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Mudança climática afeta o plâncton e ameaça os ecossistemas marinhos e o clima

 

Mudanças climáticas alteram plâncton marinho, ameaçando cadeias alimentares, produção de oxigênio e segurança alimentar global. Entenda os impactos

O plâncton, responsável por 50% do oxigênio que respiramos, está sendo drasticamente afetado pelas mudanças climáticas, ameaçando a capacidade dos oceanos de regular o clima global

Mudanças climáticas alteram plâncton marinho, ameaçando cadeias alimentares, produção de oxigênio e segurança alimentar global. Entenda os impactos.

Por décadas, o plâncton permaneceu invisível aos olhos do público, mas sua importância para a vida no planeta é colossal. Agora, cientistas alertam que as mudanças climáticas estão transformando drasticamente essas comunidades microscópicas, desencadeando um efeito dominó que pode alterar fundamentalmente os ecossistemas marinhos e terrestres.

Quando pensamos em mudanças climáticas, geralmente imaginamos geleiras derretendo, furacões mais intensos ou secas prolongadas. Raramente consideramos os organismos microscópicos que flutuam nos oceanos, lagos e rios.

No entanto, essas minúsculas criaturas – conhecidas coletivamente como plâncton – são os verdadeiros motores da vida na Terra, e sua transformação sob o aquecimento global pode ter consequências devastadoras para todo o planeta.

A base invisível da vida

O plâncton é composto por dois grupos principais: o fitoplâncton (organismos vegetais microscópicos) e o zooplâncton (pequenos animais aquáticos). Juntos, eles formam a base de praticamente todas as teias alimentares aquáticas e desempenham um papel crucial na regulação do clima global.

O fitoplâncton é responsável por cerca de metade de todo o oxigênio que respiramos e captura enormes quantidades de dióxido de carbono da atmosfera, ajudando a regular o clima do planeta.”

O processo é elegante em sua simplicidade: o fitoplâncton realiza fotossíntese nas camadas superficiais dos oceanos, capturando CO2 e convertendo-o em matéria orgânica. Quando esses organismos morrem, muitos afundam para as profundezas oceânicas, levando consigo o carbono capturado – um fenômeno conhecido como “bomba biológica de carbono”.

O aquecimento muda o jogo

As mudanças climáticas estão alterando drasticamente este sistema delicadamente equilibrado. O aumento da temperatura dos oceanos e lagos não apenas afeta diretamente o metabolismo, crescimento e reprodução do plâncton, mas também transforma todo o ambiente aquático.

Dados de satélite dos últimos 20 anos já mostram mudanças visíveis na cor dos oceanos, especialmente nas regiões equatoriais, que estão se tornando mais verdes devido às alterações na distribuição das espécies de fitoplâncton. Paralelamente, observações de campo documentam um movimento das populações planctônicas em direção aos polos, seguindo as águas mais frias.

O aquecimento global está mudando os padrões de circulação oceânica, a disponibilidade de nutrientes, os ciclos de precipitação e até mesmo a acidez da água. Tudo isso impacta o plâncton.”

O efeito cascata

As consequências dessas mudanças vão muito além dos próprios organismos microscópicos. O plâncton está na base de uma complexa teia de interdependências que sustenta a vida marinha e terrestre.

Colapso das cadeias alimentares

Peixes pequenos como sardinhas e anchovas dependem diretamente do plâncton para sua alimentação. Quando as populações planctônicas se alteram – seja em quantidade, qualidade nutricional ou distribuição geográfica – esses peixes sofrem. Por sua vez, predadores maiores como atuns, salmões, baleias e aves marinhas enfrentam escassez de alimentos.

Alterações no sequestro de carbono

Talvez ainda mais preocupante seja o impacto no papel do plâncton como regulador climático. Mudanças na composição das comunidades planctônicas podem afetar drasticamente a capacidade dos oceanos de absorver CO2 da atmosfera.

Algumas espécies de fitoplâncton são mais eficientes que outras na captura de carbono. Se as mudanças climáticas favorecerem espécies menos eficazes, ou se alterarem os padrões de migração vertical que transportam carbono para as profundezas, a capacidade dos oceanos de mitigar as mudanças climáticas pode diminuir significativamente.

Impactos na ciclagem de nutrientes

O plâncton também desempenha um papel fundamental na distribuição de nutrientes essenciais através dos ecossistemas aquáticos. Suas migrações verticais diárias – algumas espécies sobem à superfície à noite para se alimentar e descem durante o dia – transportam nutrientes das profundezas para as camadas superficiais e vice-versa.

Alterações nestes padrões podem criar “desertos” nutricionais em algumas regiões e excesso em outras, afetando toda a produtividade dos ecossistemas aquáticos.

Sinais de alerta já visíveis

Os cientistas já identificam vários sinais preocupantes dessas transformações em curso:

Florações Tóxicas: O aquecimento e as mudanças nos padrões de nutrientes estão aumentando a frequência de florações de algas tóxicas, que podem causar mortalidade em massa de peixes e tornar a água imprópria para consumo humano.

Acidificação: O aumento do CO2 na atmosfera está tornando os oceanos mais ácidos, dificultando a formação de conchas e esqueletos por organismos planctônicos calcificantes, como foraminíferos e cocolitóforos.

Desoxigenação: Mudanças na circulação oceânica e no metabolismo planctônico estão criando “zonas mortas” com baixo oxigênio, onde poucos organismos conseguem sobreviver.

Consequências econômicas e sociais

O impacto dessas mudanças vai além da ecologia, afetando diretamente as sociedades humanas. A indústria pesqueira, que emprega milhões de pessoas globalmente, já enfrenta mudanças nos padrões de captura. Regiões tradicionalmente produtivas podem se tornar menos viáveis, enquanto outras podem emergir como novos centros pesqueiros.

A segurança alimentar também está em risco. O peixe é uma fonte crucial de proteína para bilhões de pessoas, especialmente em países em desenvolvimento. Alterações na produtividade dos oceanos podem agravar a insegurança alimentar global.

Além disso, o turismo costeiro e marinho, que depende de ecossistemas saudáveis, pode ser severamente impactado por mudanças na biodiversidade marinha e pela maior frequência de florações de algas tóxicas.

Um futuro incerto

Modelos climáticos preveem que essas tendências continuarão se intensificando ao longo do século XXI. Projeções indicam declínios significativos na biomassa planctônica em muitas regiões oceânicas até 2100, com consequências cascata para todo o sistema terrestre.

A urgência da ação

A situação do plâncton ilustra de forma dramática como as mudanças climáticas são um problema sistêmico, onde alterações aparentemente pequenas podem desencadear transformações massivas em todo o sistema terrestre.

A preservação das comunidades planctônicas não é apenas uma questão de conservação marinha – é fundamental para a estabilidade climática global, a segurança alimentar e o bem-estar humano. Como os próprios oceanos, o destino do plâncton e o nosso estão ligados.

O monitoramento contínuo dessas comunidades microscópicas e a compreensão de suas interações complexas com o sistema climático são essenciais para prever e potencialmente mitigar os impactos futuros das mudanças climáticas em nosso planeta.

Referência:

Grigoratou, Maria & Menden-deuer, Susanne & McQuatters-Gollop, Abigail & Arhonditsis, George & Artigas, Luis Felipe & Ayata, Sakina-Dorothée & Bedikoğlu, Dalida & Beisner, Beatrix & Chen, Bingzhang & Davies, Claire & Diarra, Lillian & Elegbeleye, Owoyemi & Everett, Jason & Garcia, Tatiane & Gentleman, Wendy & Gonçalves, Rodrigo & Guy-Haim, Tamar & Halfter, Svenja & Hinners, Jana & Richardson, Anthony. (2025). The immeasurable value of plankton to humanity. BioScience. 10.1093/biosci/biaf049.

Nota da Redação: Sobre o tema “Mudanças Climáticas e Ecossistemas Marinhos” sugerimos que leia, também:

Plâncton em crise = oceanos em colapso. O efeito dominó invisível das mudanças climáticas

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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