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Violência doméstica: As mulheres não gostam de homens ‘bonzinhos’? artigo de Lélia Barbosa de Sousa Sá

[EcoDebate] Em conversa com o meu filho, ele disse que as mulheres não gostam de homens “bonzinhos” e que somente as mães é que gostavam desse tipo de homem. Eu discordei e argumentei que não poderíamos generalizar, pois existem mulheres e “mulheres”. Retrucando, ele falou – Pode ser que na sua época as mulheres pensavam assim, porém as de agora gostam de homens que gritam, que batem e que sejam “malas”. Até as evangélicas que se dizem mulheres de Deus e tem sabedoria pensam e agem iguais às outras. A nossa conversa durou um bom tempo, sem chegarmos a um denominador comum.

Lembrei, então, de uma história interessante, contada por um amigo. Ele tinha um tio que ‘tomava todas’ e ao chegar em casa, quebrava tudo o que encontrava pela frente, além de bater na sua mulher. Depois, ia dormir, enquanto ela ficava arrumando a casa. Um dia, porém ela resolveu lhe fazer uma surpresa. Quando ele chegou em casa, ao abrir a porta, encontrou sua mulher quebrando todos os móveis e louças. O susto foi tão grande que o porre passou e, mais ainda, ele passou a temê-la e nunca mais chegou bêbado, nem quebrou nada.

í eu pergunto: porque os homens agem assim? Será porque eles chegam com a consciência pesada e a “melhor defesa é o ataque”? Ou para mostrar que são viris?Ou por machismo?Ou porque foram educados para agir dessa maneira? Essa atitude, além de trazer mais mágoas ao relacionamento, machuca e afasta, cada vez mais, a mulher, que já está cansada de tanto esperar, de tanto cuidar, de tanto sofrer e de tanto amar sem ser amada?

Seria tão mais fácil se os homens voltassem pra casa com uma rosa, pois “as rosas não falam, simplesmente as rosas exalam o perfume que roubam de ti”, como se expressou tão bem o compositor Cartola, ou tão somente envolvesse sua mulher com um abraço e um beijo. Tenho certeza de que ela iria preparar um café bem forte, tirar-lhe os sapatos e fazer um cafuné. Ah! Se os homens soubessem como é tão fácil e barato fazer uma mulher feliz. Ah! se os homens soubessem a força e o bem que faz uma rosa, um carinho e um abraço. Já dizia Isaac Newton, a toda ação corresponde uma reação que lhe é igual e contrária e com mesma intensidade. Ódio gera ódio. Amor gera Amor.

Chegar em casa e bater em alguém, não provoca apenas danos físicos, mas, e, principalmente, dados morais. A dor da alma é muito maior que a dor física, esta ameniza e passa, mas, aquela deixa feridas abertas que custam a cicatrizar ou nunca cicatrizam. Bater em alguém é um desatino. Bater é mudar o destino.

Costuma-se dizer que quando o marido bate na sua mulher e depois o casal faz as pazes, que fulana parece “mulher de malandro”, pois vive apanhando e não toma uma atitude, como enquadrar o companheiro na Lei Maria da Penha. Porque será que as mulheres permanecem, aparentemente, inertes diante da violência doméstica? Eu nunca sofri esse tipo de agressão, mas acredito que talvez o medo que essas mulheres sentem, a falta de apoio da família e até da segurança que o Estado deveria oferecer, neutralize toda e qualquer atitude que poderiam tomar, para dar o tão sonhado grito de liberdade.

Eu sei que não é fácil se libertar de um relacionamento sem o apoio necessário das instituições e da família. Pra que separar fisicamente se a sua liberdade é tolhida pelas constantes ameaças, diriam umas? Ou pra que separar ou acusar o companheiro, se depois de sofrerem a punição pela agressão, eles serão soltos e se tornarão mais violentos do que antes, porque agora, além do sentimento de raiva eles buscam a vingança.

Eu não acredito que uma mulher normal goste de ser usada, machucada, humilhada, maltratada e desrespeitada por um homem. Como, também, não acredito que um homem normal sinta prazer em usar, machucar, humilhar, maltratar e desrespeitar uma mulher.

Portanto, nós mulheres não gostamos é de homens “bobinhos”, porém se “bonzinhos” significar ter um bom coração, com certeza esses serão muito bem vindos na nossa vida.

Assim, eu diria ao meu filho e aos jovens da sua geração: Quem gosta de apanhar e ser tratada com aspereza é porque não conhece a sensação e o valor de um carinho, de um abraço e de um beijo na testa. Quem gosta de bater, nunca aprendeu a amar ou recebeu um carinho ou viveu um amor de verdade, embora faça até canções divulgando esse amor.

Às mulheres que não gostam dos homens de bom coração ou “bonzinhos”, eu diria que se querem viver o mais amplo sentido da vida, repensem a sua forma de amar e ser amada.

Ao Estado, que fomentasse políticas publicas voltada para a família e para a educação das nossas crianças, que serão os homens e mulheres de amanhã.

Lélia Barbosa de Sousa Sá, paraense, engenheira civil e ex-presidente do CREA-DF.

EcoDebate, 11/11/2010


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