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Estudo revela que bitucas de cigarro liberam substâncias tóxicas em praias e no oceano

 

Lixo vindo do mar
Lixo vindo do mar coletado na areia da praia de Botafogo, RJ. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Estudo revela que bitucas de cigarro liberam substâncias tóxicas em praias e no oceano

Análise comprovou alta incidência do lixo tóxico nas praias de Santos (SP)

Não é novidade que a bituca de cigarro é um resíduo que se configura entre os maiores contaminantes dos oceanos. De acordo com um relatório da ONG Cigarette Butt Pollution, de 2018, ao longo de 32 anos o item foi o mais coletado nas praias em todo o mundo, somando aproximadamente 60 milhões de unidades.

Um estudo inédito do Instituto do Mar, da Universidade Federal de São Paulo (IMar/Unifesp) – Campus Baixada Santista, publicado no periódico científico Waste Management , identificou a ocorrência e analisou a toxicidade das bitucas de cigarros nas praias de Santos (SP).

Os resultados comprovam que esses filtros representam um risco potencial aos ambientes onde são descartados e, por isso, os pesquisadores concluem que a adoção de políticas públicas que visem minimizar esse problema é fundamental.

Passo a passo

O trabalho foi publicado pela pesquisadora Christiane Freire Lima, aluna de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Ecologia Marinha e Costeira, do IMar/Unifesp. Com a orientação principal do docente e vice-diretor do instituto, Prof. Ítalo Braga Castro, o estudo foi conduzido a partir da preocupação com o descarte inadequado de lixo no mar em Santos e seus impactos sociais, econômicos e ambientais.

A pesquisa se dividiu em três grandes etapas:

Primeira etapa – O passo inicial foi constatar a ocorrência de bitucas de cigarro nas praias de Santos. A operação foi realizada por meio de mutirões de limpeza em parceria com ONGs. Após contabilizar a quantidade de lixo recolhido, os pesquisadores identificaram que as bitucas estão em primeiro e segundo lugares entre os itens mais encontrados na praia – representando 51% e 34% do lixo nas coletas de verão e inverno, respectivamente.

Segunda etapa – O passo subsequente consistiu em caracterizar as bitucas que foram encontradas. Para tanto, o grupo identificou as marcas de cigarro mais frequentemente descartadas nas praias. Este passo foi fundamental para entender que empresas seriam eventualmente responsáveis por esse tipo de contaminação. Essas informações do estudo podem contribuir para a implantação de uma política de logística reversa.

Terceira etapa – Na etapa final, foram realizados os estudos laboratoriais de sedimentação. Nesse processo, foi possível verificar o tempo de permanência das bitucas na coluna d’água: ou seja, se os resíduos, quando caem no mar, permanecem na água ou afundam para os sedimentos no fundo do oceano. A análise foi feita através de experimentos, usando provetas contendo água do mar em diferentes condições (agitação ou estático). Foi verificado que, em média, a partir do terceiro dia, as bitucas deixam de flutuar e atingem o fundo do mar, portanto contaminando também os sedimentos.

“Essa etapa foi importante para entender que as bitucas liberam substâncias tóxicas tanto para a água quanto para os sedimentos do fundo, e, desse modo, os resultados confirmaram a necessidade de aplicação dos ensaios ecotoxicológicos nos dois compartimentos do ambiente”, explica o vice-diretor do IMar.

Políticas públicas

Ainda segundo Castro, os resultados da pesquisa demonstraram que a bituca de cigarro é um problema sério, que leva a muitos compostos químicos perigosos ao ambiente e que podem matar ou causar danos reprodutivos graves nos organismos aquáticos – tanto para os habitantes da água quanto para os que vivem enterrados nos sedimentos do mar.

“É importante ressaltar que o cigarro tem mais de sete mil substâncias tóxicas. Quando ocorre o ato de fumar, muitas dessas substâncias ficam retidas nas bitucas que, ao serem lançadas no ambiente, funcionam como verdadeiras bombas químicas com várias substâncias perigosas retidas naquele filtro, e que acabam sendo liberadas e contaminando o ambiente”, complementa o professor.

Os cientistas ressaltam que mais estudos para compreender outros aspectos do comportamento de bitucas em diferentes compartimentos ambientais, bem como ensaios ecotoxicológicos que envolvam outros grupos tróficos, são recomendados e ajudarão a fornecer informações de amparo a políticas públicas em relação a produtos derivados do tabaco. Por isso, os próximos passos devem estudar a toxicidade das bitucas, sobre outros grupos de organismo e sobre outras condições ambientais – como, por exemplo, em água doce e no solo.

Referência:

Christiane Freire Lima, Mariana Amaral dos Santos Pinto, Rodrigo Brasil Choueri, Lucas Buruaem Moreira, Ítalo Braga Castro,
Occurrence, characterization, partition, and toxicity of cigarette butts in a highly urbanized coastal area,
Waste Management, Volume 131, 2021, Pages 10-19, ISSN 0956-053X,
https://doi.org/10.1016/j.wasman.2021.05.029

 

Fonte: Instituto do Mar, da Universidade Federal de São Paulo (IMar/Unifesp)

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/07/2021

 

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