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Desenvolvimento Sustentável em Relação a Ocupação do Planeta, artigo de José Austerliano Rodrigues

 

Desenvolvimento Sustentável,Desenvolvimento Sustentável em Relação a Ocupação do Planeta

 

Desenvolvimento Sustentável em Relação a Ocupação do Planeta, artigo de José Austerliano Rodrigues

[EcoDebate] Segundo a Bíblia, Deus disse: “Frutificai, disse ele, e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra” (Genesis 1, 28–30). Isso é uma proposição tênue, considerando a destruição ambiental de nossos tempos. A história nos mostra as idades negras de nossa civilização e ainda os dois colapsos dentro dos últimos 5.000 anos na Europa. A pergunta é: Qual a chance de um terceiro colapso?

A ocupação do planeta está ocorrendo de forma marcadamente insustentável, especialmente desde a Revolução Industrial, que tem exigido medidas drásticas que vão além das que são comumente propostas para se alcançar a sustentabilidade, sendo que a posição da humanidade como espécie dominante no planeta vem sendo atacada por ameaças severas, resultantes dos próprios excessos, particularmente durante os últimos 200 anos. Em outras palavras, o conceito de desenvolvimento sustentável, como aqui definido, logo abaixo, pode ser uma quimera, por ser divorciado da realidade de nossa ocupação do planeta.

Sustentabilidade pode significar muitas coisas. Basicamente, significa a capacidade de alguma coisa ou alguma prática ser sustentável ou ser continuada, indefinitivamente, no futuro, em sua forma presente. O termo é frequentemente atrelado a outros termos, como no caso de sustentabilidade social, agricultura sustentável e crescimento sustentável. Contudo, o uso mais comum do termo tem sido em sustentabilidade ambiental e desenvolvimento sustentável, termos diferentes, mas relacionados, que tentam descrever a melhor forma de interagir com o meio-ambiente.

Sustentabilidade ambiental e desenvolvimento sustentável são frequentemente usados de forma intercalada, mas esta prática é enganosa, visto que eles têm significados separados. Problemas ambientais têm sido o ímpeto central para o crescimento do conceito de sustentabilidade nas questões mundiais atuais e a sustentabilidade ambiental é um movimento que busca reduzir o impacto da prática humana nos sistemas ambientais e ecológicos que nos apoiam.

O desenvolvimento sustentável utiliza as ideias da sustentabilidade ambiental o desenvolvimento e crescimento econômico. O desenvolvimento sustentável tem sido descrito como sendo similar ao tradicional desenvolvimento e crescimento econômico, apenas com a adição dos recursos naturais como uma forma de capital natural (ASEFA, 2005). O capital natural proporciona mercadorias e serviços da mesma forma que o capital manufaturado, e sua incorporação na equação econômica estabelece valores para os recursos naturais que são, por sua vez, incluídos na análise econômica. O valor monetário pode de fato ser atribuído aos recursos naturais, prática comum na análise econômica sustentável, mas o debate continua sendo sobre como determinar valores apropriados e se os sistemas naturais devem mesmo ser apropriados para a agenda do crescimento econômico do capitalismo moderno.

A questão é se a promoção do crescimento econômico contínuo é compatível com a prática sustentável. Portanto, quando usada isoladamente, sustentabilidade usualmente se refere à sustentabilidade ambiental ou ao desenvolvimento sustentável, sendo que a proliferação de uso do termo nos últimos anos por uma variedade de entidades, com vários objetivos e agendas, criou certa ambiguidade no seu significado.

Assim sendo, durante as últimas duas décadas, o conceito de desenvolvimento sustentável vem sendo usado e aceito amplamente como sendo a forma de se viver em harmonia com o meio-ambiente. Numerosas definições de sustentabilidade, citadas na literatura, oferecem numerosas tentativas de abarcar o conceito em poucas palavras, notadamente a mencionada pelo Relatório Brundtland (Our Common Future), do Conselho Mundial das Nações Unidas sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente, publicado em 1987.

Portanto, um dos primeiros e mais influentes textos destinado a promover o conceito de desenvolvimento sustentável foi o denominado Relatório Brundtland, assim chamado por conta do nome do presidente da Comissão Mundial sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente (World Commissionon Environmentand Sustainability – WCED, 1987). Este relatório trouxe a necessidade do desenvolvimento sustentável para a atenção do mundo, convencendo muitos governantes no mundo desenvolvido, pelo menos na retórica, a dar atenção a esta ideia.

A definição de desenvolvimento sustentável no Relatório Brundtland é dada nos seguintes termos: “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades” (WCED, 1987). Um ponto chave desta definição é que ela mostra a distinção entre sustentabilidade e desenvolvimento sustentável: desenvolvimento sustentável é a aplicação de sustentabilidade ao modelo capitalista de crescimento econômico. Ao contrário do chamado Limites ao Crescimento, do Clube de Roma, o Relatório Brundtland abraça crescimento econômico, afirmando que não é o caso em que quanto menos o crescimento econômico ou consumo, mais sustentável é o crescimento. É o conteúdo do crescimento que é crítico (WCED, 1987).

Our Common Future põe muita fé na habilidade de novas tecnologias para mudar o conteúdo do crescimento, para substituir velhas tecnologias destrutivas por novas tecnologias “sustentáveis” dentro do paradigma de crescimento econômico. A história de sustentabilidade é uma história de ideias em competição, forças e agenda, sendo que estas duas visões opostas de crescimento econômico representam uma competição que tem prevalecido desde o início da ideia.

Our Common Future também inclui consideráveis comentários sobre questões sociais; a definição de sustentabilidade é centrada nas necessidades humanas do presente e do futuro. Especificamente, ela foca na dicotomia entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, reconhecendo amplamente as diferentes condições em diferentes localidades, oferecendo diferentes recomendações para cada uma delas. Países desenvolvidos e em desenvolvimento são frequentemente agrupados na literatura com os termos Norte e Sul, o Norte se referindo principalmente aos países ricos do hemisfério Norte e o Sul se referindo aos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento do hemisfério sul.

Embora o Relatório trate das questões de equidade em profundidade, desde a sua publicação, o foco de sustentabilidade tem sido principalmente em questões ambientais e em ajustar o modelo econômico prevalente para considerar fatores do meio ambiente, amplamente ignorando as questões sociais que permeiam o problema.

Muitos enfoques específicos relacionados com o desenvolvimento sustentável surgiram, a exemplo de ecoeficiência/ecoefetividade, produção limpa, ecologia industrial, avaliação do ciclo de vida, o chamado Global Reporting Iniciative, responsabilidade social corporativa e 26000. Contudo, vendo os resultados destas iniciativas é questionável se alcançamos algum progresso real em direção a uma sociedade sustentável.

Muitos problemas, tais como mudanças climáticas, perda da biodiversidade, além do crescimento da pobreza e discriminação contra as mulheres tornaram-se mais severos desde 1987, ano de publicação do Relatório Bruntland (BAUMGARTNER, 2011).

José Austerliano Rodrigues. Doutor em Marketing Sustentável pela UFRJ, com ênfase em Sustentabilidade e Marketing, com interesse em pesquisa em Marketing Sustentável, Sustentabilidade de Marketing, Responsabilidade Social e Comportamento do Consumidor. E-mail: austerlianorodrigues@bol.com.br.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 19/05/2020

[cite]

 

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2 thoughts on “Desenvolvimento Sustentável em Relação a Ocupação do Planeta, artigo de José Austerliano Rodrigues

  • Deus é dominação e exploração; Deus é Capitalismo.

  • . Se não existisse Religião; Se o sistema socioeconômico predominante fosse o Socialismo; Se a população de seres humanos na Terra fosse de 1 bilhão de habitantes, ao invés de 7,7 bilhões, tudo seria diferente, muito diferente, e a vida não estaria sob forte ameaça.

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