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Emergência Climática: Governos precisarão quadruplicar esforços para cumprir meta do Acordo de Paris, alerta estudo

aquecimento global

O período de dez anos iniciado em 2010 foi uma “década perdida” em termos de ação climática. Por isso, os governos nacionais precisarão quadruplicar seus esforços (1) a partir de agora para viabilizar os objetivos de longo prazo do Acordo de Paris contra a mudança do clima. Estas são as conclusões de um artigo publicado na Nature Commentary que revisou dez anos do Relatório de Lacuna das Emissões (Emissions Gap Report) do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) (2).

Por Bruno Toledo, AviV, para o EcoDebate.

Quando esse relatório começou a ser divulgado, há dez anos, o mundo imaginava que tinha cerca de 30 anos para cortar pela metade as emissões globais de gases de efeito estufa. Hoje, sabemos que isso precisa acontecer em apenas dez anos para minimizar os efeitos da mudança do clima. Mudanças incrementais que poderiam facilitar esse trabalho não são mais suficientes.

Se ações climáticas apropriadas tivessem sido implementadas a partir de 2010, os cortes de emissões necessários em 2020 para limitar o aquecimento global em 2oC seriam de 14%. Ao invés disso, as emissões cresceram e agora as reduções a partir deste ano precisam ser de cerca de 55% até 2030 para limitar o aquecimento em 1,5oC. Isso significa que as emissões globais precisam ser reduzidas em 7% ao ano (3).

Neste momento, os compromissos apresentados pelos países (4) estão distantes dessa necessidade. Em vez de cortar as emissões pela metade em 2030, as propostas nacionais nos levariam a um ligeiro aumento delas.

A boa notícia é que mais países, regiões, cidades e empresas estão implementando transformações rápidas e profundas. Se isso obtiver escala maior, essas transformações podem viabilizar as metas definidas conjuntamente pelos países no Acordo de Paris.

Objetivos de redução de emissões já foram definidos ou vêm sendo considerados por 76 países ou regiões (a União Europeia é a maior delas) e 14 regiões e estados subnacionais (Califórnia, nos Estados Unidos, é a maior). Em algumas localidades, esses planos já avançaram para implementação prática. Juntos, esses territórios representam cerca de 21% das emissões globais de gases de efeito estufa. Enquanto isso, 26 bancos e instituições financeiras deixaram de financiar diretamente novas usinas elétricas a carvão.

Os autores apontam que a lacuna agora é tão grande que governos, setor privado e comunidades precisam entrar em “modo de crise”. Isso significa fazer compromissos climáticos mais ambiciosos, enfocando ações antecipadas agressivas, dando escala a soluções bem sucedidas e traduzindo tudo isso em progresso em todos os setores. Caso contrário, as metas de longo prazo do Acordo de Paris se tornarão inviáveis.

A ciência é clara: neutralização líquida das emissões o quanto antes é a meta de longo prazo que todos precisamos estar focados”, diz Richard Baron, diretor-executivo da 2050 Pathways Platform. “Compromissos para zerar emissões líquidas já estão direcionando ação imediata e mandando sinais importantes para países, empresas, regiões e cidades. No entanto, ter uma meta de longo prazo não é suficiente. Os governos precisam definir planos para viabilizar essas metas de neutralidade”.

Notas

(1) A análise mostra que a lacuna entre necessidades de corte de emissões e ações práticas aumentou até quatro vezes desde 2010. Existem três razões para isso. Primeiro, as emissões anuais de gases de efeito estufa cresceram 14% entre 2008 e 2018. Isso significa que as emissões agora precisa cair mais rapidamente do que o estimado anteriormente, porque são as emissões cumulativas que determinam o aumento de temperatura de longo prazo. Segundo, a comunidade internacional agora concorda que precisa garantir um limite para o aumento de temperatura ainda menor que o decidido dez anos atrás, já que os riscos climáticos estão mais claros agora. E, terceiro, os compromissos nacionais sob o Acordo de Paris são insuficientes.

(2) Os autores chegaram a essas conclusões a partir da síntese dos dez relatórios Emissions Gap produzidos pelo Pnuma. A cada ano na última década, o relatório examinou a diferença entre os compromissos nacionais de ação individual para reduzir emissões e o que eles precisavam fazer coletivamente para viabilizar as metas de temperaturas acordadas – logo, a lacuna (gap).

(3) http://www.ipcc.ch/sr15/

(4) Os países sequer estão no caminho para cumprir os compromissos inadequados feitos em 2015. Das nações do G20, sete delas (Austrália, Brasil, Canadá, Coreia do Sul, Estados Unidos e Japão) precisam implementar políticas existentes ou avançar em novas ações. Os Estados Unidos estão em processo de saída do Acordo de Paris, que deve ser concluído em novembro de 2020. Rússia e Turquia definiram metas não ambiciosas que podem ser cumpridas sem novas políticas.

Lista completa de autores

Niklas Höhne é associado do New Climate Institute (Colônia, Alemanha) e professor de mitigação de gases de efeito estufa na Universidade de Wageningen (Países Baixos), e associado ao Lawrence Berkeley National Laboratory (Califórnia, EUA).

Michel den Elzen é pesquisador sênior no PBL Netherlands Environmental Assessment Agency (Haia, Países Baixos).

Joeri Rogelj é professor de mudança do clima no Grantham Institute, Imperial College London (Reino Unido) e pesquisador acadêmico sênior no International Institute for Applied Systems Analysis (Laxenburg, Áustria).

Bert Metz é ex-co-presidente do grupo de trabalho do IPCC sobre mitigação e fellow na European Climate Foundation (Haia, Países Baixos).

Taryn Fransen é fellow sênior fellow no World Resources Institute (Washington DC, EUA).

Takeshi Kuramochi é pesquisador sênior de política climática no NewClimate Institute (Colônia, Alemanha), e associado ao Copernicus Institute of Sustainable Development da Universidade de Utrecht (Países Baixos).

Anne Olhoff é diretora estratégica de planejamento e política climática na UNEP DTU Partnership, Technical University of Denmark (Copenhagen, Dinamarca).

Joseph Alcamo é professor de ciência dos sistemas ambientais e diretor do Sussex Sustainability Research Programme na Universidade de Sussex (Brighton, Reino Unido).

Harald Winkler é professor de política e energia climática na Universidade de Cape Town (África do Sul).

Sha Fu é professor associado de economia climática na Energy Foundation China (Pequim, China).

Michiel Schaeffer é diretor de ciência na Climate Analytics (Berlim, Alemanha) e associado ao Environmental Systems Analysis Group, Universidade de Wageningen (Países Baixos)

Roberto Schaeffer é professor economia energética na Universidade Federal do Rio de Janeiro (Brasil).

Glen P. Peters é diretor de pesquisa no CICERO Center for International Climate Research (Oslo, Noruega).

Simon Maxwell é pesquisador sênior associado ao Overseas Development Institute (Londres, Reino Unido)

Navroz K. Dubash é professor e coordenador da Initiative on Climate, Energy and Environment no Centre for Policy Research (Nova Deli, Índia).

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 06/03/2020

[cite]

 

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