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Artigo

Cacho de uva, artigo de Maurício Gomide Martins

Cacho de uva
Foto: SEAG/ES

[EcoDebate] O Nordeste do Estado de Minas Gerais, na bacia do Rio São Francisco, região pobre, possui ótimas terras para cultivo de fruticultura, o que vem sendo feito ultimamente. Ganha expressão econômica na região, com reflexos sociais, o cultivo de uvas de mesa, principalmente as do tipo Rubi e Itália. São produtos de ótima qualidade e boa apresentação.

Quando você, leitor, puser um belo cacho de uva sobre o prato e começar a saboreá-lo, apreciando tão belas excelências de sabor e perfume, marcantes características dos produtos da região, deverá saber que alguns passarinhos morreram em holocausto para que você pudesse usufruir desse sublime momento de prazer.


O custo de produção dessas uvas é um pouco mais elevado naquela região porque figuram investimentos dos fazendeiros em compras de espingardas, cartuchos e ordenados dos atiradores. A contratação de caçadores de passarinhos é necessária para que se possa preservar a incolumidade dos cachos de uva. Os extensos parreirais ficam, desde cedinho, sob vigilância de devotados vigias armados para que os malditos passarinhos não se alimentem daqueles frutos, desfigurando com falhas a normal conformação do produto, tão atrativo justamente pela regularidade de seus bagos

No início era mais fácil abater esses intrusos porque existiam em tal quantidade que formavam bandos compactos. Depois, tornou-se mais difícil a preservação do parreiral porque as aves famintas, por teimarem em existir, são menos numerosas e ocorrem com menos freqüência.

Mas o custeio dessa fruta vem dando bons resultados porque as despesas de abatimento dos passarinhos diminuíram, pois agora são poucos os passarinhos ainda existentes. Mas os guardas continuam vigilantes, pois o ideal econômico é quando não mais existir esse tipo de ameaça e cessar a necessidade de investimentos dessa ordem.

Na região paulista produtora de uvas de mesa, os fazendeiros não têm essa despesa extra, pois ali é um setor evoluído, adiantado, progressista, rico, porquanto não mais existem passarinhos.

É assim que o planeta vem sendo destruído. Cada um fazendo a sua parte. Primeiro o homem elimina os danosos passarinhos; depois o planeta elimina os danosos “homo sapiens”, que não possuem penas, mas isso não a impedirá de agir sem pena.

Bom proveito na degustação desse cacho de uva. Que ele lhe faça bem à sua saúde corporal e ao seu espírito.

Maurício Gomide Martins, 82 anos, ambientalista e colunista do EcoDebate, residente em Belo Horizonte(MG), depois de aposentado como auditor do Banco do Brasil, já escreveu três livros. Um de crônicas chamado “Crônicas Ezkizitaz”, onde perfila questões diversas sob uma óptica filosófica. O outro, intitulado “Nas Pegadas da Vida”, é um ensaio que constrói uma conjectura sobre a identidade da Vida. E o último, chamado “Agora ou Nunca Mais”, sob o gênero “romance de tese”, onde aborda a questão ambiental sob uma visão extremamente real e indica o único caminho a seguir para a salvação da humanidade.

EcoDebate, 06/07/2010

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4 thoughts on “Cacho de uva, artigo de Maurício Gomide Martins

  • Na chácara da família tínhamos um pomar com pêssegos, ameixas, caquis, mangas, goiabas, uvas… E passarinhos. Não perdíamos as frutas, nem matávamos os passarinhos. Envolvíamos cada fruta com um saquinho plástico de embalar leite, grampeado em volta do galho e furado em baixo para não acumular água. Assim preservávamos as frutas também dos insetos, sem poluir com pesticidas, a nossa saúde e a nossa consciência. Eram muitos os benefícios que conseguíamos com um pouco de trabalho a mais. E custava menos que caçadores, armamento e munição.

  • Não quero parecer arrogante e nem mal educado, porém me estranha tamanha falta de informação pela parte do senhor.
    Este seu texto informativo, ou melhor, defamatório para a viticultura brasileira (que já sofre muito com as dificuldades) é uma opinião de uma pessoa atrasada e que não conhece a realidade da viticultura em nosso país.
    Todos os viticultores sabem que os passáros são grandes aliados no controle de pragas e que não devem ser mortos.
    O senhor deveria se preocupar com as causas reais de morte de animais em nosso país, ou seja, desmatamento, queimadas, poluição e defensivos agrícolas e não tentar desestimular o consumo dessa fruta por um motivo irreal.
    Em nome dos viticultores, eu te peço para não defamar as uvas brasileiras e não publicar opiniões que o senhor não conhece realmente.
    Por fim, este site deveria “filtrar” os assuntos publicados e tornar-se mais confiável para os seus leitores, com opiniões que ilustram a realidade.

  • Maurício Gomide Martins

    Entendemos que o nobre Sr. Adilson deseja explicações sobre o assunto em foco, o que agora tentamos fazer com muito prazer. Primeiramente, esclarecemos que a alma do artigo – a intenção, a mensagem – constitui uma crítica ao sistema econômico imperante como um todo, em que o lucro se antepõe à Vida. O artigo é, na sua extensão, a oferta de uma visão filosófica sobre o equívoco estrutural da nossa civilização. A abordagem mostra apenas uma pequena faceta de como o mundo está funcionando. Não é opinião; é interpretação.
    Temos uma experiência rural de 20 anos, período em que ali residimos e aprendemos a entender a linguagem de sofrimento da Natureza. Não chegamos a ser viticultor, mas plantamos e cultivamos algumas parreiras para consumo próprio. Especificamente, no artigo referimo-nos ao município de Pirapora(MG), onde foi feito um documentário ambientalista por uma emissora de TV, há mais ou menos 3 anos, quando mostra o que descrevemos.
    Sabemos que a luta do viticultor é dura. Começa na florada, quando tem que desbastar as flores dos cachos com um pente especial, para livrar-se de mais de 50% das flores. Depois tem que se desfazer com uma tesoura das bagas pequenas ou imperfeitas. Sofre ataque de insetos e fungos, exigindo o emprego de defensivos químicos. E sofre, também, ataques de pássaros, principalmente o que é conhecido na região por melro. Citamos no artigo a região paulista porque tivemos ocasião de viajar de ônibus de Taubaté até Campinas e, por espírito de observação, não vimos nem um pássaro no percurso: nem urubu. E nós, que na meninice, víamos passarinhos por todos os cantos! Essas coisas fazem pensar e ensinam. A devastação da modernidade é grande.
    Entendo que o documentário citado possa ter sido uma exceção na viticultura daquele município, mas sou testemunha de que, na plantação de arroz os agricultores colocam Aldrin na semente para matar os angelicais melros. O mundo não tem lugar para os dois: ou o lucro ou a Vida.
    Sr. Adilson, não se julgue em culpa; todos nós somos culpados.

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