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Dia Internacional da Mulher: Margaret Fuller, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

 

 

Dia Internacional da Mulher: Margaret Fuller, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

“Os livros são o tesouro precioso do mundo e a digna herança das gerações e nações”
Henry Thoreau (1817-1862)

 

O único daguerreótipo conhecido de Margaret Fuller (por John Plumbe, 1846). Imagem: Wikipedia
O único daguerreótipo conhecido de Margaret Fuller (por John Plumbe, 1846). Imagem: Wikipedia

 

[EcoDebate] O Dia Internacional da Mulher é uma data de reflexão e um momento de rememorar o luto e a luta do sexo feminino contra a exploração, a opressão, a escravidão, a violência, a guerra, a pobreza, a destruição da natureza, a superstição, a ignorância, a heteronomia, a iniquidade, o fracasso, o preconceito, o obscurantismo, o fatalismo e a favor da paz, da harmonia, da liberdade, da educação, da ciência, da tecnologia, da simpatia, da empatia, da solidariedade, da pluralidade, da autonomia, da diversidade, da saúde, dos direitos sexuais e reprodutivos, do amor, do progresso, do sucesso, do bem-estar e do compartilhamento respeitoso do espaço terrestre com todos os seres vivos do Planeta.

Entre as mulheres que mais se destacaram na história está a americana Margaret Fuller (23/05/1810 – 19/07/1850). Nascida em Cambridge, Massachusetts, ela compensou a inexistência de educação formal para as mulheres, recebendo uma educação em casa, por seu pai. Depois da adolescência ela obteve escolaridade formal e tornou-se uma professora, em 1839, e participou de encontros entre mulheres visando ao aperfeiçoamento educacional. Ela era uma leitora voraz e por volta dos 30 anos foi considera a pessoa mais erudita da Nova Inglaterra e tornou-se a primeira mulher a ser liberada para frequentar a biblioteca da Universidade de Harvard.

Em 1840, começou a trabalhar como editora do jornal transcendentalista The Dial. Ela editou o jornal de 1840 a 1842, e foi reconhecida como uma das figuras mais importantes do movimento transcendentalista. O transcendentalismo foi um movimento filosófico e poético desenvolvido no leste dos Estados Unidos que levava em consideração a afirmação do transcendental kantiano como única realidade, ao mesmo tempo que expressa uma reação ao racionalismo e uma exaltação ao indivíduo nas relações com a natureza e a sociedade. Entre os transcendentalistas mais conhecidos estão Ralph Waldo Emerson, Henry David Thoreau, Amos Bronson Alcott, Orestes Brownson, William Ellery Channing, Frederick Henry Hedge e Theodore Parker. Sendo que Margaret Fuller foi a mulher mais destacada do movimento, que também teve papel fundamental no movimento de preservação do meio ambiente.

Em 1843, Margaret Fuller publicou o livro “Mulher no século XIX” (Woman in the Nineteenth Century), onde defende a ideia de uma elevação espiritual de homens e mulheres, abandono dos desejos egoísticos e buscando uma melhor relação com a natureza.

Ela critica as injustiças sociais, em especial, denuncia a escravidão e o genocídio dos povos nativos. Ela diz que uma parte da população discriminar a outra parte é hipocrisia. Ela defende uma solidariedade integral e defende o engajamento de homens e mulheres no movimento abolicionista.

Em relação à condição de inferioridade das mulheres perante as leis dos EUA, ela defende a igualdade de direitos e uma maior autonomia das mulheres nas famílias e na sociedade. Ela rechaça a norma que coloca o homem automaticamente como chefe da família e defende a independência individual contra as instituições hierárquicas e autoritárias. Ela observa que o “empoderamento” das mulheres viria com uma maior liberdade intelectual e religiosa.

Ela defende um casamento igualitário com base na união solidária entre os cônjuges e critica as formas patriarcais da hierarquia familiar. O companheirismo intelectual é a forma mais elevada de casamento. Homem e mulher devem ser amigos, confidentes em pensamento e sentimento, com mútua confiança. O casal, em condições igualitárias, caminham juntos em direção à elevação conjunta. Para tanto, as mulheres necessitam ter seus recursos intelectuais e espirituais fortalecidos. Ela observa que “Não há homem totalmente masculino, nenhuma mulher puramente feminina”.

A conclusão do ensaio é que antes de haver uma verdadeira união matrimonial, cada pessoa deve ser uma unidade individual e autodependente. Para que as mulheres se tornem tais indivíduos, os homens precisariam abdicar da “dominação masculina”, e as mulheres precisariam se reivindicar como seres autônomos. Fuller termina olhando para a frente e fazendo uma chamada para as mulheres fortalecidas ensinarem as demais a serem indivíduos independentes.

Margaret Fuller morreu num naufrágio perto de Fire Island, em uma viagem para Nova Iorque, em 1850. O corpo dela jamais foi encontrado. Mas suas ideias continuaram vivas e a obra de Fuller estimulou a luta pelo direito de voto das mulheres nos Estados Unidos.

A publicação do livro “Mulher no século XIX” (1843) contribuiu para o avanço da luta pelos direitos de cidadania do sexo feminino.

Em 1848, aconteceu a Convenção de Seneca Falls, o primeiro grande evento dos EUA sobre os direitos das mulheres, quando se aprovou uma resolução a favor do sufrágio feminino. Em 1850, ano da morte de Margaret Fuller, aconteceu a primeira Convenção Nacional dos Direitos da Mulher e a luta sufragista passou a ser a mais importante das atividades do movimento.

As primeiras organizações nacionais de sufrágio foram estabelecidas em 1869, quando foram formadas duas organizações concorrentes, uma liderada por Susan B. Anthony e Elizabeth Cady Stanton e outra por Lucy Stone. Em 1890 elas se fundiram e formaram a National American Woman Sufrage Association (NAWSA) com Susan Anthony na liderança. O direito de voto das mulheres foi estabelecido ao longo de várias décadas, de início, em pequenas localidades e, às vezes, de forma limitada, mas o sufrágio feminino foi conquistado, nacionalmente, em 1920.

Porém, depois de 200 anos de democracia e de 100 anos do direito de voto feminino, nenhuma mulher conseguir chegar à presidência ou vice-presidência dos Estados Unidos. Portanto, a luta de Margaret Fuller continua viva em pleno século XXI e merece ser lembrada no Dia Internacional da Mulher.

 

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 09/03/2018

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