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Não há transição ecológica sem a consciência como comunidade

 

Não há transição ecológica sem a consciência como comunidade

Transição ecológica. Duas palavras não bastam. Artigo de Carlo Petrini

IHU

“A lista é longa, mas o conceito é simples: não há transição ecológica sem a consciência, como comunidade, de que é necessária uma verdadeira transição. A tecnologia será fundamental para acompanhar este percurso, mas não nos dará todas as respostas. Se os cidadãos não sabem que projeto está por trás das palavras que lhes são apresentadas, essas palavras perdem o sentido juntamente com o projeto que gostariam de representar”, escreve Carlo Petrini, fundador do Slow Food, ativista e gastrônomo, sociólogo e autor do livro Terrafutura (Giunti e Slow Food Editore), no qual relata suas conversas com o Papa Francisco sobre a “ecologia integral” e o destino do planeta, em artigo publicado por La Repubblica, 12-04-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

Um espectro percorre a Europa: o espectro da transição ecológica. Há alguns meses, essas duas palavras começaram a acompanhar nossa vida diária. O acordo verde europeu as introduziu entre as prioridades do plano de desenvolvimento da UE para os próximos anos e, na Itália, até dedicamos um novo ministério a elas. Como se disséssemos que a saída do atoleiro de um modelo de desenvolvimento sufocante e destrutivo foi finalmente encontrada em um feliz binômio. No entanto, como diria Nanni Moretti em uma das cenas de maior sucesso do cinema italiano, “as palavras são importantes” e para isso deveriam ser usadas com cuidado.

Transição indica algo que muda radicalmente, que passa de uma condição a outra em uma transformação decisiva. É uma transição a passagem da adolescência para a idade adulta, a passagem da Idade Média para o Renascimento, o percurso de quem decide mudar de sexo. Situações fortes. Ecológica, por outro lado, indica a referência à esfera da relação entre um ser vivo e seu ambiente natural, a forma como uma espécie se adapta e prospera em seu habitat.

A própria necessidade de uma transição ecológica, portanto, expressa inequivocamente a urgência de uma inversão na forma como nós, seres humanos, habitamos o planeta.

Na Itália, no momento, poucos parecem estar se esforçando para identificar soluções práticas para concretizar essa revolução, mesmo que o primeiro esboço do plano de trabalho para o Plano de Recuperação tenha um capítulo intitulado “revolução verde e transição ecológica” dentro do qual se passa da agricultura sustentável à economia circular através da eficiência energética e da mobilidade, que também é sustentável.

Vamos esclarecer: o fato de conceitos cruciais como estes terem entrado na linguagem corrente e nos documentos oficiais que marcarão os planos de desenvolvimento do continente para os próximos anos deve ser saudado como um sinal positivo e encorajador. Finalmente, até mesmo a agenda política parece ter percebido que o atual impacto ambiental do homem no planeta Terra não pode ser prolongado indefinidamente, sob pena de extinção.

No entanto, permitimo-nos levantar uma dúvida. Quando o Ministério de Transição Ecológica nasceu, talvez alguém se tenha esquecido de explicar o que realmente era seu sentido. O temor é ver repetida a parábola da “sustentabilidade”, que deixou de ser um conceito explosivo, que questionava e colocava em discussão o nosso mundo, para se tornar um termo bom para todas as ocasiões e para todos os usos, principalmente para o marketing empresarial.

A transição ecológica não é uma corrida pelo avanço tecnológico que nos permite construir SUVs elétricos, incinerar resíduos com mais eficiência ou produzir carne in vitro. Fazer uma transição significa entender que o carro não é a melhor maneira de viajar, sozinhos, na cidade.

Que os resíduos deveriam ser prevenidos, reduzindo embalagens e compras desnecessárias. Que se pode consumir menos carne, mas de melhor qualidade para acabar com a criação intensiva. Que é possível fazer uma agricultura eficiente de proximidade sem depender de química pesada. Que o turismo não tem necessariamente de estar associado à desertificação urbana, à expulsão dos residentes e ao crescimento exponencial dos aluguéis a curtíssimo prazo.

A lista é longa, mas o conceito é simples: não há transição ecológica sem a consciência, como comunidade, de que é necessária uma verdadeira transição. A tecnologia será fundamental para acompanhar este percurso, mas não nos dará todas as respostas. Se os cidadãos não sabem que projeto está por trás das palavras que lhes são apresentadas, essas palavras perdem o sentido juntamente com o projeto que gostariam de representar. Teria sido bom ver florescer um debate nacional sobre o que devemos esperar daqui a vinte anos, sobre como podemos imaginar nossas cidades, nossos campos, nossas casas, nossos empregos, nossos lazeres.

A transição ecológica é uma mudança radical e, como tal, requer o envolvimento consciente de quem deve internalizá-la e implementá-la. Nenhuma mudança radical ocorre sem massa crítica e, acima de tudo, sem um alegre impulso revolucionário.

Felizmente, para abrir este grande debate, nunca é tarde demais.

(EcoDebate, 14/04/2021) publicado pela IHU On-line, parceira editorial da revista eletrônica EcoDebate na socialização da informação.

[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

 

[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate com link e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

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