, é em cima da nossa que devemos trabalhar para nos adequarmos ao momento que estamos vivendo.

Conserta; estraga; conserta estraga…

O método informal de ir levando a vida para ver no que dá, já provou sua ineficácia. Hoje, para atingir um padrão de qualidade melhor, é preciso que tenhamos metas a serem alcançadas, e que busquemos os recursos necessários para atingi-las.

Essa providência é interessante em especial na formação da criança da Geração Nova, pois ela não aceita imposições nem regras que não sejam cumpridas por todos igualmente – espera-se que através delas uma nova justiça prevaleça.

É importante aprender a arte de compartilhar; e não apenas a de ditar regras ou impor desejos e conceitos.

Quando percebermos que não educamos, apenas participamos da educação, ficará fácil e lógico entender que não se pode controlar o aprendizado de outra pessoa, não é nosso papel. Desse momento em diante, até nos sentimos aliviados, pois tiramos dos ombros uma responsabilidade que não nos pertence: o controle do destino dos outros. Mas, até que possam responder por si mesmos; nossos filhos são nossa responsabilidade sim – isso é da lei.

Para uma sociedade mais justa e amorosa: A educação compartilhada ajuda a definir o papel de cada pessoa envolvida.

Nela destaca-se a função de cada um, seu papel específico. Os pais, a família, a escola, a sociedade, todos tem funções interdependentes. Inclusive, a própria criança (na parte penal em países de primeiro mundo; as crianças delinqüentes são apenadas).

Se as expectativas de uma educação de boa qualidade serão ou não atendidas depende de uma série de fatores que embora se completem são independentes. Definir direitos, tarefas e funções é um passo inicial importante.

Reavaliar metas é diferente de julgar de forma crítica.

A análise do papel que, cada um cumpriu bem ou mal; interessava apenas a quem o revisa – Inadequado esse conceito quando envolve outras pessoas e ilícitos penais.

A inteligência dita que essa reavaliação deve revestir-se apenas de revisão de metas, sem o cultivo de sofrimentos; mas apenas na vida entre quatro paredes; no que tange a afetar a vida de outras pessoas; pedir desculpas não basta.

Também não adianta jogar a toalha: Não sei mais o que fazer! Pois, é impossível desistir: filhos são para sempre.

Que o digam os pais que sacrificam todo lazer do fim de semana visitando os filhos nas cadeias e penitenciárias.

Nosso assunto é simples; aproveitando essa notícia de ocorrência jurídica; apenas relembramos alguns erros que, de tão comuns nem mais os percebemos nas lides do cotidiano, mas que podem no futuro pela sua repetição trazer muita dor e sofrer tanto para adultos quanto para as crianças.

Aproveitamos a oportunidade para reforçar um alerta a respeito da aceleração em andamento; de poucos anos para cá, tudo corre cada vez mais célere; inclusive a lei de ação e reação – no ritmo antigo entre causa e efeito era possível reparar ou consertar os estragos com relativa tranqüilidade; mas, atualmente o espaço entre a causa e o efeito está diminuído cada vez mais rápido, quase saindo na mesma foto; caso teimemos continuar com os mesmos padrões e hábitos, o risco de não haver tempo hábil para as correções é imenso.

** A impunidade do descaso, das desculpas e justificativas está com os dias contados: Pais de estudante terão que indenizar vítima de bullying

Um estudante da 7ª série de um colégio particular de Belo Horizonte foi condenado a pagar uma indenização de R$ 8 mil pela prática de bullying – atos de violência psicológica e física, intencionais e repetidos – contra uma colega de sala. Em decisão publicada hoje, o juiz Luiz Artur Rocha Hilário, da 27ª Vara Cível da capital mineira, julgou razoável o valor da indenização por danos morais e considerou comprovada a existência de bullying contra uma adolescente, parte requerente no processo. A defesa dos pais do estudante informou que irá recorrer.

Na ação, a aluna do colégio Congregação de Santa Doroteia do Brasil relatou que, em pouco tempo de convivência escolar, o colega de sala passou a lhe colocar apelidos e fazer insinuações. As “incursões inconvenientes”, afirmou, passaram a ser mais frequentes com o passar do tempo. Os pais da menina alegaram que procuraram a escola, mas não obtiveram “resultados satisfatórios”. Além de indenização por danos morais, a estudante requereu a prestação, pela escola, de uma orientação pedagógica ao adolescente, o que foi negado pelo magistrado.

De acordo com o Tribunal de Justiça de Minas, Marco Aurélio Garzon Moreira Cesar e Jacqueline Alves Moreira Cesar, pais do adolescente, afirmaram no processo que há uma “conotação exagerada e fantasiosa” sobre a relação existente entre os menores. O casal classificou os episódios como brincadeiras entre adolescentes, que não poderiam ser confundidas com a prática do bullying. E afirmaram que o menor, após o ajuizamento da ação, também sofreu danos morais, passando a ser chamado de “réu” e “processado”.

Atitudes inconvenientes

O juiz, porém, considerou comprovada a existência do bullying, ressaltando que a discussão envolvendo a prática é nova no âmbito judicial. “O dano moral decorreu diretamente das atitudes inconvenientes do menor estudante, no intento de desprestigiar a estudante no ambiente colegial, com potencialidade de alcançar até mesmo o ambiente fora do colegial”, afirmou na sentença. “As brincadeiras de mau gosto do estudante, se assim podemos chamar, geraram problemas à colega e, consequentemente, seus pais devem ser responsabilizados, nos termos da lei civil.”

O advogado Rogério Vieira Santiago, que representa os pais do adolescente, classificou a decisão como “absurda” e “fora da prova dos autos.” Ele disse que a decisão não poderia ser divulgada pelo TJ mineiro e acredita que a responsabilidade por qualquer comportamento deveria ser atribuída ao colégio. “Se por acaso algum comportamento ruim houve do menino, pior ainda é da escola privada, de classe alta. Se alguém fez, alguém permitiu”.

Segundo Santiago é “muito simples eximir a escola”. “Os pais não ficam agarrados com os filhos o dia inteiro. Você entrega à escola. Ela é que tem o dever de zelar pela integridade física e moral dos meninos intramuros”. No processo, o representante do colégio declarou que todas as medidas consideradas pedagogicamente essenciais foram providenciadas. **

Nada mais poderia ser esperado, no contexto atual, da defesa do réu e sua família nesse processo, do que repassar á escola o ônus dos problemas de berço que grassam em todas as famílias. Afinal os pais estão pagando para que a escola corrija os problemas de DNA cultural de berço.

Cabe aos analistas da seqüência do processo, estudar os argumentos da defesa neste caso para gerar uma saudável e profunda reavaliação no conceito de responsabilidade sobre a educação das crianças; que repercute gravemente na saúde ética da sociedade.

Teorias como a de Hommer Simpson: “A culpa é minha; então eu a coloco em quem eu quiser” – pois, “estou pagando” – não podem vigorar na justiça.

PAZ E VIDA LONGA A ESSES NOVOS JUÍZES – BEM AVENTURADOS SEJAM.

Américo Canhoto: Clínico Geral, médico de famílias há 30 anos. Pesquisador de saúde holística. Uso a Homeopatia e os florais de Bach. Escritor de assuntos temáticos: saúde – educação – espiritualidade. Palestrante e condutor de workshops. Coordenador do grupo ecumênico “Mãos estendidas” de SBC. Projeto voltado para o atendimento de pessoas vítimas do estresse crônico portadoras de ansiedade e medo que conduz a: depressão, angústia crônica e pânico.

* Colaboração de Américo Canhoto para o EcoDebate, 24/05/2010

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