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Artigo

Militantes sociais do Pará debatem sobre Venezuela, artigo de Rogério Almeida

[EcoDebate] Faz tempo que os olhos do mudo se debruçam sobre as riquezas da Amazônia. Não é de hoje que os saques se sucedem. A região coleciona mortes de muitos irmãos. Fomos saqueados pelos espanhóis e portugueses. Em seguida pelos estadunidenses. Inverter tal curso é o nosso trabalho. A linha política da República Bolivariana da Venezuela é a emancipação a partir do fortalecimento da sociedade local.

As questões acima foram alguns dos pontos sublinhados pelo embaixador da Venezuela no Brasil, Julio Garcia Montoya, militar de carreira com pós- graduação em estudos venezuelanos pela Universidade Católica Andrés Bello.

A conversa ocorreu com cerca de 80 pessoas ligadas a movimentos sociais na noite de ontem, 14, na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Belém, Pará. MST,Via Campesina Brasil, CPT, os mandatos do senador José Néri e da vereadora por Belém, Marinor Brito, ambos do PSOL, constam entre os animadores do encontro.

Para quem esperava ufanismo por parte do embaixador deve ter saído frustrado. A explanação foi breve e objetiva, com ressalvas para a orientação contrária à agenda neoliberal que pauta boa parte dos países latinos.

Na análise de Montoya o mundo carece de um polipoder, e a saída do continente latino reside na construção de um bloco político e econômico ancorado na soberania de cada nação. Ao ressaltar os avanços de quase uma década chavista no poder indicou a inversão nos índices de desenvolvimento humano, a queda no analfabetismo, a melhor distribuição de renda. “Estamos usando a nossa principal riqueza natural, o petróleo, para o interesse de nosso país”, arrematou Montoya.

O embaixador admite limites do governo e reflete que é necessário um maior esforço para ativar a participação da sociedade. Padecemos de várias tentativas de golpe além de uma guerra midiática que demoniza o nosso presidente, discursou o representante do governo venezuelano.

Ao ser interrogado sobre o insucesso no recente referendo, avaliou que a conjuntura não era a mais favorável para a questão. “Há um consenso das grandes corporações da mídia em alçar Hugo Chavez à categoria de ditador. Interrogo: como isso pode ter algum fundo de verdade se foi reeleito várias vezes e realizou consultas populares?”, interpretou Julio Montoya.

Uma agenda para a Amazônia – os debates sobre o futuro social, ecológico, político, econômico e cultural devem ser intensificados por conta da realização do Fórum Social Mundial em Belém no ano de 2009. Os diagnósticos sobre variados temas sempre que anunciados indicam a condição periférica da região no jogo do poder político e econômico mundial.

Colecionamos sempre os piores índices de desenvolvimento humano, violência, saneamento básico, educação, genocídio e devastação entre outros. Os variados interesses se agitam sobre as inúmeras e derradeiras reservas de recursos naturais do planeta. Cumpre perguntar: será possível construir um poder a partir do trópico?

Rogério Almeida, mestre em Planejamento do Desenvolvimento Regional e colaborador do Fórum Carajás, do Ecodebate e do Ibase, entre outros. É autor do livro Araguaia-Tocantins: fios de uma História camponesa.