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Brasil não cumpre as metas propostas ao Acordo de Paris

 

floresta queimada

Brasil não cumpre as metas propostas ao Acordo de Paris

O Brasil vem aumentando suas emissões de gases de efeito estufa (GEE), ao invés de reduzi-las para cumprir as metas propostas no Acordo de Paris.

Por Isis Nóbile Diniz

Os dados – que foram apresentados na quarta-feira (9), no espaço Brazil Climate Action Hub da Cop27 – indicam que as emissões líquidas avançaram 21,4% nos últimos sete anos, saltando de 1.446 milhões de toneladas (MtCO2e) em 2015 para 1.756 MtCO2e em 2021. A meta é que o Brasil chegue a 2025 emitindo 1.614 MtCO2e e a 2030 com 1.281 MtCO2e.

“O nosso compromisso em relação à Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC) era reduzir entre 36-38% das emissões em 2020 em relação à projeção que foi realizada em 2010. Isso dava uma meta bem alta de, no máximo, 2.068 MtCO2e (GWP-AR2) em 2020, mas ficamos na marca. No entanto, em 2021, as nossas emissões foram bem maiores do que a nossa meta de 2020. Nós simplesmente ‘estouramos’ a meta do PNMC”, ressaltou Tasso Azevedo, coordenador do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases do Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima.

Já em relação ao Acordo de Paris, Azevedo pontuou que o país terá que reduzir 37% das suas emissões líquidas em 2025, e 50% até 2030 em relação a 2005. Isso representa uma meta de emitir, no máximo, 1.614 MtCO2e em 2025, e 1.281 MtCO2e em 2030.

“Hoje estamos em 1.756 MtCO2e (GWP-AR5), tendo que chegar em 1.614 MtCO2e em 2025, ou seja, neste momento o Brasil está se distanciando da meta de 2025. E para 2030 estamos mais distantes ainda, com quase 500 MtCO2e a mais do que devemos alcançar. Isso significa que precisamos fazer um esforço importante agora para conseguir chegar em 2030 com 1.3 bilhões de toneladas”, alertou o coordenador do SEEG.

Para alcançar as metas acordadas, os principais desafios do país – de acordo com os especialistas presentes na apresentação – serão reduzir o desmatamento e as emissões de metano (CH4) na atmosfera, além de aplicar as técnicas de agropecuária de baixo carbono.

“Pela primeira vez, observamos uma leve queda na emissão no setor de resíduos, o que é um indicativo de uma implantação de política de saneamento em progresso, principalmente com a recuperação de metano dos aterros sanitários. E isso indica que estamos consolidando essa visão de que os resíduos de metano são uma boa alternativa de recursos, aproveitando o gás para gerar energia e evitar a sua liberação direta na atmosfera”, comemorou o gerente de projetos do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), David Tsai.

A diretora-executiva do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), Marina Piatto, e a diretora de ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Ane Alencar, também participaram do debate “A década perdida das emissões brasileiras: o que revelam dez anos de estimativas anuais feitas pela sociedade civil”. O debate está disponível no link: https://www.brazilclimatehub.org/a-decada-perdida-das-emissoes-brasileiras-o-que-revelam-10-anos-de-estimativas-anuais-feitas-pela-sociedade-civil-v/.

Brasil é o 5º país maior emissor de gases de efeito estufa do mundo

Em 2021, as emissões brutas brasileiras alcançaram 2,4 giga (bilhões) de toneladas de carbono equivalente. Quando são descontadas as remoções, empregando as regras utilizadas pelo Brasil, o valor vai para 1,8 bilhões de toneladas de CO2e (dióxido de carbono equivalente). “Praticamente metade das nossas emissões vêm de mudanças de uso da terra, onde obviamente o destaque é o desmatamento. O segundo setor que mais emite CO2e é a agropecuária, seguido pelo setor de energia, pelos processos industriais e, por fim, pelo segmento de resíduos. Tudo o que está relacionado com o uso da terra, que é a mudança do uso da terra e a agropecuária, responde por quase 75%, ou seja, três quartos das nossas emissões”, explicou Azevedo. Historicamente, o uso da terra foi o principal responsável pelas emissões de gases de efeito estufa no Brasil.

Esse cenário faz do Brasil o quinto país maior emissor de gases de efeito estufa do mundo, depois da China, dos Estados Unidos, da Índia e da Rússia. A diferença, pontuou Azevedo, é que nos demais países citados, três quartos das emissões estão relacionadas à queima de combustíveis fósseis.

Na comparação das emissões de 2020 para 2021, o Brasil teve um aumento de 12% nas emissões, o que é bastante preocupante entre os especialistas. E dentro desse cenário, um dos pontos que mais chama a atenção é o aumento dessas emissões ter acontecido em praticamente todos os setores, exceto no tratamento de resíduos, neste caso, pela primeira vez na história do país.

Os aumentos na emissão de GEE aconteceram na agropecuária (3,8%), nos processos industriais (8%), na energia (12%) e nas mudanças do uso da terra devido, principalmente, ao desmatamento (18%). “Atualmente, as emissões brutas (sem considerar remoções) per capita no Brasil são de 11 toneladas por habitante. Em termos de emissões líquidas (descontando as remoções), são oito toneladas por habitante, valor maior do que a média global – de 6,7 toneladas por habitante. Estamos no mesmo nível que a China, metade dos Estados Unidos e o dobro da Índia”, contextualizou Azevedo.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

 

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