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Especialistas veem biocombustível de segunda geração como chance para países pobres

Fabricados a partir de resíduos agrícolas, os biocombustíveis de segunda geração podem ser uma alternativa ambientalmente viável para o desenvolvimento econômico de países pobres, de acordo com especialistas em energia.

A produção de combustíveis a partir de milho, trigo, colza e azeite de dendê é cara e contribui relativamente pouco para a proteção do clima, além de impulsionar o aumento dos preços dos alimentos, segundo um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgado em 2008.

Mas que alternativas existem? O apetite global por energia vem crescendo, afirma Didier Houssin, diretor de Mercados Energéticos e Segurança da Agência Internacional de Energia (AIE).

“Em nossas projeções, a cota dos biocombustíveis no setor de transportes deverá crescer, indo dos atuais 1,7% para 9% em 2030. Daí a necessidade que há de se garantir o desenvolvimento sustentável da produção de biocombustíveis. Isso é particularmente importante no caso de países em desenvolvimento e emergentes”, explica o especialista.

Complemento à produção de alimentos

Esses países produzem grande parte dos resíduos da agricultura e da silvicultura, dos quais podem ser produzidos diesel, etanol ou gás sintético. São os chamados biocombustíveis de segunda geração. A vantagem é que sua produção não concorre com a produção de alimentos, mas a complementa.

Além disso, os dejetos já existem em abundância como matéria-prima, como lembra Anselm Eisentraut, analista para biocombustíveis da AIE. Ele analisou para a OCDE o potencial dos novos biocombustíveis. “No momento, 10% dos resíduos agrícolas e florestais disponíveis seriam suficientes para quase duplicar a produção atual de biocombustíveis, se a tecnologia realmente estivesse disponível comercialmente e em grande escala”, afirma.

Perspectiva promissora

Cerca de 125 bilhões de litros de diesel ou 170 bilhões de litros de etanol poderiam ser produzidos por ano a partir de apenas 10% das cascas de noz e de arroz e dos restos de madeira disponíveis no mundo. Mas até agora a técnica só funciona em projetos experimentais.

“Nos Estados Unidos será lançada no próximo ano uma unidade comercial que produzirá cerca de 100 milhões de litros por ano. No Brasil há instalações experimentais, assim como na Índia e na China, de forma que [nesses países] a evolução da tecnologia já está avançada, mas ainda não em escala comercial,” diz Eisentraut.

Isso pode levar de 15 a 20 anos, dependendo dos incentivos econômicos que vierem do setor político. Esse tempo, no entanto, também é necessário não somente para se criar a infraestrutura para a produção do biocombustível em países emergentes e em desenvolvimento, como também para estabelecer uma agricultura sustentável.

Integração aos mercados mundiais

Para isso contribuem também as políticas alemãs de ajuda ao desenvolvimento, afirma Mike Enskat, especialista em energia da Agência Alemã de Cooperação Técnica (GTZ, na sigla em alemão).

“O potencial econômico dos biocombustíveis de segunda geração é, naturalmente, também uma oportunidade para se desenvolver melhor o setor agrícola nos países em desenvolvimento, torná-lo mais produtivo e melhor integrado aos mercados mundiais”, afirma.

Mas os países em desenvolvimento devem ser envolvidos no processo já na fase inicial, para que sejam evitados os erros feitos no desenvolvimento dos biocombustíveis de primeira geração. “Deve haver padrões internacionais de sustentabilidade para a produção de biomassa e uma certificação dos combustíveis, para assegurar padrões sociais e ambientais”, sublinha Enskat.

Ele alerta também que deve ser evitada uma nova concorrência na aquisição de matérias-primas. “Porque, em alguns países, resíduos da agricultura e da silvicultura já são usados como adubo ou no aquecimento. Também não foram completamente esclarecidos possíveis impactos ambientais sobre os nutrientes do solo e sobre os recursos hídricos.”

Autora: Sabine Kinkartz (md)
Revisão: Alexandre Schossler

Reportagem da Agência Deutsche Welle, DW-WORLD.DE, publicada pelo EcoDebate, 28/02/2010

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