Negacionistas do clima usam estética científica para enganar, revela estudo

Pesquisa analisou milhares de vídeos no YouTube e identificou estratégia que mistura linguagem técnica e produção profissional para disseminar desinformação.
Um novo estudo da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, revela uma tática sofisticada e preocupante usada por negacionistas das mudanças climáticas nas redes sociais: a apropriação da estética e da linguagem científica para conferir um ar de credibilidade a seus conteúdos.
A pesquisa, que analisou milhares de vídeos e comentários no YouTube, mostra que a estratégia vai muito além dos argumentos falhos, investindo pesadamente na aparência de ciência para enganar e influenciar o público leigo.
A estratégia da “embalagem científica”:
De acordo com a investigação, os criadores de conteúdo que negam a crise climática raramente se apresentam como antagonistas da ciência. Pelo contrário, eles se esforçam para parecerem científicos. Essa estratégia inclui:
-
Linguagem técnica e jargões: Uso frequente de termos como “dados”, “modelos”, “análise estatística” e “evidências”, muitas vezes descontextualizados, para simular um rigor que não possuem.
-
Elementos visuais profissionais: Gráficos, tabelas bem diagramadas e thumbnails (imagens de capa) que imitam as de palestras acadêmicas ou documentários científicos.
-
Credenciais falsas ou infladas: Apresentação de supostas qualificações ou “experiência em pesquisa” para construir autoridade perante a audiência.
-
Tom de “descoberta proibida”: Narrativa de que estão “revelando a verdade” que a “ciência mainstream” ou a “mídia corrupta” quer esconder, apelando para um sentimento de rebeldia e pensamento crítico supostamente superior.
Por que essa estratégia é eficaz?
O estudo explica que, para uma pessoa sem formação específica em climatologia ou metodologia científica, a distinção entre ciência real e a sua imitação pode ser extremamente difícil. A estética familiar de uma apresentação científica – com seus gráficos e linguagem técnica – atua como um atalho mental para a credibilidade. O público tende a confiar naquilo que se parece com ciência, tornando-se mais vulnerável ao conteúdo enganoso que está embalado nesse formato.
“Eles estão se tornando mais hábeis em usar a ‘‘embalagem’’ da ciência, enquanto minam seu conteúdo real”, explica uma das pesquisadoras envolvidas no estudo. “É uma estratégia de comunicação calculada para explorar a confiança que as pessoas depositam na ciência.”
As consequências: Polarização e paralisia
A pesquisa alerta que essa tática não serve apenas para semear dúvidas. Seu objetivo mais profundo é:
-
Confundir o público: A sobreposição entre a estética científica legítima e a falsa cria um ambiente de informação confuso, onde a verdade se torna nebulosa.
-
Reforçar câmaras de eco: O conteúdo, por parecer credível, é facilmente compartilhado dentro de bolhas ideológicas, reforçando convicções preexistentes sem um contraponto factual.
-
Paralisar a ação coletiva: Ao criar a impressão de que não há consenso científico – quando, na realidade, há esmagadora concordância sobre as mudanças climáticas causadas pelo homem –, essa estratégia contribui para a paralisia política e social na adoção de medidas urgentes.
Como se proteger da desinformação?
Diante desse cenário, os especialistas recomendam:
-
Verificar a fonte: Quem produziu o conteúdo? Quais são suas qualificações reais e afiliações institucionais?
-
Buscar o consenso: A ciência avança pelo consenso da comunidade acadêmica, e não por “um único estudo” ou a opinião de um “especialista” isolado em uma plataforma de vídeos. Procure por posições de instituições científicas renomadas.
-
Desconfiar de teorias da conspiração: Narrativas que alegam que milhares de cientistas em todo o mundo estão envolvidos em uma fraude global são altamente improváveis.
-
Cruzar Informações: Confirme as alegações em veículos de imprensa estabelecidos e em portais de instituições científicas de credibilidade.
Síntese: O estudo da Universidade de Gotemburgo expõe uma evolução perigosa na desinformação climática. A batalha já não é mais apenas sobre fatos versus mentiras, mas sobre a correta identificação de quem fala em nome da ciência.
Em uma era de abundância de informação, a capacidade de discernir a ciência genuína da sua imitação cuidadosamente elaborada tornou-se uma habilidade crítica para a cidadania.
Fonte: University of Gothenburg. “Climate deniers use online strategy: Using scientific aesthetics to appear credible.” [ https://www.gu.se/en/news/climate-deniers-online-strategy-using-scientific-aesthetics-to-appear-credible]
Referência:
Törnberg, A., & Törnberg, P. (2025). The aesthetics of climate misinformation: computational multimodal framing analysis with BERTopic and CLIP. Environmental Politics, 1–24. https://doi.org/10.1080/09644016.2025.2557684
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
[ Se você gostou desse artigo, deixe um comentário. Além disso, compartilhe esse post em suas redes sociais, assim você ajuda a socializar a informação socioambiental ]