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Conscientização continua sendo um problema enquanto as greves climáticas globais atraem milhões

 

A Avenida Paulista foi o palco da mobilização pelo clima, em São Paulo
A Avenida Paulista foi o palco da mobilização pelo clima, em São Paulo – Rovena Rosa/Agência Brasil

 

IHU

Depois de aproximadamente 6.000 ações em mais de 180 países em dois dias de manifestações, a terceira greve climática global chegou ao fim.

A reportagem é de Brian Roewe, publicada por National Catholic Reporter, 30-09-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Para Solenne Ramsay-Cortés, a greve climática do dia 20 de setembro em Quezon City, nas Filipinas, foi a primeira.

Estudante do Ensino Médio do Assumption College San Lorenzo, a jovem de 15 anos viu as manifestações como uma tomada de posição “pelo meu futuro, pelo seu futuro e pelo futuro da Terra”.

Ela também se sentiu impulsionada pela frustração.

“Eu acho triste que, anos atrás, os adolescentes estavam dando palestras sobre a importância da justiça climática, e nós ainda estamos fazendo a mesma coisa hoje: promovendo a conscientizando sobre essa questão”, disse Ramsay-Cortés ao NCR.

Outros grevistas climáticos das Filipinas e de outros lugares identificaram a necessidade de uma atenção ainda maior às mudanças climáticas, seja para superar a negação, a distração ou simplesmente a falta de informação. As greves, esperam eles, podem ajudar a derrubar essas barreiras e a criar apoio para encontrar soluções e tomar medidas.

Ramsay-Cortés estava acompanhada da sua mãe e de centenas de outras pessoas no protesto que começou do lado de fora da Ateneo de Manila University, dirigida pelos jesuítas, e deu início a uma semana de greves em todo o país do Sudeste Asiático. A greve ocorreu em meio ao “Ano da Juventude” declarado pelos bispos católicos do país, com o tema “Juventude filipina em missão”.

Para ela, parece haver um ciclo persistente e que “as gerações passadas cometem erros e esperam que as gerações futuras [os jovens] os consertem”.

É um ciclo, segundo Ramsay-Cortés, que precisa mudar.

Em 185 países, as greves climáticas globais dos dias 20 e 27 de setembro atraíram cerca de 7,6 milhões de jovens e idosos para 6.100 ações, de acordo com os organizadores que as classificaram como a maior mobilização distribuída que pede ações contra as mudanças climáticas. As duas datas ocorreram no início e no fim da Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova York (17 a 30 de setembro), que abriu este ano com uma cúpula de ação climática.

Um dia depois das greves do dia 20 de setembro, a ONU concedeu ao movimento “Sextas-Feiras pelo Futuro” – inspirado pela sueca Greta Thunberg, de 16 anos, que se juntou aos grevistas na cidade de Nova York – o prêmio Champions of the Earth 2019, sua maior honraria ambiental.

Antes e depois das greves, Thunberg pressionou os líderes eleitos e as gerações mais velhas a guardarem seus aplausos ou elogios aos grevistas jovens. Em vez disso, ela os urgiu a ouvirem primeiro o que os cientistas climáticos estão dizendo – que as emissões globais de gases do efeito estufa devem ser reduzidas quase pela metade até 2030 e chegar a zero líquido até 2050, para manter o aumento médio da temperatura global em 1,5ºC, em comparação com os níveis pré-industriais – e depois a tomarem medidas sérias.

“Durante mais de 30 anos, a ciência tem sido muito clara. Como vocês ousam continuar desviando o olhar e vindo aqui dizer que estão fazendo o suficiente, quando as políticas e as soluções necessárias ainda não estão à vista?”, questionou ela em um discurso na Cúpula de Ação Climática da ONU, no dia 23 de setembro.

Enquanto Thunberg fazia suas avaliações contundentes, ela continuou atraindo críticas.

As farpas lançadas pela apresentadora Laura Ingraham, da Fox News – comparando os jovens ativistas aos personagens de “Children of the Corn” [Filhos do milho], de Stephen King, enquanto afirmava incorretamente que o aquecimento observado é consistente com as tendências climáticas do passado e repreendia o Papa Francisco por manifestar o seu apoio – foram condenadas como “relatos falsos” por parte de uma ordem de religiosas.

“Em seus ataques aos ativistas e ao Papa Francisco, em nenhum momento ela [Ingraham] apresentou qualquer refutação fundamentada, mas repetiu a ideia do lobby dos combustíveis fósseis de que o clima está sempre mudando, e não há nenhuma razão para alarme. Embora Ingraham zombe daqueles que disparam o alarme, já estamos experimentando os efeitos das mudanças climáticas”, disseram as provinciais da Congregação Nossa Senhora da Caridade das Irmãs do Bom Pastor nos EUA em um comunicado conjunto.

Fora dos EUA, as greves climáticas também serviram como uma maneira de dar mais visibilidade àquela que é considerada como uma situação de emergência para o planeta.

Ruby Sampson, 18 anos, e Ayakha Melithafa, 17, ambos membros da Aliança Climática Africana, disseram aos repórteres em uma teleconferência dias antes da greve que sua principal motivação era a educação, já que uma educação de nível superior está fora do alcance de muitos no seu país.

Sampson disse que, embora as pessoas percebam que há mais secas e inundações, elas são menos propensas a reconhecer o papel das mudanças climáticas – que, à medida que as temperaturas globais aumentam, podem prolongar as estações secas e provocar menos chuvas, porém mais fortes.

Junto com a Aliança Climática Africana, os adolescentes conversaram nas escolas com seus colegas, muitas vezes começando por não dizer a eles o que são as mudanças climáticas, mas sim perguntando como eles acham que têm sido afetados. Melithafa lembrou-se de ajudar a sua mãe, uma agricultora, a entender como as mudanças climáticas estavam relacionadas às mudanças nos níveis dos rios e nas chuvas que ela estava testemunhando.

“Estamos aqui apenas tentando conscientizar as pessoas a falar sobre isso e a juntar os pontos”, disse Sampson.

Mitzi Tan, uma estudante recém-formada de 21 anos que participou da greve em Quezon City, disse que havia uma situação semelhante nas Filipinas, ‘onde as pessoas não percebem como a situação aqui é ruim”. Por exemplo, que a nação do arquipélago está entre as mais vulneráveis do mundo aos impactos das mudanças climáticas, como tufões mais poderosos, elevação dos mares e deformações na produção agrícola e pesqueira.

Parte disso, segundo ela, é a falta de conexão entre as mudanças observadas e os impactos que os cientistas identificaram acompanhando o aquecimento do clima. Outro fator são as pessoas preocupadas com outras questões prementes, como a fome, a falta de moradia e o aumento dos preços do petróleo.

Em uma reunião com ativistas ambientais locais, muitas deles indígenas, Tan disse que eles já conhecem os impactos das mudanças climáticas, e suas conversas se concentram nos motivos. Ela acrescentou que, assim como as mudanças climáticas são um problema que afeta a todos, todos – incluindo o governo – devem reconhecê-las e procurar soluções.

“É algo sobre o qual precisamos conversar”, disse Tan.

Maria Lourdes Guinto, paroquiana da Igreja de Nossa Senhora da Esperança, em Quezon City, disse ao NCR que espera que a greve “eleve” a conscientização entre amigos, familiares e outras pessoas “de que o aquecimento global é um assunto sério” e os leve a considerar os pequenos passos que podem ser dados para diminuir o seu impacto no planeta. Ela também quis mostrar como a fé motiva a ela e a outras pessoas, católicas ou não, a cuidar da criação.

‘Este planeta é compartilhado com cada ser individual, e, portanto, cada um tem uma responsabilidade de contribuir para a sua manutenção”, disse Guinto, colaboradora do Movimento Climático Católico Global e mãe de três filhos adolescentes.

Assim como em muitas greves, as pessoas em Quezon City revelaram um aspecto intergeracional.

Marilou Fernando-Canuzo, 60 anos, foi inspirada pelo seu filho mais novo a ingressar no movimento Sextas-Feiras pelo Futuro. A greve do dia 20 de setembro foi a sua segunda, após a greve climática global anterior em maio.

“Uma mãe naturalmente faria qualquer coisa para garantir que seus filhos tenham um futuro brilhante pela frente ou, deveria dizer, um mundo melhor para se viver”, disse Fernando-Canuzo ao NCR.

Ela esperava que a manifestação inspirasse outros pais e idosos a se envolverem, para “entender que as mudanças climáticas não são brincadeira”. Mas, acima de tudo, ela esperava que o governo das Filipinas “levasse isso a sério”.

“Eu vi como as nossas futuras gerações são esperançosas”, disse Fernando-Canuzo, refletindo sobre as mudanças climáticas. “Eu vi o espírito de luta deles. Esses são os valores que eu vi neles. Eles me inspiraram a também lutar pelo que é certo.”

(EcoDebate, 02/10/2019) publicado pela IHU On-line, parceira editorial da revista eletrônica EcoDebate na socialização da informação.

[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

 

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