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Adolescentes devem ser alvo de ações no controle do HPV e das lesões do colo do útero

Imagem da Agência Fiocruz de Notícias
Imagem da Agência Fiocruz de Notícias

Dos exames feitos em mulheres com idade igual ou superior a 20 anos, 5,6% revelaram alguma alteração no colo do útero. Entre adolescentes (de 10 a 19 anos) esse percentual chegou quase a 9%

Alterações no exame preventivo de câncer do colo do útero, detectadas pelo método de Papanicolau, estão se tornando mais freqüentes entre as adolescentes. É o que mostra um estudo desenvolvido por pesquisadoras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fiocruz. Publicado recentemente no periódico Cadernos de Saúde Pública, o trabalho teve como objetivo analisar a distribuição e a tendência temporal dessas alterações em adolescentes do município do Rio de Janeiro, comparando os dados aos de mulheres adultas.

A importância de monitorar as alterações no colo do útero se deve ao fato de que estas podem ser lesões precursoras do câncer. “O câncer do colo do útero corresponde à segunda causa de óbito por neoplasia em mulheres no mundo, ocorrendo mais de 250 mil óbitos anualmente”, referem as pesquisadoras Michele Lopes Pedrosa, Inês Echenique Mattos e Rosalina Jorge Koifman no artigo. O desenvolvimento do câncer de colo uterino, geralmente, é lento e tem como causa uma infecção por determinados subtipos do papilomavírus humano (HPV), adquirido durante relações sexuais desprotegidas.

Para o estudo, as pesquisadoras utilizaram o banco de dados do Serviço Integrado Tecnológico em Citopatologia, pertencente ao Instituto Nacional do Câncer (Inca). O trabalho encontrou cerca de 1,5 milhão de exames do tipo Papanicolau realizados em moradoras do Rio entre 1999 e 2005. Entre os exames feitos em mulheres adultas (com idade igual ou superior a 20 anos), 5,6% revelaram alguma alteração no colo do útero. Já entre os exames em adolescentes (de 10 a 19 anos), esse percentual foi maior, chegando quase a 9%.

Embora as alterações, de modo geral, tenham sido mais freqüentes entre as adolescentes, o tipo de lesão mais comum variou de acordo com idade. Na faixa de 10 a 19 anos, prevaleceram as lesões de baixo grau, ou seja, com menor probabilidade de evolução para câncer. “As lesões de baixo grau corresponderam a mais da metade das alterações cervicais no grupo de adolescentes, sendo 2,9 mais freqüentes neste grupo do que entre mulheres adultas”, afirmam as pesquisadoras no artigo. Lesões mais graves atingiram, sobretudo mulheres com idade igual ou superior a 20 anos.

Outro resultado do estudo demonstrou que, no período analisado, houve uma tendência de crescimento linear das alterações no colo do útero para ambas as faixas etárias, embora tal tendência tenha sido mais acentuada para as adolescentes. “Nas adolescentes, esse acréscimo foi, em média, 2,6 vezes maior nas adolescentes do que nas adultas”, dizem as autoras. Em outras palavras: na faixa etária de 20 anos ou mais, a prevalência de alterações nos exames aumentou de 4% em 1999 para 6,1% em 2005, enquanto, no mesmo período, esse crescimento foi de 6,4% para 12,4% entre as adolescentes.

De acordo com as pesquisadoras, esse aumento mais acentuado entre garotas de 10 a 19 anos pode estar associado à elevada prevalência da infecção por HPV nesta faixa etária, devido, inclusive, a mudanças comportamentais, como início precoce da vida sexual e maior número de parceiros. Porém, razões biológicas também ajudam a explicar a maior suscetibilidade das adolescentes à infecção por HPV e, consequentemente, às lesões no colo útero. Na puberdade, por exemplo, é maior a presença de células metaplásicas, que dão suporte à multiplicação do vírus, e menor a produção de muco cervical, que serve como barreira protetora contra agentes infecciosos.

Na conclusão do artigo, as pesquisadoras recomendam que as adolescentes sexualmente ativas sejam consideradas como um grupo prioritário para o controle da infecção por HPV e das lesões no colo do útero. Para prevenir a infecção e diminuir a incidência do câncer de colo uterino, recomendam, ainda, ações de educação sexual. “Informar e conscientizar os adolescentes sobre o HPV e os riscos associados, assim como sobre as formas de prevenção, possivelmente contribuirá para reduzir a contaminação por esse vírus e aumentar o diagnóstico das lesões intra-epiteliais existentes, possibilitando seu controle e influenciando na diminuição da incidência do câncer de colo uterino em longo prazo”, destacam as autoras.

* Matéria de Fernanda Marques, da Agência Fiocruz de Notícias.

[EcoDebate, 09/01/2009]

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