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Litoral entre RJ e ES pode ter novas usinas nucleares

Usinas de Angra 1 e 2
Usinas de Angra 1 e 2

Região foi selecionada pelo grupo que define o Programa Nuclear Brasileiro. Segue indefinido local do depósito para o combustível queimado nas usinas, ainda radioativo; cidade escolhida pode ter prêmio financeiro

A região entre o litoral norte do Rio de Janeiro e do Espírito Santo foi pré-selecionada pelo governo para abrigar as duas novas usinas nucleares planejadas para entrar em operação nas próximas duas décadas na região Sudeste, disse o ministro Edison Lobão (Minas e Energia), integrante do grupo que define a nova fase do Programa Nuclear Brasileiro. Matéria de Marta Salomon, na Folha de S.Paulo, 12/04/2009.

Em primeiro lugar, é preciso água, água e muita água nas proximidades“, afirmou o ministro a respeito dos critérios usados na seleção, pautada em estudos da Eletronuclear, estatal responsável pela construção de Angra 3 e pela operação das duas primeiras usinas nucleares brasileiras.

Lobão disse que está descartada a construção de uma usina em São Paulo por causa da grande concentração urbana (o Estado tem aproximadamente 40 milhões de habitantes distribuídos em 645 municípios).

O ministro citou como áreas preferenciais para a instalação de usinas os municípios de Macaé e Campos, no norte fluminense, que já se destacam hoje pela exploração de petróleo.

Outras duas usinas, de um pacote de quatro a serem construídas até 2030, estão planejadas para o Nordeste. Mapeamentos de satélite orientam a escolha do local, prevista para ocorrer até 2010, entre o litoral da Bahia e de Pernambuco.

Depósito radioativo

Segue indefinida, no entanto, a localização do depósito para o combustível queimado nas usinas, ainda radioativo -cujo projeto detalhado é uma exigência ambiental para a entrada em operação de Angra 3, prevista para 2014.

A construção da usina, interrompida nos anos 80, será retomada nos próximos meses. Está entre as obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) concedeu no mês passado a licença de instalação de Angra 3. O documento é necessário para o início das obras. Em julho do ano passado, o órgão havia concedido licença para a construção do canteiro de obras da usina Angra 3.

Em dois anos, a Eletronuclear começará a construir, no município de Angra dos Reis, um protótipo do depósito, desenhado para estocar o combustível já resfriado por um período de 500 anos.

A ideia em discussão no governo é que haverá um leilão entre os municípios que se dispuserem a abrigar o depósito de lixo nuclear, em troca de uma compensação financeira.

A Folha teve acesso ao modelo do depósito planejado pela Eletronuclear. O presidente da estatal, Othon Luiz Pinheiro da Silva, descreve o projeto como uma espécie de “pombal” feito de concreto e isolado do solo.

O combustível usado nos reatores, depois de resfriado em grandes tanques instalados no interior das usinas, será acondicionado em ampolas de aço inoxidável blindadas, que, por sua vez, serão levadas à estrutura de concreto.

“Essa estrutura será construída em uma caverna, a salvo de um eventual ataque por aviões, totalmente segura”, sustenta o presidente da estatal. “É uma solução simples e engenhosa.”

O arranjo permitirá a reciclagem do combustível usado pelas usinas, baseado em urânio. A tendência é que o depósito venha a ser construído na região Sudeste, próximo de onde funcionam as três primeiras usinas nucleares brasileiras.

A construção de um depósito definitivo para o rejeito de alta radioatividade foi descartada na licença do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), que autorizou a retomada das obras.

A definição de onde ficarão as novas usinas gera movimentos antagônicos. Governadores do Nordeste já disputam a primazia, sobretudo pela movimentação da economia local e a perspectiva de aumento de arrecadação de impostos.

No Sudeste, porém, a ampliação do número de usinas é objeto de polêmica. O presidente da Aben (Associação Brasileira de Energia Nuclear), Guilherme Camargo, defende mais usinas em Angra dos Reis. “Não vejo por que não fazer lá, onde já existe toda a infraestrutura, seria o ideal”, questiona Camargo. Segundo Othon Silva, da Eletronuclear, essa opção está descartada.

Participação de estrangeiros não é consenso

A quebra do monopólio do Estado na construção e operação de usinas nucleares divide o grupo que define os próximos passos do Programa Nuclear. A retomada do programa, no governo Lula, foi marcada pela decisão de concluir a construção de Angra 3.

O ministro Edison Lobão é o maior defensor da quebra do monopólio, proposta formalizada em um projeto de emenda constitucional do deputado Alfredo Kaefer (PSDB-PR), que ainda não passou da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.

“Quanto menos a União gastar, melhor. Se a iniciativa privada participa de hidrelétricas e termelétricas, não haverá razão para impedir sua participação na construção e operação de usinas nucleares”, afirmou Lobão.

O ministro disse ter sido procurado por investidores estrangeiros interessados no setor. A multinacional francesa Areva, que tem controle estatal, é a mais forte interessada na abertura do mercado.

A ideia não conta com o aval do ministro de Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende. Procurado pela Folha, ele optou por não se manifestar.

No ano passado, foi retirada de pauta no Congresso uma segunda proposta de emenda constitucional, que abria à iniciativa privada a exploração das reservas brasileiras de urânio. A justificativa foi a queda do preço internacional, que teria arrefecido o interesse de investidores. Atualmente, a participação da iniciativa privada é admitida em parceria com o Estado.

Nota do EcoDebate: se “…é preciso água, água e muita água nas proximidades…” como se concluiu pela viabilidade de usinas nucleares às margens do rio São Francisco? Vejam sobre o assunto em “Governo de Pernambuco planeja usina nuclear próxima ao rio São Francisco” e “Quatro Estados do Nordeste disputam receber usinas nucleares” .

[EcoDebate, 14/04/2009]

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