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Artigo

Viva o Rio! artigo de Montserrat Martins

 

Rio Tietê. Créditos: Info Abril / Unesp

 

[EcoDebate] “Ouçam o que eu estou falando, o Rio Tietê ainda receberá uma Olimpíada. É um rio limpo e cristalino que hoje orgulha os paulistanos e brasileiros” – assim começa o artigo “Rio”, de Fábio Porchat, no Estadão. Seguido de algumas explicações: “São alguns pontos que recebem o despejo de esgoto ilegal, mas que a prefeitura e o governo já estão tomando as medidas legais para sanar esse tipo de absurdo”. E por aí vai, reproduzindo os discursos políticos do tipo “uma empresa canadense e uma francesa já começaram a despoluí-lo”.

“Rio” é o melhor artigo escrito em 2013, confira na internet pra ver o final glorioso do texto. Uma sátira perfeita do discurso político, que vai do ufanismo até o réquiem pela coisa pública e pelos recursos naturais. Mesmo quem já curte o humor inteligente do Porchat & cia. na “porta dos fundos” da internet talvez não imagine o quanto ele captou a essência do discurso político contemporâneo.

Sátiras são capazes de nos mostrar melhor a realidade que discursos sisudos, que se tornam parte da realidade que tentam capturar, por usar a mesma lógica dele. A ironia de costumes, de Veríssimo a Porchat, nos liberta das lógicas da “governabilidade” e do “possível” e até da “podemos fazer melhor”, tudo incluído. Satirizar o que oprime e revolta é capaz de desmoralizar o ‘sistema’ (ou pelo menos a retórica que o legitima) às vezes mais do que “quebrar tudo”.

As críticas inteligentes foram o ponto alto das manifestações de junho de 2013. Cartazes do tipo “se ficar doente, procure um estádio” dizem tudo em uma única frase, são mais contundentes que um soco no estômago de todos os governantes brasileiros (de todos os partidos e de todas as décadas, registre-se) e de nossa própria tradição cultural de privilegiar o “pão e circo” para o povo ao invés de políticas públicas mais sérias para a saúde.

Posts como aquele da madame que olha para um guri de rua e pergunta “você não tem educação?” também são impagáveis. No retrato da elite “se queixando” do povo, a denúncia do investimento que o Estado não faz. É uma negligência crônica de nossa cultura política, mudam governos e discursos mas a educação segue sem ser prioridade na prática.

Discursos para provar que um governo ou um partido fez mais que os outros, ou ao contrário para demonizar algum governo ou partido, são tão chatos quanto falsos, menosprezam a inteligência da população. Nada melhor que os cartazes e posts satíricos para repor a verdade, com o ‘plus’ de nos fazer rir.

“O rebelde” (The Protester) foi eleito o “Homem do Ano” em 2011, em 2013 eu elegeria “o satírico”. O poder da humor vem sendo reconhecido nas últimas décadas, inclusive nos estudos sobre o psiquismo humano. Na Psiquiatria, o primeiro artigo a respeito foi publicado numa revista em 1980 sob o título “O papel do humor e dos temas folclóricos na terapia”, mostrando que o viés satírico tinha maior potencial de induzir mudanças do que a mera argumentação lógica. Dito isso, chega de explicações. Vá direto para a internet acessar o artigo Rio, de Fábio Porchat, porque você não pode terminar 2013 sem ler o “artigo do ano”. O conteúdo é fundamental, o tormento de um rio. A genialidade de estilo é satisfação garantida, ou o seu dinheiro de volta.

Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é Psiquiatra.

 

EcoDebate, 20/12/2013


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