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Aves estão em declínio no mundo. Situação do Brasil é grave


Cada vez menos cantos – Uma em cada oito espécies de aves corre risco de extinção e o Brasil é o quarto país do mundo em número de espécies ameaçadas. As atividades humanas são as maiores responsáveis pela situação, um forte sinal de deterioração do meio ambiente global, como aponta o relatório “O estado dos pássaros do mundo”, divulgado ontem pela BirdLife International. O estudo destaca a situação emergencial do Cerrado brasileiro e ressalta a ameaça representada pelo cultivo de soja para a perda de biodiversidade. O Globo, 23/09/2008.

Especialista em conservação da Sociedade Espanhola de Ornitologia, Ana Iñigo, explicou, ao “El País”, que os pássaros mais ameaçados do mundo são os que vivem em ecossistemas agrícolas. O estudo, que avaliou mais de dez mil pontos de concentração de aves, diz que 87% de todas as espécies sofrem algum grau de ameaça em função do avanço das fronteiras agrícolas e das novas tecnologias utilizadas.

O Cerrado, como frisa o relatório, ocupa 21% do território brasileiro e abriga nada menos que 935 espécies de aves (das 9.856 que existem em todo o mundo). Mas a agricultura já o reduziu a menos da metade de seu tamanho original. E a demanda crescente por soja e cana-de-açúcar, está forçando ainda mais a fronteira.

– A transformação desses habitats é muito rápida – afirmou Iñigo. – Espécies que haviam aprendido a explorar zonas de cultivo não foram capazes de se adaptar às novas condições. Estamos falando de técnicas como o cultivo sob plástico.

A longo prazo, clima é ameaça séria

Os pássaros que vivem em áreas de intensa e desordenada ocupação também estão entre os mais ameaçados, caso do formigueiro-do-litoral (Formicivora littoralis), exclusivo de restingas do Rio de Janeiro, que se encontra entre as quatro espécies mais ameaçadas do mundo. O Brasil tem quase 40 espécies ameaçadas, o que o coloca em quarto lugar mundial em número total.

O relatório, o primeiro em quatro anos, sustenta que a situação global das quase 10 mil espécies existentes no mundo é, em alguma medida, preocupante.

Desde 1500, 153 espécies de aves foram extintas. E a degradação da biodiversidade está se acelerando. Somente nos últimos 25 anos do século XX, 18 espécies desaparecerem. E, segundo os especialistas, outras três foram extintas desde 2000 – uma delas, a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) da Caatinga brasileira, dada oficialmente como extinta na natureza em 2003.

O relatório revela diversas situações bastante críticas, como a da Europa, onde 45% das aves comuns estão em declínio. Na Austrália, as perdas populacionais representaram 81% nos últimos 25 anos. Na América do Norte, as populações de 20 espécies comuns de pássaros também registraram reduções significativas nos últimos 40 anos.

A contínua redução das populações de pássaros é, para os especialistas, um claro sinal da deterioração da biodiversidade em geral.

– Os pássaros oferecem um barômetro ambiental acurado e fácil de ler – comparou o chefe-executivo dos grupos que integram a Aliança para a Conservação, Mike Rands. – Eles nos permitem ver claramente as pressões que o nosso atual estilo de vida impõe à biodiversidade mundial.

As principais ameaças às populações de aves incluem a intensificação da agricultura em escala industrial, a disseminação de espécies invasoras, a extração de madeira e a substituição de florestas naturais por monoculturas.

Rands frisou que, a longo prazo, as mudanças climáticas em curso passarão a representar a mais séria ameaça às aves.

SAIBA MAIS SOBRE O ESTUDO
DISTRIBUIÇÃO DAS ESPÉCIES DE AVES NO MUNDO

Uma das aves em maior risco de extinção de toda a Terra tem como único refúgio uma das áreas do estado do Rio de Janeiro mais ameaçadas por invasões e especulação imobiliária. O com-com ou formigueiro-do-litoral (Formicivora littoralis) é a única ave exclusiva de restinga do Brasil.

Ele vive nos cada vez menores bosques à beira-mar e é encontrado somente na faixa que vai de Saquarema ao início de Búzios, em especial na Restinga de Massambaba. O passarinho, considerado uma das quatro espécies mais ameaçadas do mundo, tem cores discretas – tons de negro (macho) e marrom (fêmea) – e mede cerca de 12 cm.

[EcoDebate, 24/09/2008]