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Artigo

A Colômbia e o Panamá se unem no drama da emergência da covid-19

 

Artigo de José Eustáquio Diniz Alves

[EcoDebate] A Colômbia e o Panamá já foram um só país. Mas se separaram em função das divergências internas e da interferência externa em relação à construção do Canal do Panamá. Hoje os dois países possuem um inimigo em comum que é o Sars-CoV-2.

Em 1878, o empresário francês Ferdinand de Lesseps, construtor do Canal de Suez, obteve uma concessão do governo da Colômbia, para a construção do Canal do Panamá ligando os oceanos Atlântico e Pacífico. Mas a companhia faliu e os trabalhos foram interrompidos em 1898.

Com o crescimento da economia dos Estados Unidos (EUA) da costa Leste à Oeste, o presidente americano, Theodore Roosevelt (o mesmo que atualmente está tendo suas estátuas ameaçadas em função da luta antirracista) pretendia concluir o Canal, pois o controle estadunidense da passagem do Atlântico ao Pacífico seria de uma importância militar e econômica considerável. O presidente Roosevelt começou as negociações com os colombianos para obter a permissão necessária e no início de 1903, foi assinado um Tratado pelos dois países, mas o senado colombiano não o ratificou.

Diante da oposição colombiana, Roosevelt que defendia a política do “Big Stick” (“fale manso e carregue um porrete e você vai longe”) se referiu aos colombianos da seguinte forma: “aquelas criaturas desprezíveis de Bogotá”, “esses corruptos idiotas e homicidas” e “talvez tenhamos de dar uma boa lição a esses labregos”. A “lição” veio em forma da “independência” do Panamá. Assim, desde 1903, são dois países soberanos e vizinhos. Em 2020, as duas nações enfrentam uma escalada da pandemia.

A Colômbia – com 51 milhões de habitantes – registrou 317,7 mil pessoas infectadas pelo Sars-CoV-2 no dia 02 de agosto. Em três dias passou do 13º lugar para o 10º lugar no ranking dos países com maior número de casos da covid-19 (ultrapassou o Paquistão, o Irã e o Reino Unido). Entre os 10 países mais impactados pela pandemia, 5 são da América Latina. A Colômbia também já registrou 10.650 mortes da covid-19 no acumulado do ano. Tanto o número de casos, quanto o número de mortes estão em rápida expansão, conforme mostra os gráficos abaixo.

número diário de casos e de mortes da covid-19 na Colômbia e Panamá

O Panamá – com 4,3 milhões de habitantes – registrou 67,5 mil pessoas infectadas pelo Sars-CoV-2 no dia 02 de agosto. O Panamá também já registrou 1.471 mortes da covid-19 no acumulado do ano. Tanto o número de casos, quanto o número de mortes caíram ligeiramente nas duas últimas semanas.

Para comparar os países com diferentes dimensões demográficas se utiliza os coeficientes de incidência e de mortalidade. O gráfico abaixo, do jornal Financial Times, mostra o número de novos casos por milhão de habitantes. O país que apresentou o maior coeficiente de incidência do mundo foi o Catar com mais de 500 casos por milhão por volta de maio, mas em julho já tinha caído para cerca de 100 casos por milhão. Como se vê no gráfico, atualmente, Panamá, Colômbia, Brasil e EUA possuem um coeficiente de incidência de novos casos em torno de 200 por milhão (outros países que estão próximos são Bahrein, Oman e Kwait). A Bélgica tem coeficiente abaixo de 50 casos por milhão.

Panamá, Colômbia, Brasil e EUA possuem um coeficiente de incidência de novos casos em torno de 200 por milhão

No coeficiente de mortalidade a Bélgica atingiu o maior valor em abril (acima de 20 novas mortes por milhão), mas atualmente tem um coeficiente próximo de zero. Como se vê no gráfico Panamá e Colômbia possuem um dos maiores coeficientes atualmente (acima de 5 novas mortes por milhão). Brasil está próximo e os EUA, que tinham apresentado queda, voltou a ter uma subida nas mortes recentemente. Outros países que estão em torno de 5 mortes por milhão são o Peru e o Chile. A América Latina, tem sido um destaque no cenário internacional de vítimas fatais da covid-19.

A América Latina, tem sido um destaque no cenário internacional de vítimas fatais da covid-19.

A tabela abaixo mostra os coeficientes de incidência e de mortalidade para os números acumulados. O Panamá lidera no coeficiente de incidência com 15,6 mil casos por milhão de habitantes, o Brasil com 12,9 mil casos por milhão, a Colômbia com 6,2 mil por milhão e o mundo com 2,3 mil por milhão. No coeficiente de mortalidade, o Brasil é o líder com 444 mortes por milhão de habitantes, o Panamá com 341 mortes por milhão, a Colômbia com 209 por milhão e o mundo com 89 mortes por milhão. O Brasil realizou proporcionalmente mais testes e o Panamá tem a menor taxa de letalidade.

os coeficientes de incidência e de mortalidade para os números acumulados

O fato é que a Colômbia se juntou ao Brasil, México, Peru e Chile como 5 dos 10 países mais afetados pela pandemia no mundo. O Panamá, em termos proporcionais, também é destaque. A América Latina com cerca de 8,4% da população mundial responde por mais de 45% das mortes globais.

José Eustáquio Diniz Alves
Colunista do EcoDebate.
Doutor em demografia, link do CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 03/08/2020

 

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