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Estudo indica que manter um dos ovários e o útero em câncer inicial não eleva riscos

Conservar um dos ovários e o útero quando o câncer está em estágio inicial preserva a fertilidade da mulher sem comprometer a sobrevida. Esse é o resultado de um estudo [Fertility preservation in young women with epithelial ovarian cancer] americano, feito na Universidade Columbia, e que será publicado na edição de setembro da revista “Cancer”, periódico da Sociedade Americana de Câncer.

Por se tratar de um tumor extremamente agressivo, atualmente o procedimento padrão nesses casos é a retirada dos dois ovários e do útero. Reportagem de Gabriela Cupani, da Folha de S.Paulo, com informações complementares do EcoDebate.

Os pesquisadores analisaram dados de mulheres de até 50 anos que haviam sido diagnosticadas com câncer epitelial de ovário -o mais comum- em estágio 1 entre 1988 e 2004.

Em uma primeira análise, eles compararam 1.186 pacientes. Aproximadamente um terço delas (36%) tiveram o ovário saudável preservado. As demais tiveram os dois ovários removidos cirurgicamente. Na comparação, os resultados mostraram que a taxa de sobrevida em cinco anos foi similar nos dois grupos.

Uma segunda análise avaliou dados de 2.911 mulheres, das quais apenas 23% tiveram o útero preservado. A sobrevida em cinco anos também foi similar nos dois grupos.

De acordo com os autores, o artigo reforça que os benefícios de um tratamento cirúrgico conservador devem ser considerados em pacientes jovens, que ainda não tiveram filhos.

“Isso já vem sendo feito em mulheres com tumores muito iniciais”, diz Maurício Abrão, ginecologista, professor da Universidade de São Paulo e médico do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. “Mas deve-se avaliar caso a caso”, pondera. A idade, o tipo de tumor e o estágio devem pesar na decisão de preservar ou não órgãos.

Mas, segundo Abrão, os resultados desse estudo, que incluiu um grande número de mulheres, reforçam a ideia de que a técnica é efetiva. “Isso deve sensibilizar médicos e pacientes para esse olhar mais conservador”, afirma.

“Outros estudos já sugeriam que, em alguns casos, é possível preservar um dos ovários”, concorda Sophie Mauricette Derchain, ginecologista com atuação em oncologia do Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher, da Universidade Estadual de Campinas. “Mas isso não significa que a paciente esteja curada”, alerta a médica.

Avaliação periódica

“Essas mulheres precisam de um acompanhamento muito próximo, com avaliação a cada três meses”, completa a oncologista Silvana Gotardo, membro das sociedades europeia e americana de oncologia clinica. “Conservar o ovário e o útero também evita a menopausa precoce”, acrescenta ela.

O câncer de ovário representa cerca de 3% dos tumores femininos, mas é o mais letal. É mais comum a partir dos 50 anos. Normalmente não dá sintomas ou os sinais são muito vagos, por isso o diagnóstico costuma acontecer quando ele já está espalhado pelo corpo, principalmente em órgãos como fígado e pulmões.

O exame capaz de apontar a presença de alterações nos ovários é o ultrassom transvaginal. “Mas estudos mostram que ele não deve ser usado como método de rastreamento, pois leva a vários tratamentos desnecessários e os resultados não mostraram impacto na mortalidade”, diz Mauricette Derchain.

Já o marcador CA 125, uma proteína dosada em exame de sangue, só serve para acompanhar o desenvolvimento de um tumor já diagnosticado.

Mulheres com casos desse tumor na família têm mais chances de desenvolver a doença, já que 10% dos casos têm um componente genético.

O tratamento desse câncer é cirúrgico e pode incluir quimioterapia. Tudo depende do tipo do tumor e do estágio da doença. “Há vários subtipos, alguns mais agressivos do que outros”, diz a médica Mauricette Derchain.

O prognóstico é pior quanto mais alto o estágio. Tumores diagnosticados em estágio 1 têm grandes chances de cura.

Mas aproximadamente 80% dos casos diagnosticados no Brasil acontecem nos estágios 3 e 4. A mulher só é considerada curada após cinco anos sem apresentar recidiva.

O acesso integral ao estudo “Fertility preservation in young women with epithelial ovarian cancer” é restrito aos assinantes da revista “Cancer”, periódico da Sociedade Americana de Câncer. Para maiores informações transcrevemos, abaixo, o abstract:

Fertility preservation in young women with epithelial ovarian cancer
Jason D. Wright, MD 1 2 *, Monjri Shah, MD 1, Leny Mathew, MD 3, William M. Burke, MD 1 2 4, Jennifer Culhane, MD 3, Noah Goldman, MD 4, Peter B. Schiff, MD 2 5, Thomas J. Herzog, MD 1 2
1Division of Gynecologic Oncology, Department of Obstetrics and Gynecology, Columbia University College of Physicians and Surgeons, New York, New York
2Herbert Irving Comprehensive Cancer Center, New York-Presbyterian Hospital/Columbia University Medical Center, New York, New York
3Children’s Hospital of Pennsylvania, Philadelphia, Pennsylvania
4Valley Hospital, Ridgewood, New Jersey
5Department of Radiation Oncology, Columbia University College of Physicians and Surgeons, New York, New York
email: Jason D. Wright (jw2459{at}columbia.edu)

*Correspondence to Jason D. Wright, Division of Gynecologic Oncology, Department of Obstetrics and Gynecology, Columbia University College of Physicians and Surgeons, 161 Fort Washington Ave, Eighth Floor, New York, NY 10032
Fax: (212) 305-3412

Keywords
ovarian cancer • oophorectomy • hysterectomy • fertility-conserving surgery

Abstract

BACKGROUND:
Surgical management of ovarian cancer consists of hysterectomy with bilateral oophorectomy. In young women, this results in the loss of reproductive function and estrogen deprivation. In the current study, the authors examined the safety of fertility-conserving surgery in premenopausal women with epithelial ovarian cancers.

METHODS:
Women aged 50 years with stage IA or IC epithelial ovarian cancer who were registered in the Surveillance, Epidemiology, and End Results database were examined. Patients who underwent bilateral oophorectomy were compared with those who underwent ovarian conservation. A second analysis examined uterine conservation versus hysterectomy. Multivariate Poisson regression models were developed to describe predictors of fertility preservation. Survival was examined using Cox proportional hazards models and the Kaplan-Meier method.

RESULTS:
In total, 1186 women, including 754 women (64%) who underwent bilateral oophorectomy and 432 women (36%) who underwent ovarian preservation, were identified. Younger age, later year of diagnosis, and residence in the eastern or western United States were associated with ovarian preservation (P < .05 for all). Women with endometrioid and clear cell histologies and stage IC disease were less likely to have ovarian conservation (P < .05). In a Cox model, ovarian preservation had no effect on survival (hazard ratio [HR], 0.69; 95% confidence interval [CI], 0.39-1.20). Young age, later year of diagnosis, residence in the eastern or western United States, single women, mucinous tumors, and patients with stage IA disease were more likely to have uterine preservation (P < .05 for all). In a multivariate model, uterine preservation had no effect on survival (HR, 0.87; 95% CI, 0.62-1.22). CONCLUSIONS: Ovarian and uterine-conserving surgery were safe in young women who had stage IA and IC epithelial ovarian cancer. Cancer 2009. © 2009 American Cancer Society. Received: 21 October 2008; Revised: 14 December 2008; Accepted: 18 December 2008 Digital Object Identifier (DOI) 10.1002/cncr.24461 EcoDebate, 12/08/2009

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