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Paisagens em ecologia histórica, artigo de Roberto Naime

 

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Paisagens em ecologia histórica, artigo de Roberto Naime

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Na ecologia histórica, o meio ambiente fica registrado como cenário físico específico, a paisagem, que é definida como uma área de interação entre cultura humana e ambiente não antrópico.

A paisagem é sempre alterada por manifestações físicas dos protagonistas.

Ecologia histórica revisa a noção de ecossistema e o substitui por paisagem. Enquanto um ecossistema é estático e cíclico, uma paisagem é histórica.

Enquanto a concepção de visão do ecossistema sempre tenta retorná-lo ao estado de equilíbrio, a concepção de paisagem considera a “transformação de paisagem” como um processo evolutivo.

Paisagens não retornam ao estado de equilíbrio, mas são palimpsestos ou relictos de distúrbios e modificações sucessivas ao longo do tempo.

O uso do termo “paisagem” ao invés de “ecossistema” é a unidade básica de análise que está no cerne da ecologia histórica.

Várias escolas de pensamento repassaram a concepção de paisagem como os ecologistas históricos concebiam. A palavra paisagem no inglês atual (“landscape”) tem origem nas palavras “landskift”, “landscipe” ou “landscaef” do inglês arcaico, que se referem ao ambiente que já havia sido alterado pelos humanos.

Como a etimologia inglesa demonstra, “paisagem” vem sendo concebida como relacionada à cultura humana desde o século V d.C.

Geógrafos históricos e culturalistas possuem influências mais recentes. Adotaram essa concepção dos arquitetos alemães, jardineiros e pintores de paisagem do século XIX na Europa, Austrália e América do Norte.

Paisagens não são somente elementos físicos, mas também “formas de conhecimento”. Paisagens possuem um significado cultural, por exemplo, o solo sagrado funerário em várias culturas. Esse reconhecimento da paisagem como forma de conhecimento é o cerne da discussão da ecologia histórica, cujos estudos possuem uma perspectiva antropocêntrica.

A concepção de paisagem cultural é diretamente atribuída ao geógrafo estadunidense Carl Sauer. A teoria desenvolvida por Sauer é uma crítica ao determinismo ambiental, que era muito popular no início do século XX.

Seu artigo pioneiro de 1925, “The Morphology of Landscape” (A Morfologia da Paisagem) agora é fundamental em muitas disciplinas e define o domínio paisagístico.

Neste artigo, o termo paisagem é usado no senso geográfico para significar uma sessão selecionada arbitrariamente da realidade, onde alterações morfológicas significam os processos para alterar os cenários. Para Sauer, independente de onde os humanos fossem viver e impactassem o ambiente, as paisagens obtinham um resultado histórico.

A percepção da paisagem na ecologia histórica difere de outras disciplinas, como a ecologia de paisagem. Os ecologistas de paisagem atribuem a destruição da biodiversidade à perturbação humana.

Ecologistas históricos reconhecem que nem sempre é dessa maneira. Essas alterações são devido a múltiplos fatores que contribuem para a paisagem em constante mutação.

Ecologia da paisagem ainda se concentra em áreas definidas como ecossistemas. Com isso, o ecossistema sempre tende a retornar para o seu estado de equilíbrio. Em contraste, ecologistas históricos enxergam a paisagem em mudança.

Ecologistas de paisagem acreditam em eventos não cíclicos dos humanos e desastres naturais como influências externas, enquanto que os ecologistas históricos creem nos distúrbios como parte integral da história da paisagem.

Essa é a integração de conceito de distúrbio e história que permite à paisagem ser interpretada como um palimpsesto, representando sucessivas camadas de mudança, em vez de entidades estáticas.

Ecologistas históricos reconhecem que a paisagem está em constante alteração no tempo e essas modificações são parte da história daquela paisagem.

Essas sucessões devem ser compreendidas sem um viés pré concebido contra a humanidade.

Transformações paisagísticas são sucessões ecológicas direcionadas pelos impactos humanos, e esta interação humana nem sempre determina ciclo evolutivo nefasto.

Partes da floresta amazônica exibem diferentes estágios de mudanças na paisagem, como os impactos da coivara, realizados pelos indígenas e população local.

As transformações não reduzem, necessariamente, a biodiversidade ou prejudicam o meio ambiente. Há vários casos onde os distúrbios mediados pelo homem, aumentam a biodiversidade das transformações ao longo do tempo.

Ecologia histórica desafia toda a noção de paisagem intocada. Alterações humanas ocorrem em diferentes fases, incluído o período anterior à industrialização.

As evidências que algumas sociedades, como forrageiros e caçadores-coletores, também são capazes de modificar a paisagem, foi um grande avanço para os estudos da ecologia histórica e antropologia.

Usando uma abordagem que combina história, ecologia e antropologia, a história da paisagem pode ser observada, deduzida e descrita através de traços de vários mecanismos que as alteraram, de forma antropogênica ou natural.

Compreender a natureza única de cada paisagem, somando sua relação com outras paisagens adjacentes e a forma com que ocorre o encaixe na paisagem como um todo, é a chave principal para compreender a ecologia histórica.

 

Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Aposentado do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.

 

Referência:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Ecologia_histórica

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 26/09/2019

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