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Chile tenta reabilitar sua lucrativa indústria do salmão

Foto de Joao Pina para The New York Times
Foto de Joao Pina para The New York Times

Quando um vírus devastador varreu as fazendas de salmão do Chile no ano passado, alguns dos maiores produtores do setor demitiram milhares de trabalhadores, fecharam as operações e se mudaram para águas inexploradas mais ao sul do litoral chileno. Mas o vírus foi junto com eles.

No mês passado, o governo chileno começou a discutir medidas mais duras para melhorar as condições sanitárias e ambientais da problemática indústria. Mas os produtores ainda esperam perdas maiores esse ano, enquanto o vírus continua matando milhões de peixes que deveriam ser exportados para os Estados Unidos e outros países. Matéria de Alexei Barrionuevo*, do The New York Times.

Autoridades do governo e do setor dizem que já tomaram medidas importantes para melhorar os métodos de criação de salmão. Mas segundo os críticos, os problemas persistentes mostram que nem a indústria nem o governo entenderam totalmente a necessidade de mudanças mais amplas não só para proteger os consumidores e o meio ambiente, mas também para defender uma das mais importantes indústrias do Chile de si própria.

Eles não são os únicos que estão preocupados. Em meio à crise causada pelo vírus, o Chile continuou a criar salmão para exportação com químicos e medicamentos não aprovados para uso nos Estados Unidos e Europa, de acordo com documentos dos órgãos fiscalizadores.

Apesar de o FDA (agência norte-americana que regulamenta alimentos e medicamentos) dizer que o Chile fez algum progresso para combater os problemas, o órgão mantém as importações de peixes criados no Chile sob uma supervisão especial até hoje.

Autoridades do setor e do governo chileno dizem que os problemas fazem parte do processo de crescimento da indústria de US$ 2 bilhões, que em menos de duas décadas se transformou na segunda maior exportadora do mundo e maior fornecedora de salmão para os Estados Unidos.

O vírus que afeta os peixes, e provoca a anemia infecciosa do salmão, ou ISA em inglês, não é prejudicial para os seres humanos, observam.

Mas depois que o jornal The New York Times divulgou uma reportagem sobre a mortandade de peixes no Chile no ano passado, alguns compradores, como o gigante supermercado Safeway, restringiram suas importações.

Os problemas obrigaram o governo chileno a aumentar seus controles. No ano passado, o Sernapesca, serviço nacional de pesca do Chile, triplicou suas inspeções às fazendas de peixes, disse Felix Inostroza, diretor do órgão.

Entre outras coisas, as medidas que estão sendo avaliadas pelo Congresso chileno e que devem ser aprovadas antes de abril diminuiriam a densidade dos cercados de salmão, onde a superpopulação contribuiu para espalhar o vírus, e reduziriam o uso de antibióticos.

As autoridades também planejam organizar as licenças para a aquicultura em “áreas”, nas quais as companhias de salmão deverão incorporar períodos de descanso entre os ciclos de produção, para dar ao ambiente marinho tempo para se recuperar, diz Rodrigo Infante, gerente geral da associação de produtores SalmonChile.

Mas grupos ambientalistas dizem que continuarão o lobby por mudanças mais duras. “Não é suficiente que a indústria policie a si mesma de forma voluntária”, disse Andrea Kavanagh, gerente da Campanha de Reforma da Aquicultura de Salmão para o grupo ambientalista Pew, em Washington.

“Durante muito tempo o governo cedeu à conveniência da indústria”, acrescentou, “permitindo químicos que notoriamente prejudicam o meio ambiente e os consumidores”.

No ano passado, o grupo obteve relatórios de inspeção do FDA por meio de um pedido de abertura de arquivos, mostrando que os produtores chilenos haviam usado químicos que estão efetivamente banidos nos Estados Unidos.

Autoridades da indústria e do governo chilenos dizem que os químicos não são prejudiciais para os consumidores quando usados da forma correta. “Só porque o uso da substância é proibido não significa necessariamente que ela representa um risco à saúde humana”, diz Alicia Gallardo, chefe da unidade de aquicultura do Sernapesca.

Mas os produtores chilenos têm dificuldades para cumprir as regulamentações de outros países, principalmente por causa da bactéria parasitária rickettsia, carregada pelos piolhos do mar, que causam lesões passíveis de infecção.

A indústria usa tratamentos antiparasitários como o benzoato de emamectina, um pesticida dado aos peixes para tratar as infestações de piolhos do mar, além de antibióticos para controlar as infecções resultantes.

Autoridades do FDA dizem que a emamectina só pode ser usada em poucos casos nos Estados Unidos, e que é um dos três químicos proibidos destacados nos documentos de inspeção do FDA em abril passado.

Os outros foram o ácido oxolínico e o antibiótico flumequina, de acordo com os relatórios de inspeção do FDA requisitados pelo Pew Environmental Group.

Cópias dos documentos foram concedidas ao The New York Times e sua autenticidade foi verificada por autoridades do FDA, incluindo Donald Kraemer, diretor do departamento de segurança alimentar do FDA.

Em resposta às descobertas do ano passado, ele disse que o FDA colocou três produtores – Cultivadores de Salmones Linao Ltda., Empresas Aquachile e Alimentos Cuisine Solutions – sob um “alerta de importação”, que exigia que eles provassem que os carregamentos estavam livres dessas substâncias.

O FDA retirou o alerta depois que as companhias aumentaram o controle, disse Kraemer. De maio a julho, o FDA também aumentou o número de amostras de peixes do Chile testadas, disse. Nenhum dos testes do FDA deu positivo para qualquer uma das substâncias banidas. Mas, segundo Kramer, o FDA não tem um método confiável para testar a emamectina.

A companhia Empresas Aquachile recusou-se a comentar sobre as inspeções do FDA.

Alex Miguel, diretor-executivo da Alimentos Cuisine Solutions, disse que desde que a companhia foi notificada das violações em outubro, começou a testar cada leva de salmão que comprava de outras companhias.

Em resposta por e-mail, Alvaro Jimenez, diretor-administrativo das operações chilenas de aquicultura, que controla a Cultivadora, assinalou que o alerta do FDA não estava baseado na detecção de resíduos dos químicos nos peixes, mas sim em documentos que detalhavam os procedimentos de controle de medicamentos da companhia na produção.

“Agora estamos de acordo com as regulamentações”, disse.

As companhias chilenas não pararam de usar as drogas, disse Kraemer, do FDA. Em vez disso, elas aumentaram o “tempo de abstinência” dos peixes – período no qual eles são mantidos em cativeiro depois de tratados com as drogas, disse.

Ainda não totalmente satisfeito, o FDA marcou uma “revisão do sistema” para março no Chile, quando trabalhará junto com o Sernapesca para decidir como o país enfrentará as doenças dos peixes.

“Precisamos saber se eles são capazes de controlar a parte deles, do outro lado do oceano, para que não tenhamos que fazer isso do nosso lado”, disse Kraemer.

Autoridades do governo chileno, preocupadas com as demissões no sul, disseram que estão determinadas a reformar a indústria. “Mas isso terá de ser feito com incentivos”, disse Hugo Lavados, ministro da Economia chileno.

Em novembro, o governo anunciou que fornecerá US$ 120 milhões em empréstimos para ajudar os produtores a se adequarem às novas regulamentações com rapidez. Mas esse ano, os produtores ainda esperam uma queda 30% na exportação de salmão, disse Cesar Barros, presidente da SalmonChile.

*Pascale Bonnefoy contribuiu com a reportagem, de Santiago, Chile

Tradução: Eloise De Vylder

** Matéria [Chile Takes Steps to Rehabilitate Its Lucrative Salmon Industry] do The New York Times, no UOL Notícias, 09/02/2009 – 00h01

[EcoDebate, 09/02/2009]

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