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O ‘congestionamento’ no Everest e a busca pelo prazer do risco

Por Henrique Cortez

No final de maio, circularam notícias e fotos do inacreditável congestionamento de alpinistas rumo ao cume do Everest, a 8.848 m de altura.

Alpinistas esperam sua vez para chegar ao cume do Everest. Foto: NIRMAL PURJA/ AFP / EL PAÍS
Alpinistas esperam sua vez para chegar ao cume do Everest. Foto: NIRMAL PURJA/ AFP / EL PAÍS

A cada ano, o número de alpinistas que solicitam autorização das autoridades nepalesas, para tentar escalar o Everest, vem aumentando e, na temporada de 2019, superou mil autorizações.

Várias razoes podem levar ao desafio de escalar o monte mais alto do planeta, tais como busca de aventura, reconhecimento público, afirmação da autoestima, vício em adrenalina ou simplesmente pelo risco em si mesmo. Isto sem falar de ótimas fotos para as redes sociais.

Não vejo porque questionar os motivos, mas creio que os riscos merecem uma atenção maior.

A escalada não é um passeio no parque. O alpinista enfrenta um clima extremamente hostil, além da atmosfera rarefeita. É uma aventura extremamente arriscada. Nesta temporada, a escalada causou a morte, até agora, de 11 alpinistas.

Diversos fatores somados levaram nossa espécie à posição dominante no planeta e a capacidade de correr riscos provavelmente é um deles, associado à interação dos neurotransmissores adrenalina e dopamina. A adrenalina produzida diante da ameaça e a dopamina pela sensação de recompensa, pela conquista, por vencer o desafio.

Provavelmente é o mesmo processo que ocorre quando alguém salta de paraquedas, no mergulho submarino, em situação de combate ou ao sobreviver a um grave acidente.

Mas voltando ao Everest, parece não haver uma explicação coletiva para tantos alpinistas/aventureiros se arriscarem.

Além do risco, é uma aventura cara porque a autorização expedida pelas autoridades nepalesas custa US$ 11 mil, além das despesas de viagem, hospedagem, equipamento e a contratação de um guia.

Como disse, não é um passeio no parque, e uma escalada como esta exige uma longa preparação, com rigoroso treinamento físico e psicológico, sem falar do correto e seguro uso do equipamento.

Da preparação à escalada e o retorno a sua casa, um alpinista pode gastar de US$ 45 mil até US$ 100 mil.

É, definitivamente, uma aventura cara e para poucos.

O blog Betway Insider preparou uma interessante matéria, ‘Glória e risco no Everest’, em que analisa os desafios e motivações dos aventureiros que se arriscam na escalada.

No blog, mantido pela Betway, há um interessante infográfico, que reproduzimos abaixo, no qual o desafio de chegar ao cume do Everest pode ser melhor compreendido.

 

Mas existem questões que são pouco discutidas nesta aventura.

Uma delas é que centenas de alpinistas deixam, no Everest, toneladas de lixo, cuja limpeza é extremamente difícil e, obviamente, apenas superficial.

No final da temporada de 2019, de abril a maio, equipes de limpeza nepalesas recolheram 11 toneladas de lixo. Segundo a agência EFE, o Everest ganhou o infame título de “lixeira mais alta do mundo” pelas toneladas de equipamentos de escalada, cilindros de oxigênio e restos mortais de escaladores que morreram durante a escalada e cujos corpos não foram achados .

Sherpa recolhe lixo no Everest
Sherpa recolhe lixo no Everest. Foto: DW

Outra questão, esta de interesse mais comum a todos nós, é até que ponto as pessoas correm riscos desnecessários e o quanto isto também pode significar riscos para os outros.

Já são muitos os casos de acidentes, vários fatais, na busca da selfie perfeita. Ou do exibicionismo nos rachas/pegas de carros ou motos, no excesso de velocidade no trânsito, e até na violência das torcidas uniformizadas.

Será que o prazer do risco, compensa uma eventual tragédia? Será que compensa a dor que podemos causar às nossas famílias ou às famílias das vítimas de nossa imprudência.

Esta é mais um tema complexo, para o qual não existe resposta simples mas, por princípio, sempre devemos nos questionar se vale a pena correr o risco, qualquer que seja ele.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 05/07/2019

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