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Vaclav Smil e o paradoxo do crescimento, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

 

Vaclav Smil e o paradoxo do crescimento, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

“Acreditar que o crescimento econômico exponencial pode continuar infinitamente
num mundo finito é coisa de louco ou de economista”
Kenneth Boulding (1910-1993)

 

Vaclav Smil. Growth: From Microorganisms to Megacities, MIT Press, 2019
Vaclav Smil. Growth: From Microorganisms to Megacities, MIT Press, 2019

 

[EcoDebate] Václav Smil (9/12/1943) é um cientista checo-canadense e autor de livros influentes nas áreas de energia, alimentação, população, economia, meio ambiente, etc. Ele é professor emérito na Faculdade de Meio Ambiente da Universidade de Manitoba em Winnipeg, Manitoba, Canadá.

O seu novo livro, lançado em setembro de 2019, “Growth: From Microorganisms to Megacities”, é bastante ambicioso e aborda a questão do crescimento desde pequenos organismos até as trajetórias de impérios e civilizações, percorrendo uma investigação sistemática do crescimento da natureza e da sociedade.

O livro examina as regras e os padrões de crescimento em quatro domínios principais, os do mundo vivo; consumo de energia humana; artefatos humanos; populações humanas, sociedades e economias, utilizando uma farta análise quantitativa, mas utiliza a estatística de forma acessível aos leitores.

O capítulo sobre o crescimento no reino biológico fornece uma amostra ampla e diversificada sobre diversas espécies e sobre as formas de vida mais essenciais da biosfera, incluindo árvores, florestas modernas, microrganismos, culturas agrícolas e animais. Ele também mapeia o crescimento em estatura e massa corporal da espécie humana, bem como o ritmo de crescimento dos cérebros, alturas e pesos ao longo do ciclo de vida individual. Também destaca alguns casos preocupantes de taxas declinantes de crescimento (por exemplo, dos rendimentos agrícolas dos EUA). A análise de

Um capítulo que reflete todo o conhecimento de Smil na área de energia, consiste em uma história impressionantemente da dependência cada vez maior da humanidade das fontes de energia extrassomática (não produzida pelo próprio corpo). Ele relata de forma envolvente o aproveitamento sucessivo de fogo, queda de água, vento, luz solar, combustíveis fósseis e fissão nuclear. Ele usa uma série de gráficos para ilustrar o crescimento das capacidades de turbinas de energia, eficiência de usinas de energia, potência de veículos de passageiros, eficiência de conversão de células solares, eficácia luminosa, uso de eletricidade na fabricação e muitas outras métricas reveladoras. Um ponto comum é que, na maioria dos casos, o crescimento não é continuo e infinito, mas sempre caminha para um estado de retornos decrescentes.

Smil considera que a análise do crescimento da população, da sociedade e da economia humanas é a tarefa mais complexa e difícil. Em geral, o crescimento da população e da economia tem um período de crescimento sustentado, seguido de uma desaceleração na taxa de crescimento, descrito na forma de uma curva logística. Como existem vários tipos de curva de crescimento, Smil adverte para a possibilidade de erros ao fazer previsões específicas para o futuro, com base em tendências do passado.

Por exemplo, o debate sobre o tamanho máximo sustentável da população humana – envolvendo o conceito de capacidade de carga – é complexo e difícil de se determinar porque envolve diversas variáveis, como o padrão de consumo. Embora ele reconheça que as taxas de consumo e degradação ambiental de nossa sociedade atual não podem continuar no ritmo histórico, ele parece aceitar um leque amplo de alternativas para o pico populacional, embora considere ser impossível um crescimento infinito em um Planeta finito, para tanto cita o estudo clássico de Kenneth Boulding.

O livro “Growth” não é propriamente otimista, pois não há soluções simples para conciliar o crescente consumo de nossa espécie com um futuro viável. Smil é crítico em relação aos chamados “otimistas tecnológicos” que imaginam soluções para nossos imensos desafios decorrentes de maior eficiência, redução de insumos materiais para produção econômica ou tecnologia da informação. Ele analisa tecnologias como smartphones, baterias de supercomputadores e laptop, nas quais o crescimento segue a Lei de Moore (a capacidade de computação dobra aproximadamente a cada dois anos).

Nesse crescimento exponencial, ele não vê esperança de resolver as crises climáticas e ambientais. Ele ressalta que nossas conquistas tecnológicas mais espetaculares, até agora, pouco fizeram para diminuir nosso impacto no planeta. Muitos o exacerbaram.

Smil mostra que a análise do crescimento necessariamente nos leva a pensar diversas alternativas.

Contudo, ele chama a atenção para o fato de que temos um Planeta único e que os recursos naturais que sustentaram o exponencial crescimento da população e da economia nos últimos 250 anos, agora estão se esgotando, embora não se possa dizer com certeza como e quando os limites do crescimento vão se impor de forma inexorável.

José Eustáquio Diniz Alves
Colunista do EcoDebate.
Doutor em demografia, link do CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

 

Referência:
Vaclav Smil. Growth: From Microorganisms to Megacities, MIT Press, 2019

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 28/02/2020

[cite]

 

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