EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Editorial

Vinte anos de resistência e esperança: O EcoDebate completa duas décadas online

 

ecodebate

Fundado em 2005 por Henrique Cortez e Regina Lima, o EcoDebate tornou-se referência nacional em divulgação científica sobre meio ambiente, sustentabilidade e justiça climática, resistindo às dificuldades financeiras e ao desinteresse pelo jornalismo ambiental brasileiro.

Por Henrique Cortez, jornalista e ambientalista, editor do portal EcoDebate

Em 1º de setembro de 2005, Regina Lima e eu lançávamos uma pequena iniciativa digital que mudaria nossas vidas para sempre: o portal EcoDebate.

Vinte anos depois, ao escrever estas linhas em setembro de 2025, sinto uma mistura de orgulho, gratidão e uma ponta de incredulidade. Como sobrevivemos?

Quando começamos, a internet brasileira ainda engatinhava, as redes sociais eram promessas distantes e o jornalismo ambiental ocupava um nicho ainda menor do que ocupa hoje. Éramos dois jornalistas movidos pela convicção de que era urgente criar um espaço para o debate socioambiental sério, plural e acessível. Não sabíamos que estávamos embarcando numa jornada que testaria, diariamente, nossa resistência e nossa fé no poder transformador da informação.

A coragem da persistência

Estes vinte anos não foram fáceis. Desde o primeiro dia, enfrentamos o que todo veículo independente de comunicação conhece bem: a escassez crônica de recursos financeiros. Não tínhamos anunciantes interessados em pautas climáticas, nem grupos econômicos dispostos a bancar um jornalismo que, por natureza, questiona o modelo de desenvolvimento predatório. Era – e ainda é – uma luta desigual contra a indiferença generalizada em relação ao jornalismo ambiental.

Mas persistimos. E persistimos porque acreditávamos – e continuamos acreditando – que havia espaço para um portal que tratasse com seriedade científica as grandes questões do nosso tempo: as mudanças climáticas, a crise da biodiversidade, a justiça socioambiental, a educação para a sustentabilidade. Queríamos ser uma ponte entre a academia e a sociedade, traduzindo pesquisas complexas em linguagem acessível, sem perder o rigor.

Uma família de vozes comprometidas

O que nos sustentou durante essas duas décadas foi a generosidade de centenas de colaboradores e articulistas que abraçaram nossa causa. Pesquisadores como José Eustáquio Diniz Alves, Reinaldo Dias e Luiz Marques encontraram no EcoDebate um espaço para compartilhar suas análises sobre demografia, colapso ambiental e políticas climáticas. Jornalistas, ativistas, educadores e cientistas de todo o país confiaram em nossa plataforma para divulgar seus estudos e reflexões.

Cada artigo publicado, cada análise compartilhada, cada denúncia veiculada foi um ato de resistência coletiva. Construímos, tijolo a tijolo, uma referência consolidada no jornalismo socioambiental brasileiro, marcada pela profundidade analítica, pela pluralidade de vozes e pelo compromisso inabalável com a divulgação científica.

Contra a corrente dos algoritmos

Nos últimos anos, enfrentamos um desafio adicional: o apagão digital promovido pelos algoritmos das grandes plataformas. Veículos como o EcoDebate, que produzem conteúdo crítico e educativo, foram sistematicamente silenciados em favor de conteúdos superficiais e sensacionalistas. É frustrante ver o alcance de nossas matérias diminuir não por falta de qualidade, mas por não se adequarem à lógica mercantil das redes sociais.

Mesmo assim, não desistimos. Continuamos produzindo nossos boletins diários, traduzindo estudos científicos, combatendo a desinformação climática e oferecendo uma plataforma independente para o debate socioambiental. Porque sabemos que, em tempos de crise climática e negacionismo, nossa função é mais vital do que nunca.

Vinte anos de impacto

Ao olhar para trás, vejo que o EcoDebate não apenas informou: formou, provocou e inspirou. Ajudamos a popularizar conceitos como limites planetários, justiça climática e transição energética. Denunciamos a degradação da biosfera quando ainda era tema marginal. Questionamos políticas públicas e modelos econômicos que perpetuam desigualdades ambientais. Mantivemos viva a consciência ambiental e o pensamento crítico quando muitos preferiam o silêncio confortável.

Regina e eu sabemos que chegamos até aqui graças ao apoio incondicional de nossa comunidade de leitores, colaboradores e parceiros. Vocês são os verdadeiros responsáveis por cada matéria publicada, por cada reflexão compartilhada, por cada pequena vitória na batalha pela informação de qualidade.

O futuro que construímos juntos

Vinte anos depois, o mundo enfrenta desafios ambientais ainda mais urgentes. As mudanças climáticas não são mais uma ameaça futura, mas uma realidade presente. A perda de biodiversidade acelerou. As desigualdades socioambientais se aprofundaram. E, paradoxalmente, nunca foi tão importante ter veículos independentes dispostos a enfrentar esses temas com a seriedade que merecem.

O EcoDebate chega aos seus vinte anos mais necessário do que nunca. Continuaremos sendo essa voz incômoda que questiona, essa plataforma que conecta ciência e cidadania, esse espaço de resistência e esperança. Porque, como aprendemos nessas duas décadas de jornada, a informação de qualidade é um bem público que não pode ser refém do mercado.

Obrigado, Regina, por ter embarcado comigo nessa aventura. Obrigado a todos os colaboradores que fizeram do EcoDebate sua casa. E obrigado aos leitores que, dia após dia, renovam nossa motivação para continuar.

O futuro do planeta depende de pessoas informadas e conscientes. E é para isso que continuaremos trabalhando, enquanto nos for possível.

Henrique Cortez é jornalista, ambientalista e editor do portal EcoDebate. Há mais de duas décadas dedica-se ao jornalismo socioambiental independente.

Citação
EcoDebate, . (2025). Vinte anos de resistência e esperança: O EcoDebate completa duas décadas online. EcoDebate. https://www.ecodebate.com.br/2025/09/01/vinte-anos-de-resistencia-e-esperanca-o-ecodebate-completa-duas-decadas-online/ (Acessado em setembro 1, 2025 at 02:21)

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

[ Se você gostou desse artigo, deixe um comentário. Além disso, compartilhe esse post em suas redes sociais, assim você ajuda a socializar a informação socioambiental ]

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O conteúdo do EcoDebate está sob licença Creative Commons, podendo ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, ao EcoDebate (link original) e, se for o caso, à fonte primária da informação