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Informações sobre a Transposição, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)

canais projetados da transposição do rio São Francisco
Canais projetados da transposição do rio São Francisco

[EcoDebate] Muitas pessoas escrevem perguntando sobre a situação da Transposição do São Francisco. Na verdade, se hoje a obra estivesse pronta, não haveria como levar uma única gota d´água do São Francisco para os estados receptores. Todos estão se afogando em águas. Em todo caso, em vista do calendário eleitoral, as obras deram um avanço, ainda que pequeno para sua magnitude. Estive na região de Floresta-PE esses dias e repasso as seguintes informações:

1) Segundo o bispo de Floresta, D. Adriano, as obras do eixo leste avançaram aproximadamente 20 km desde a tomada da água. É só terraplanagem, não há revestimento dos taludes.

2) A obra pára quando chega na reserva biológica de Serra Negra, território dos índios Pipipã e Kambiowá.

3) A obra é retomada depois da reserva, de Ibimirim a Sertânia. Um trecho de aproximadamente mais 100 km. Apenas se avista o canteiro de obras. Tudo indica que é apenas terraplanagem.

4) No Eixo Norte temos menos informações. Tudo indica que a obra vai da beira do rio até à barragem do Trucutu, distante 6 quilômetros. Após a estrada a obra já tem alguns revestimentos.

5) Vale a pena esclarecer a questão da reserva biológica de Serra Negra. Segundo o professor João Luís, da cidade de Floresta, foi a primeira criada no Brasil, em 1950, por um pioneiro da ecologia brasileira, o pernambucano Vasconcelos Sobrinho. É uma área de Mata Atlântica de 1.100 hectares incrustada na caatinga. Foi uma das bases para que Aziz Ab Saber criasse sua teoria dos “refúgios”. Além disso, é uma área sagrada para os índios, onde moram os “encantados”, há muito tempo espaço de celebrações ocultadas da civilização branca. Portanto, uma área de importância inestimável.

6) Moradores de Floresta, em um seminário promovido pela equipe da Cultura da Paz da diocese de Floresta, mostraram-se estarrecidos com o desmatamento da caatinga e o envio da madeira para carvão. Também a retirada da areia do rio Pajeú, inclusive dos barrancos, gerou inundação cidade nas últimas chuvas, fato nunca antes acontecido.

7) O Coronel do Exército, responsável pelas obras, que não compareceu ao evento, disse ao pessoal responsável pelo evento que os canais serão rodeados por uma estrada de cada lado e, após a estrada, haverá uma cerca. Nessa estrada haverá guardas motorizados fazendo a vigilância dos canais para que ninguém se aproxime. É o mesmo esquema do “Eixão” no Ceará, que é o mesmo adotado em outros países, como a Índia, onde a água foi privatizada.

8) Quanto à revitalização, estão acontecendo obras de saneamento em quase todo o vale do São Francisco, o que é muito importante para a vida do rio e saúde do povo. Entretanto, o próprio bispo de Floresta disse que “chegaram a refazer a obra na avenida central da cidade quatro vezes”. Como em outras cidades, não há nenhum controle de qualidade dessas obras, muito menos controle dos investimentos. Como tudo vai para debaixo da terra, fica difícil fazer qualquer avaliação. Em todo caso, se os canais forem concluídos, o São Francisco será novamente abandonado à sua própria sorte.

Roberto Malvezzi (Gogó) é Assessor da Comissão Pastoral da Terra, colaborador e articulista do EcoDebate.

[EcoDebate, 29/05/2009]

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2 thoughts on “Informações sobre a Transposição, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)

  • Paulo Afonso da Mata Machado

    Meu caro Roberto Malvezzi:
    Como a transposição do S. Francisco saiu do noticiário, é de grande proveito o levantamento das obras em andamento.
    Fico satisfeito em saber que, não obstante a crise econômica que avassala o mundo, a transposição está indo a pleno vapor e que saltou a reserva dos índios Pipipã e Kambiowá, deixando o trecho para ser feito depois.
    Aprecio suas notícias, porque você é declaradamente contrário ao projeto. Não sabia, por exemplo que os canais teriam uma estrada de cada lado com uma cerca externa. Durante os debates que precederam o ínício das obras, cansei-me de ver críticas de que os canais teriam acesso livre, ficando sujeitos a poluição, e que seriam feitos inúmeros “gatos” o que impediria a água de chegar ao seu destino. Sua notícia de que haverá vigilantes impedindo o lançamento de lixo no canal é bastante confortadora.
    Peço, no entanto, que você informe melhor como a retirada de areia do Rio Pajeú possa ter provocado inundação. A areia carreada para os rios é uma das causas mais importantes de inundação e, sua retirada, uma das formas de contê-la.

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