EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Artigo

Porque nos apaixonamos, artigo de Montserrat Martins

[EcoDebate] Vamos levar um bom tempo discutindo se a culpa foi do Felipe Melo, do Júlio César, do Dunga, da Globo, do juiz ou da Holanda, mas outro debate interesante seria sabermos porque nos apaixonamos por certas coisas, como no caso do futebol. Alguns falam que é pelos intereses comerciais no esporte como negócio, como se fosse uma resposta óbvia, quando na verdade para algo ser vendido é preciso que repercuta no nosso emocional, também. Tente vender algo sem interesse para os outros, por melhor vendedor que seja.


Para explicar porque nos alegramos ou sofremos numa Copa do Mundo podemos pensar nos fatores da psicología de massas, como a identidade social, o grupo ao qual pertencemos. Quem mora no sul do Brasil tem maior rivalidade com a Argentina ainda do que em outras partes do país, pelo menos foi o que percebi conversando com amigos cariocas, que chegam a estranhar a passionalidade com que “secamos” os “portenhos”. Aliás , já ouvimos de uruguaios também sentimentos de rivalidade semelhantes com estes mesmos vizinhos. Este fator emocional, assim, reproduziria aspectos competitivos de moradores um local (no caso, um país) contra outro. O que também pode explicar outras formas de rivalidade, entre diferentes grupos sociais que vivem em um mesmo local geográfico, mas separados por fatores socioeconómicos, por exemplo, coisas que também influenciam a simpatía por determinados clubes ao invés de outros.

Mas se poderia haver motivos concretos na origem de certas rivalidades, a partir de um certo ponto o envolvimento com o futebol se torna para alguns um apaixonamento simbólico que asume características exageradas, por fatores “virtuais” como no caso de se identificar com um time porque ele é azul ou vermelho e passar a se incomodar com as escolhas clubísticas dos outros. Estranho esse domínio da passionalidade sobre o simbolismo, quando despregado de qualquer causa de origem real, quer dizer, sem representar diferentes valores entre grupos sociais (exceto a preferência por uma cor, por exemplo). Sim, seguem havendo os que acreditam que tudo é estimulado por intereses comerciais, mas parece provável que a ordem causa-efeito seja ao contrário, quer dizer, com os negocios sendo feitos sobre uma base emocional que já existe na própria sociedade.

Por algum motivo biológico – dizem que o homem é um animal gregário, quer dizer, afeito a viver em sociedade – a chamada “identidade social” vem se mostrando cada vez mais importante no mundo de hoje, tanto quanto a identidade individual de cada um de nós. Queremos pertencer a um grupo, torcer por um país e por um time contra outro, queremos nos emocionar com vitórias ou derrotas. No fim, se paramos para pensar, ninguém sabe responder exatamente o que nos traz de concreto, para nossa vida, as vitórias ou derrotas pelas quais nos emocionamos. No caso de uma Copa do Mundo parece fazer sentido torcermos pelo nosso país, mas no cotidiano dos campeonatos de futebol fica difícil saber porque, afinal, as pessoas se importam tanto, além de própria vontade de se emocionar por fazer parte do grupo que escolheu.

Montserrat Martins, Psiquiatra, é colunista do EcoDebate.

EcoDebate, 06/07/2010

Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta utilizar o formulário abaixo. O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.

O EcoDebate não pratica SPAM e a exigência de confirmação do e-mail de origem visa evitar que seu e-mail seja incluído indevidamente por terceiros.

Participe do grupo Boletim diário EcoDebate
E-mail:
Visitar este grupo

Fechado para comentários.