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Notícia

A dinâmica demográfica da Europa de 1950 a 2100

 

Com o decrescimento da população e o avanço da transição energética o déficit ambiental deve diminuir nas próximas décadas

Artigo de José Eustáquio Diniz Alves

A Divisão de População da ONU divulgou, no Dia Mundial de População, 11 de julho de 2024, as novas projeções demográficas para todos os países e regiões do mundo, já incorporando os efeitos da pandemia da covid-19 sobre a dinâmica populacional. Os novos números são fundamentais para se conhecer os cenários demográficos globais.

A população do planeta (em 1º de julho) era de 2,49 bilhões de habitantes em 1950, passou para 6,2 bilhões no ano 2000, deve atingir o pico populacional em 2084, com 10,3 bilhões de habitantes e diminuir ligeiramente para 10,2 bilhões de habitantes em 2100. A população global deve mais que quadruplicar em 150 anos. Mas todo este crescimento se deu de forma diferenciada.

O gráfico abaixo mostra que a Europa tinha uma população de 549 milhões de habitantes em 1950 (2,5 vezes a população da África), passou para 728 milhões no ano 2000, chegou ao pico de 750 milhões em 2020 e deve decrescer para 593 milhões de habitantes em 2100 (6,4 vezes menos do que a África em 2100). A Europa é o único continente que já experimenta um decrescimento demográfico da população total.

população total da Europa

 

A desaceleração do crescimento populacional é acompanhado pela mudança da estrutura etária. O gráfico abaixo mostra que o percentual de crianças e adolescentes (0-14 anos) estava acima de 25% nas décadas de 1950 e 1960, caiu para cerca de 16% na década passada e deve ficar em torno de 13% no final do século.

população com menos de 15 anos na Europa

 

A percentagem de pessoas em idade economicamente ativa (15-59 anos) estava abaixo de 60% nas décadas de 1960 e 1970 (quando a percentagem de jovens era alta) e subiu para o máximo de 64% na primeira década dos anos 2000. Isto quer dizer que a Europa chegou ao melhor momento do 1º bônus demográfico na década passada, com quase dois terços da população total em idade de trabalhar. A partir de 2020 a percentagem de pessoas de 15-59 anos vai cair e deve ficar abaixo de 50% em 2100. Ou seja, deve haver um encolhimento da força de trabalho europeia nas próximas 7 décadas.

população entre 15 e 60 anos na Europa

 

Enquanto caem as percentagens de jovens e adultos em idade de trabalhar, a percentagem de idosos de 60 anos e mais de idade deve subir rapidamente no restante do atual século. A percentagem de idosos da Europa estava em torno de 10% em meados do século passado, chegou atualmente em torno de 27% e deve atingir mais de 35% em 2100.

Evidentemente, o fim do 1º bônus demográfico traz desafios para a economia. Mas o continente pode contar com o 2º bônus demográfico (bônus da produtividade) e o 3º bônus demográfico (bônus da longevidade e da geração prateada).

população com mais de 60 anos na Europa

 

Em termos ambientais, a Global Footprint Network apresenta uma metodologia que viabiliza o cálculo da capacidade de carga, contabilizando o impacto humano sobre o meio ambiente e a disponibilidade de “capital natural” do mundo.

O gráfico abaixo, do Instituto Global Footprint Network, apresenta os valores da pegada ecológica global e da biocapacidade global de 1961 a 2019, com uma estimativa até 2022. A pegada ecológica serve para avaliar o impacto do ser humano sobre a biosfera. A biocapacidade, avalia o montante de terra, água e demais recursos biologicamente produtivos para prover bens e serviços do ecossistema, sendo equivalente à capacidade regenerativa da natureza. Ambas as medidas são representadas em hectares globais (gha).

Em 1961, a população europeia era de 612 milhões de habitantes e tinha uma biocapacidade de 753 milhões de gha e uma pegada ecológica de 1,58 bilhão de gha. Portanto, havia um déficit ambiental na Europa. O déficit vinha aumentando e a mudança ocorrida no início da década de 1990 se deve à incorporação da Rússia pós-soviética.

Em 2022, a pegada ecológica da Europa passou para 3,1 bilhões de gha e a biocapacidade ficou em 2,2 bilhões de gha. Isto significa que o déficit ambiental era de 900 milhões de gha ou um déficit relativo de 41%.

pegada ecológica e biocapacidade da Europa

 

Nos últimos anos a pegada ecológica da Europa está diminuindo. Com o decrescimento da população e o avanço da transição energética o déficit ambiental deve diminuir nas próximas décadas.

Mas um esforço adicional precisa ser realizado para que a Europa possa sair do déficit e conseguir criar um superávit ambiental para diminuir os efeitos da crise climática.

José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referências:

ALVES, JED. A ONU divulga os novos números da população mundial e brasileira, Ecodebate, 12/07/2024 https://www.ecodebate.com.br/2024/07/12/a-onu-divulga-os-novos-numeros-da-populacao-mundial-e-brasileira/

ALVES, JED. China busca a sustentabilidade com menos habitantes e mais energia renovável, Ecodebate, 15/07/2024 https://www.ecodebate.com.br/2024/07/15/china-busca-a-sustentabilidade-com-menos-habitantes-e-mais-energia-renovavel/

ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século XXI (com a colaboração de GALIZA, F), ENS, maio de 2022
https://prdapi.ens.edu.br/media/downloads/Livro_Demografia_e_Economia_digital_2.pdf

 
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
 

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