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Lições e oportunidades perdidas para o meio ambiente no 2020 do Covid

 

Lições e oportunidades perdidas para o meio ambiente no 2020 do Covid

“Se em 2021 os líderes políticos da comunidade internacional aprenderem com a lição de 2020, uma crise global, aquela do coronavírus, poderia servir para reduzir ou resolver outra, a do aquecimento do planeta”, escreve Enrico Franceschini, em artigo publicado por La Repubblica, 30-12-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.

IHU

Eis o artigo.

O lockdown global causado pelo Covid foi uma oportunidade perdida de nos salvar das mudanças climáticas?

Quem faz a pergunta é o The Guardian, em um longo artigo publicado no dia 30 em sua página inicial. A resposta é sim e não, ou melhor: depende. Nos dois ou três meses da última primavera do hemisfério norte, quando as cidades se esvaziaram e a atividade humana desacelerou como nunca antes desde a Segunda Guerra Mundial, os benefícios para a Terra rapidamente se tornaram evidentes: ar menos poluído, águas mais límpidas, a natureza capaz de recuperar espaços. Mas quando as pessoas saíram de suas casas e o trabalho foi retomado, esses progressos foram rapidamente eliminados. Porém, se em 2021 os líderes políticos da comunidade internacional aprenderem com a lição de 2020, uma crise global, aquela do coronavírus, poderia servir para reduzir ou resolver outra, a do aquecimento do planeta.

O experimento involuntário

Os cientistas definiram o lockdown como “um experimento involuntário”. Durante a primavera do hemisfério setentrional, quando as restrições impostas pela pandemia atingiram o auge, os efeitos da presença humana caíram a um nível que não era visto há décadas. Os voos aéreos diminuíram 90 por cento. O tráfego nas estradas se reduziu pela metade. As emissões de gases nocivos na China, a maior fonte de dióxido de carbono na atmosfera, caíram em um quinto. Os sismólogos conseguiram até detectar um nível inferior de vibrações do chamado “ruído cultural” produzido pela população mundial: como se o silêncio tivesse caído na Terra, ou melhor, apenas seu som natural tivesse voltado a ser ouvido.

De Katmandu à Veneza

Embora breve, a pausa na laboriosidade e no movimento dos seres humanos produziu efeitos imediatos em todos os lugares. Os residentes de Katmandu, no Nepal, ficaram admirados com a visão do Monte Everest pela primeira vez em cinquenta anos. Nas redes sociais, vimos imagens incríveis de coiotes na ponte Golden Gate de São Francisco, javalis nos arredores de Barcelona e gamos não muito longe da Casa Branca em Washington. À lista mencionada pelo jornal londrino poderíamos acrescentar, no que diz respeito à Itália, as águas dos canais de Veneza que se tornaram cristalinas e cheias de peixes, ou o avistamento de um veado na praia perto de Roma de Cesenatico.

A natureza havia começado a recuperar seu território. E o mundo estava se limpando: globalmente, as emissões nocivas registraram uma queda de 7%, a maior queda desde que essas estatísticas começaram a ser realizadas. A mudança foi claramente visível do espaço, onde os satélites fotografaram uma redução evidente da poluição nos cinturões industriais, de Wuhan na China a Torino na Itália. Oferecendo, inclusive, um alívio mínimo às vítimas da Covid, houve 11.000 mortes a menos na Europa com base em projeções de mortes por doenças respiratórias relacionadas à poluição.

Tudo como antes

Mas os progressos tiveram vida curta, relata o The Guardian. Assim que o primeiro lockdown terminou, o tráfego começou a crescer novamente e a poluição do ar seguiu o mesmo ritmo. Uma pesquisa em 50 cidades britânicas mostrou que, em 80% dos casos, os níveis de poluição do ar voltaram ao mesmo nível ou piores do que antes da pandemia. Avistamentos de montanhas distantes desapareceram na névoa da poluição. Os animais silvestres voltaram a se esconder. E o relatório anual da ONU considerou o impacto do lockdown sobre as emissões nocivas como “insignificante”, equivalente a uma diferença de apenas 0,01% entre agora e 2030.

Fazendo as pazes com a natureza

Uma oportunidade perdida, então? Sim, embora obviamente o prolongamento do lockdown teria custos econômicos com consequências imediatas para a sobrevivência da população da Terra. Mas a lição do Covid poderia não ser completamente perdida. Os líderes políticos parecem ter entendido que a pandemia tem suas raízes nos danos ambientais causados pelo homem: neste sentido, o coronavírus é um alerta de outras crises que poderiam vir no futuro se continuarem o desmatamento e os desastres naturais que os cientistas vincularem às emissões de gases de efeito estufa. O ambicioso compromisso global de responder à crise do Covid investindo na economia verde aproxima o objetivo do acordo de Paris de limitar o aumento médio da temperatura da Terra a 2º Celsius até o final do século.

As conferências internacionais agendadas para 2021 sobre o tema da poluição serão uma oportunidade para verificar se a grande crise de 2020 serviu para algo. Como secretário-geral da ONU, Antonio Guterres declarou, em um discurso apaixonado há algumas semanas, que fazer as pazes com a natureza será o objetivo principal do século XXI. “A humanidade está declarando guerra à natureza”, disse Guterres. “Este é um comportamento suicida. A natureza sempre reage com força e fúria, como está fazendo agora.”

(EcoDebate, 06/01/2021) publicado pela IHU On-line, parceira editorial da revista eletrônica EcoDebate na socialização da informação.

[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

 


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