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Emergência Hídrica e Energética: O Impacto Ambiental dos Data Centers

 

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Imagem: Data Center Frontier

Descubra como os data centers da economia digital consomem milhões de litros de água diariamente e 1% da energia global, sobrecarregando recursos naturais essenciais e infraestruturas locais

Por Henrique Cortez

No coração pulsante da economia digital global, escondidos em imensos galpões climatizados, os data centers operam incessantemente, processando bilhões de dados por segundo. Enquanto desfrutamos da conveniência de armazenamento em nuvem, streaming de vídeos e inteligência artificial, poucos questionam o verdadeiro custo ambiental dessa infraestrutura tecnológica.

A realidade é preocupante: estes templos da informação estão se tornando vilões silenciosos na luta contra as mudanças climáticas e a escassez de recursos naturais.

E agora, no caso brasileiro, os impactos dos data centers pode crescer de forma exponencial, tendo em vista que, de acordo com matéria do G1 de 06/05/2025, o governo vai publicar MP para desonerar data centers de tributos, o que pode trazer data centers internacionais para o Brasil, colocando sob enorme pressão os nossos já críticos recursos hídricos e nossa infraestrutura de geração e distribuição de energia.

A fome energética dos gigantes digitais

Os data centers são verdadeiros glutões energéticos. De acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE), essas instalações já consomem aproximadamente 1% de toda a eletricidade gerada no mundo – número que deve duplicar até 2030 com o crescimento exponencial da digitalização e tecnologias como a IA generativa.

“Um único data center de grande porte pode consumir tanta eletricidade quanto uma cidade de porte médio”, explica Ana Carvalho, pesquisadora de sustentabilidade digital da Universidade de São Paulo. “Em países onde a matriz energética ainda depende fortemente de combustíveis fósseis, isso significa uma contribuição direta para o aumento das emissões de gases de efeito estufa.”

O problema não se limita apenas à quantidade de energia consumida, mas também à pressão que esses centros exercem sobre as infraestruturas de distribuição elétrica locais. Em áreas metropolitanas densamente povoadas, a instalação de data centers pode sobrecarregar redes elétricas já pressionadas, aumentando o risco de apagões e exigindo investimentos bilionários em modernização.

Água: o recurso invisível da economia digital

Se o consumo de energia dos data centers já é alarmante, seu apetite por água é igualmente preocupante e menos discutido. A água é fundamental para os sistemas de resfriamento destas instalações, que precisam manter temperaturas controladas para evitar o superaquecimento dos servidores.

“Um data center típico pode consumir entre 3 a 5 milhões de litros de água por dia, o equivalente ao consumo diário de uma cidade de 30.000 habitantes”, alerta Roberto Mendes, engenheiro especialista em eficiência hídrica. “Em regiões que já enfrentam estresse hídrico, como o Sudeste brasileiro, isso pode agravar significativamente a escassez de água potável.”

A competição por recursos hídricos entre data centers e comunidades locais já se tornou realidade em diversas regiões do planeta. Em Mesa, Arizona (EUA), moradores protestaram contra a instalação de um gigantesco complexo de data centers que, segundo projeções, consumiria bilhões de litros de água anualmente em uma região desértica já castigada pela seca.

O paradoxo da sustentabilidade digital

O crescimento desenfreado dos data centers coloca em xeque a própria sustentabilidade da revolução digital. Quanto mais avançamos em direção a uma economia baseada em dados, inteligência artificial e computação em nuvem, maior a necessidade de infraestrutura física consumidora de recursos.

“Vivemos um paradoxo: muitas tecnologias digitais prometem soluções para problemas ambientais, mas sua própria infraestrutura pode estar agravando esses mesmos problemas”, observa Carlos Martins, professor de estudos ambientais na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Em busca de soluções sustentáveis

Diante dessa realidade, empresas de tecnologia e governos começam a buscar alternativas mais sustentáveis. Gigantes como Google, Microsoft e Amazon têm anunciado metas ambiciosas para tornar suas operações neutras em carbono e mais eficientes no uso da água.

Inovações tecnológicas também oferecem esperança. Sistemas de resfriamento a ar, uso de água não potável ou reciclada, aproveitamento do calor residual e localização estratégica em regiões mais frias são algumas das soluções em implementação.

A pressão regulatória também aumenta. Na União Europeia, novas legislações exigem transparência quanto ao consumo de recursos e impacto ambiental dos data centers. No Brasil, ainda não se começou discutir normas específicas para limitar o consumo de água dessas instalações.

O caminho para uma infraestrutura digital sustentável

Especialistas concordam que a solução não passa por frear a revolução digital, mas por repensá-la de forma sustentável. “Precisamos de políticas públicas que incentivem a eficiência energética e hídrica, além de pesquisa em tecnologias mais limpas”, defende Martins.

Para os consumidores, a consciência sobre o impacto ambiental de suas escolhas digitais também é importante. Desde o streaming de vídeos em alta resolução até o armazenamento ilimitado de fotos e vídeos na nuvem, cada clique tem sua pegada ecológica.

“O futuro da computação sustentável dependerá de um equilíbrio delicado entre inovação tecnológica e responsabilidade ambiental”, conclui Carvalho. “Precisamos garantir que nossa crescente sede por dados não resulte em um planeta mais quente e mais seco para as próximas gerações.”

À medida que a economia digital continua a se expandir, o desafio de conciliar o crescimento tecnológico com a preservação ambiental torna-se cada vez mais urgente.

Os data centers, essas estruturas gigantescas e energívoras, simbolizam perfeitamente esse desafio: são simultaneamente pilares da modernidade digital e monumentos ao nosso crescente impacto sobre os recursos naturais do planeta.

O que você pode fazer

  • Questione a necessidade: Armazene apenas os dados realmente necessários na nuvem.
  • Utilize serviços com compromissos ambientais: Dê preferência a empresas de tecnologia com metas claras de sustentabilidade.
  • Apoie políticas públicas: Defenda regulamentações que exijam eficiência energética e hídrica nos data centers.
  • Reduza seu consumo digital: Streaming em menor resolução e exclusão regular de arquivos desnecessários contribuem para reduzir a demanda por processamento.

 

Henrique Cortez, jornalista e ambientalista. Editor do EcoDebate.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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