Migração negativa nos EUA pode reduzir a força de trabalho e a população
Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
A população dos Estados Unidos da América (EUA) tem apresentado crescimento populacional ao longo da sua história, devido ao crescimento vegetativo (nascimento – mortes) e ao influxo de imigrantes do resto do mundo.
A população americana era de 154 milhões de habitantes em 1950 e passou para 345 milhões em 2024. O número de nascimentos foi de 3,7 milhões de bebês em 1950, atingiu o pico de 4,2 milhões em 2007 e caiu para 3,6 milhões de bebês em 2024. No mesmo período, o número de óbitos foi de 1,5 milhão em 1950, de 2,5 milhões em 2007 e 3,05 milhões em 2024. O saldo migratório de 2024 foi de 1,3 milhão de pessoas em 2024. Com estes números, a população total do país cresceu em 1,9 milhão de pessoas entre 2023 e 2024.
Mas este quadro pode mudar em 2025 em função, principalmente, das políticas anti-imigratórias e de expulsão de imigrantes promovida pelo presidente Donald Trump. Segundo estimativas do Center for Disease Control and Prevention (CDC) o número de nascimentos nos EUA em 2025 deve ficar em torno de 3,6 milhões de bebês e o número de óbitos em torno de 3,2 milhões. O crescimento vegetativo ficaria em 400 mil pessoas, número pouco menor do que em 2024. Porém, o saldo migratório deve sofrer uma drástica mudança, podendo chegar a um saldo negativo em torno de 500 mil pessoas, conforme mostra o gráfico abaixo.
A lei “Big Beautiful Bill” do presidente Donald Trump, sancionada em 4 de julho, expandiu drasticamente o orçamento para centros de detenção de imigrantes e para o cumprimento das leis de deportação. Os EUA podem ver mais de 500.000 pessoas emigrarem do país como resultado da agressiva campanha de deportação do presidente Donald Trump, de acordo com um relatório recente de um centro conservador de políticas econômicas, o American Enterprise Institute (July 2025).
Com trabalhadores estrangeiros representando uma parcela desproporcional da força de trabalho americana, a redução da imigração impactará o crescimento da mão de obra e os gastos do consumidor nos EUA. Esses fatores podem levar a um impacto de até 0,4% no crescimento do PIB dos EUA.
As empresas já estão sentindo as consequências da imigração enfraquecida, com trabalhadores rurais se recusando a trabalhar por medo de batidas do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE). Asilos também estão lutando para atrair força de trabalho, já que o governo Trump revoga o status legal de alguns imigrantes e atrasa o processo de imigração para migrantes documentados.
Além da preocupação com a redução do ritmo de crescimento do PIB, os economistas alertam que, se os EUA deportassem 3.000 imigrantes indocumentados por dia durante um ano, a força de trabalho do país seria reduzida em 1 milhão de pessoas.
Reduzir a força de trabalho em 1 milhão reduzirá a taxa de participação em 0,4%, o que reduzirá a taxa de desemprego, diminuirá o crescimento do emprego e aumentará a inflação salarial, especialmente nos setores onde os imigrantes ilegais trabalham — construção, agricultura, lazer e hospitalidade. Ou seja, as deportações são um impulso estagflacionário para a economia, resultando em menor crescimento do emprego e maior inflação salarial.
O quadro de estagnação e inflação é agravado pelo tarifaço tresloucado de Donald Trump que está desorganizando as cadeias produtivas e tendo um impacto negativo nas taxas de crescimento econômico do país. O preço dos alimentos já está subindo e tende a subir mais ainda no segundo semestre de 2025.
Portanto, ao invés do “Make America Great Again” (MAGA), as políticas do governo Donald Trump podem estar provocando a redução da força de trabalho e o decrescimento populacional do país, com graves consequências sobre a economia e o bem-estar da população dos EUA.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
ALVES, JED. Baixa fecundidade nos EUA assusta os pronatalistas e conservadores, Ecodebate, 18/02/2021
ALVES, JED. O menor crescimento populacional nos EUA é uma boa notícia para o meio ambiente, Ecodebate, 07/02/2020 https://www.ecodebate.com.br/2020/02/07/o-menor-crescimento-populacional-nos-eua-e-uma-boa-noticia-para-o-meio-ambiente-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ALVES, JED. Os EUA tiveram a menor taxa de crescimento demográfico de todos os tempos, Ecodebate, 16/02/2022 https://www.ecodebate.com.br/2022/02/16/os-eua-tiveram-a-menor-taxa-de-crescimento-demografico-de-todos-os-tempos/
ALVES, JED. A população dos Estados Unidos deve começar a decrescer em 2081, Ecodebate, 24/11/2023
https://www.ecodebate.com.br/2023/11/24/a-populacao-dos-estados-unidos-deve-comecar-a-decrescer-em-2081/
Wendy Edelberg, Stan Veuger, and Tara Watson. Immigration Policy and Its Macroeconomic Effects in the Second Trump Administration, American Enterprise Institute, July 2025
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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