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A poluição visual dos ambientes reais e virtuais

 

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A poluição visual dos ambientes reais e virtuais, artigo de Berenice Gehlen Adams

Estamos rodeados por diversos tipos de poluição, em praticamente todos os ambientes, porém, tem um deles pouco falado que é o da poluição visual.

Uma pesquisa realizada pelo acadêmico Luciano H. Ferreto assinala que a poluição visual ocorre quando uma paisagem qualquer está comprometida, e quando o excesso de informações visuais se interpõe a paisagem urbana, o que leva a uma perda de referenciais, desencadeando nas pessoas uma sensação de desconforto e insegurança.

Segundo Clara Ribeiro, jornalista e redatora da área da educação, a poluição visual está, principalmente, nos centros urbanos, sobretudo em placas, outdoors, banners, faixas, automóveis, pichações, fios elétricos, acúmulo de lixo. Para ela, estas informações excessivas levam os cidadãos a um enorme desconforto visual, afetando a sua qualidade de vida, e colaboram com a desarmonia estética dos centros urbanos. 

Embora seja um problema preocupante, a poluição visual é um tema renegado a segundo plano, justamente por que as suas consequências não são tão evidentes. O Portal de informações ambientais: Ambiente Brasil alerta que a poluição visual promove diversos males à saúde, pois agride a sensibilidade humana, influencia a mente e afeta as pessoas psicologicamente.

Issao Minami, arquiteto, urbanista, professor doutor da FAU-USP e professor titular da UniABC destaca que a mensagem publicitária modifica a paisagem, bem como o seu usuário. A iluminação também contribui para a modificação das paisagens urbanas, uma vez que, conforme Minami, a visão diurna tem uma imagem completamente diferente na visão noturna e que detalhes marcantes ficam mais visíveis em determinadas horas, como por exemplo, o efeito da luz néon [muito utilizada em grandes anúncios] transformando a paisagem.

Além disso, o indivíduo acaba com a sua cidadania afetada, pois é um agente que atua diretamente na dinâmica da cidade, mas é passivo em relação aos agentes visuais. Assim, segundo Naime, articulista do Portal EcoDebate, a pessoa se transforma em um espectador fascinado, ou num consumidor sem capacidade crítica – ambos sendo envolvidos na efemeridade causada pelos fenômenos de massa.

A poluição visual advém, principalmente, de anúncios para incentivar o consumo. É o que aponta matéria do Portal Ecycle. O excesso de anúncios publicitários, além de promover a poluição visual, é um incentivo ao consumo – também – excessivo e desnecessário, gerando problemas como obesidade, alcoolismo, além do aumento de geração de resíduos.

Outro aspecto que deve ser ressaltado é sobre a legislação referente à poluição visual. Plínio Antônio Britto Gentil, que é procurador de Justiça de SP, doutor em Direito Processual Penal pela PUC/SP, professor universitário, em artigo publicado – cujo título é Poluição visual é crime -, salienta não haver dúvidas de que a profusão de anúncios visuais no espaço urbano, devastando a paisagem para atender interesses estritamente particulares, configura uma espécie de poluição, ofensa ao bem-estar da população à qual é hora de as autoridades incumbidas da persecução penal atentarem – e agirem.

Ainda tratando do ponto de vista da legislação ambiental, o enquadramento legal da poluição visual está implícito na Política Nacional do Meio Ambiente, a Lei 6.938/81, especificamente no Artigo III, na alínea “d”, que define poluição como sendo: – alteração adversa das qualidades estéticas do meio ambiente; conforme afirma o professor Tiago Zapater, do canal Escola de Direito.

Com o desenvolvimento tecnológico, a poluição visual ganha – de presente – outro espaço para se articular, que é o ambiente virtual.

Embora sobre este assunto também haja pouco estudo, é notório que a poluição visual no ambiente virtual é bastante desagradável. Raramente pode-se ler um texto – em renomados portais – sem que, de repende, salte uma propaganda, ou quando se rola um texto, entre cada parágrafo, apareça do nada uma peça publicitária. Sobre isto, o cientista social Leandro C. Branco indica que nos websites de comércio eletrônico [assim como em outros que disseminam informações gerais], a poluição visual aparece com a utilização inadequada de banners, interstícios e pela repetição de uma mesma informação na página, o que dificulta a navegação.

Certamente as novas gerações, que têm uma familiaridade maior com o ambiente virtual desde mais jovens, não se sentem tão desconfortáveis pela interferência de anúncios que saltam nas entrelinhas das informações, porém, pode ocorrer que os textos não sejam lidos na íntegra, o que compromete a compreensão da informação.

Fato é que a poluição visual, tanto real quanto virtual, é um problema que se acentua a cada dia. Os efeitos desta poluição no ambiente real são nítidos e perceptíveis quando saímos de um grande centro urbano e nos deslocamos para ambientes mais arejados e “limpos”, onde nada “rouba” dos nossos olhos o esplendor de uma paisagem, seja ela natural ou urbana; bem como quando navegamos pela Internet e conseguimos ler um texto inteiro, sem que pule ou se encaixe, entra cada parágrafo, uma propaganda que, além de chamativa, às vezes é sonora e desestabiliza a atenção necessária que temos que ter no ato de ler.

Por fim, este é mais um tipo de poluição promovido pelo afã das grandes marcas e potências econômicas para chamarem o máximo da atenção dos cidadãos – possíveis consumidores – para seus produtos, que descaracteriza a paisagem dos centros urbanos, e segue livre e solto pela Internet que se encontra repleta de propagandas, por vezes absurdamente desproporcionais e coloridas. 

Convém dedicarmos mais atenção a esta questão, em busca de um equilíbrio, diminuindo a contaminação da nossa atenção e percepção pelo excesso de estímulos que a poluição visual promove.

Fontes:

BRANCO, L. C. Poluição visual e dificuldade de navegação. Disponível em: https://bityli.com/yBpOTZ

DIAS, M. Consumismo e publicidade excessiva na internet. Disponível em: https://bityli.com/gElmtl

FERRETO, L. H. Poluição Visual Urbana – Breve Análise sobre interferência da publicidade e a qualidade visual da Avenida Venâncio Aires e Prefeitura de São Paulo: Lei Nº14.223 – Cidade Limpa Uma São Paulo melhor pra gente! UFRGS.  Disponível em: https://bityli.com/krYAd

GENTIL, P. A. B. Poluição visual é crime. Disponível em: https://bityli.com/cVngqg

MINANI, Issao. Paisagem urbana de São Paulo. Publicidade externa e visual. Disponível em: https://bityli.com/djMfKm

NAIME, R. Sobre poluição visual. EcoDebate. Disponível em: https://bityli.com/LuaWCn

Portal Ambiente Brasil. Poluição visual urbana. Disponível em: https://bitlybr.com/uwrU9f

Portal Ecycle. Poluição visual causa vários tipos de danos que podem estressar e prejudicar a atenção. Disponível em: https://bityli.com/UAKxnY

RIBEIRO, C. Entenda o conceito de ‘poluição visual’. Disponível em: https://bitlybr.com/TaJTiN

ZAPATER, T. Poluição sonora e poluição visual (Vídeo aula) – Canal Escola de Direito. Disponível em: https://bityli.com/jQjin

* Berenice Gehlen Adams – Pedagoga, especialista em Educação Ambiental, editora responsável da revista Educação Ambiental em Ação,: www.revistaea.org, diretora da Apoema Cultura Ambiental: www.apoema.com.br .

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

 

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