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Editorial

O governo Obama, os EUA e o aquecimento global, por Henrique Cortez

refinaria

[Ecodebate] Barack Obama, desde a campanha presidencial, foi considerado como uma grande esperança na mudança da política ambiental dos EUA, com especial atenção na questão da matriz energética americana.

Ao longo da campanha ele defendeu os investimentos públicos nas pesquisas de energias renováveis e no carvão “limpo”. Também defendeu a energia nuclear, desde que gerenciada com segurança.

Empossado, manteve os compromissos, o que não significa uma grande mudança em relação à situação anterior.

O primeiro evento relacionado às energias renováveis, aconteceu com a proposta do Departamento de Agricultura em autorizar o milho transgênico para fins de produção de etanol, liberando milhões de hectares para uma cultura transgênica. O assunto permanecerá em discussão pública até 17/03/2009.

O carvão “limpo” (que nada mais é do que ‘enterrar’ o CO2 emitido por uma termelétrica a carvão) ainda não é utilizado em escala comercial e, até agora, é uma grande incógnita.

Quanto à energia nuclear, já estão em andamento diversas propostas de renovação do licenciamento das usinas que seriam descomissionadas, por aproximarem-se de 30 anos de operação. E, até agora, os EUA, como todos os demais usuários da energia nuclear, ainda não tem uma solução para os rejeitos nucleares de alta radioatividade.

Ou seja, mais do mesmo, mas com um novo discurso.

Freqüentemente ficamos com a impressão que os EUA agem em relação aos temas ambientais forma descompromissada e irresponsável. No entanto, além da notória pressão da indústria petrolífera, existem claras razões de ordem econômica, conforme expomos abaixo.

A maior fonte de emissão de CO2 nos EUA é a queima de combustíveis fósseis, respondendo por 97% do total, de acordo com US Climate Action Report 2002, publicado pela US Environmental Protection Agency – EPA

Em 1999 aproximadamente 84% da energia consumida nos Estados Unidos era proveniente da queima de combustíveis fósseis. De 1990 a 1999 a emissão de CO2, em razão da queima de combustíveis fósseis nos EUA, aumentou à taxa média de 1,4% ao ano. De 1999 até 2003 a taxa cresceu para 1,7% ao ano, mantendo-se estável até agora.

Em termos de energia elétrica isso fica mais visível se observamos a matriz de geração: Carvão 56,2 %, Nuclear 21%, Gás natural 9,6%, Hidrelétrica 9,5%, Petróleo 3,4%, Outras 0,2%

A geração de origem termelétrica a carvão, petróleo e gás natural é intensa emissora de CO2, além de dióxido de enxofre e oxido nitroso. Por outro lado, o consumo mundial per capita de energia elétrica, de acordo com dados de 1999, é da ordem de 2700 kWh/ano (no Brasil 1970 kWh/ano) enquanto que nos EUA o consumo per capita é da ordem de 11900 kWh/ano e continua crescendo a taxas superiores a 1% ao ano.

Em termos estratégicos é importante destacar que, mantidos os níveis de consumo de 2000, os EUA possuem reservas de carvão para mais 500 anos, com custos de exploração há muito amortizados, o que facilita a compreensão de que a geração termelétrica a carvão equivale a 56,2% em sua matriz de geração.

Mesmo se apenas consideramos a questão da energia elétrica e desconsideramos outras fontes de emissão de CO2 (automóveis, indústria, etc.) ainda assim podemos compreender melhor as implicações na redução da emissão.

Para reduzir as emissões de CO2 originadas de termelétricas a carvão e gás natural (69,2% de toda a geração) os norte-americanos teriam que reduzir a oferta de energia ou substituir estas fontes de geração, modificando o modelo de sua matriz energética.

Reduzir o consumo significa impor grandes modificações culturais e sociais, com relevantes impactos na economia. O atendimento ao aumento de demanda significa aumentar a capacidade de geração, ampliando problema.

Por outro lado, reduzir a oferta, racionando a energia disponível para consmo, naturalmente desarticularia a toda a economia, com sérios impactos em emprego e renda, o que traria um custo político incalculável.

Substituir a geração termelétrica por outra também seria complicado. Em primeiro lugar substituir pelo que? A possibilidade de expansão da geração hidrelétrica é limitada e não iria efetivamente repor o volume de geração a ser substituída. As fontes alternativas, tais como eólica e fovoltáica, no atual estágio tecnológico, ainda não são eficientes a ponto de permitir a substituição. A única alternativa tecnicamente viável seria a intensiva utilização da energia nuclear.

Os Estados Unidos já operam 104 reatores nucleares, que respondem por 21% da geração. Embora não seja emissora de gases estufa a energia nuclear gera resíduos radioativos extremamente tóxicos e para os quais ainda não existe um processo realmente seguro e eficaz de armazenamento.

O risco de acidentes nucleares http://www.ecodebate.com.br/tag/acidente-nuclear/ , embora estatisticamente pequeno, não é desprezível, o que aumenta a rejeição por parte da população.Mesmo que a intensificação da utilização da energia nuclear fosse aceita pela população dos EUA, ainda assim estaríamos falando de um processo de substituição lento e com imensos custos.

Ao modificar o modelo da matriz de geração, substituindo a maioria das atuais usinas termelétricas, haveria um impacto nas indústrias de carvão e petróleo, que seriam gravemente afetadas, reduzindo o seu significado na economia americana, ao mesmo tempo em que milhares de postos de trabalho poderiam ser extintos.

As indústrias de carvão e petróleo são extremamente poderosas e articuladas em todo o planeta, mas nos EUA, em especial, possuem um lobby impressionante, que foi decisivo para que o governo norte-americano não ratificasse o Protocolo de Kioto.

A sociedade norte americana é “energívora”, considerando que é baseada no consumo cada vez maior de energia, sem levar em conta quaisquer conseqüências. Principalmente porque as maiores conseqüências e danos ocorrerão nos países pobres.

Os EUA, portanto, agem de forma muito clara em razão dos seus próprios e exclusivos interesses.

Com Obama não será diferente.

OBS – Fonte de texto e dados “Aquecimento Global e Água”, disponível para download em http://www.camaradecultura.org/livro-f.pdf

[Por Henrique Cortez, do EcoDebate, 10/02/2009]

batendo bumbo...

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