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Pesquisadores alertam para relação do uso do agrotóxico e malformações congênitas

 

pulverização aérea de agrotóxicos

 

Pesquisadores alertam para relação do uso do agrotóxico e malformações congênitas

Médica e pesquisadora Silvia Brandalise, convida a todos para reflexão e ações em defesa da vida: “os efeitos dos agrotóxicos estão contribuindo silenciosamente para o desenvolvimento de enfermidades gravíssimas nas gerações futuras”

Por Marina Prado

Chegamos ao Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado em 05 de junho, em um momento crítico para o nosso planeta. É preciso agir agora, para minimizar os impactos da sociedade de hoje sobre as futuras gerações, pois a natureza já manda sinais de alerta.

Exemplo disso são os resultados de pesquisas científicas brasileiras, que relatam a associação entre a exposição de gestantes a agrotóxicos e a malformação congênita dos bebês.

“A maioria dos defeitos fetais está associada a causas genéticas e ambientais, entre elas, a exposição de gestantes ao uso intensivo de agrotóxicos”, aponta estudo brasileiro publicado pelo renomado periódico inglês BMC Pediatrics.

O objetivo desse estudo foi investigar a associação entre a exposição parental aos agrotóxicos e a ocorrência de malformações congênitas. Os resultados mostraram que a malformação fetal está relacionada tanto à exposição das mães quanto dos pais aos agrotóxicos. “As crianças cujos pais foram expostos aos pesticidas e cujas mães têm baixo nível de educação são mais susceptíveis a malformações congênitas”, conclui o estudo. A pouca escolaridade das mães influencia, neste caso, pois resulta na inadvertência em manusear roupas e utensílios dos maridos, contaminados com agrotóxicos durante o período de trabalho, com o consequente maior exposição.

Outro estudo brasileiro, realizado pela Universidade Estadual do Mato Grosso e publicado pela revista Ciência & Saúde Coletiva, analisou a associação entre o uso de agrotóxicos e as malformações congênitas em municípios com maior exposição aos agrotóxicos em Mato Grosso.

Os resultados também demonstram que a exposição materna aos agrotóxicos nos períodos pós-fecundação (primeiro trimestre gestacional) e no período total (soma dos três meses antes da fecundação e o primeiro trimestre gestacional) “está associada às malformações congênitas dos municípios selecionados, sugerindo que populações intensamente expostas aos agrotóxicos apresentam maior risco de malformação fetal, trazendo um alerta sobre a necessidade da maior atenção à saúde da população, bem como a importância de se realizar o monitoramento da utilização dos agrotóxicos e contaminação humana e ambiental nesses municípios”.

Mesmo com a variedade de estudos sobre os riscos que os agrotóxicos representam à saúde humana, especialistas alertam que as políticas públicas ainda não mudaram de acordo com essas evidências. Em alguns casos, as mudanças parecem acontecer na direção oposta.

No estado de Mato Grosso, decreto de 2013 reduziu as distâncias permitidas para aplicação terrestre de agrotóxicos. Ou seja, hoje é permitido aplicar ainda mais perto de povoados, cidades e cursos d´águas. A distância mínima autorizada era de 200 metros no estado, e em 2013 foi reduzida para 90. Outras mudanças implementadas no mesmo ano reduziram a transparência sobre o uso das substâncias. O INDEA – Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso, órgão estadual que antes publicava as substâncias e as quantidades de agrotóxicos utilizadas em cada município, hoje não divulga mais esse monitoramento.

De acordo com a Dra. Silvia Brandalise, médica e pesquisadora, presidente do Centro Infantil Boldrini, hospital que é referência na América Latina no tratamento infantil de doenças onco-hematológicas, “as evidências científicas disponíveis em nível mundial já apresentam conteúdo suficiente para justificar a necessidade de novos modos de produção, visando minimizar os efeitos nocivos dos agrotóxicos na saúde humana”. A Dra. Silvia cita ainda o exemplo da União Europeia, que já proibiu o uso da atrazina (cuja influência na malformação congênita já foi relatada por estudos brasileiros) e estuda a proibição do glifosato.

“Gostaria de aproveitar essa data, o Dia Mundial do Meio Ambiente, para chamar todos não somente para uma reflexão, mas para ações em defesa da vida. Os efeitos dos agrotóxicos estão contribuindo silenciosamente para o desenvolvimento de enfermidades gravíssimas nas gerações futuras. Precisamos tomar atitudes individuais e coletivas de consumo consciente e conscientização para um esforço conjunto para o bem comum das gerações de agora e do futuro”, finaliza Dra. Silvia.

Estudos citados no texto:

Oliveira, N.P. Malformações congênitas em municípios de grande utilização de agrotóxicos em Mato Grosso, Brasil. Instituto de Saúde Coletiva. Universidade Estadual de Mato Grosso. DOI: 10.1590/1413-812320141910.08512014.
http://www.scielo.br/pdf/csc/v19n10/1413-8123-csc-19-10-4123.pdf

Ueker,M.E. et al sobre Exposição dos pais a pesticidas e a ocorrência de malformações congênitas: estudo de caso controle. BMC Pediatrics (2016):16:125. DOI: 10.1186/s12887-016-0667-x.
https://bmcpediatr.biomedcentral.com/track/pdf/10.1186/s12887-016-0667-x?site=bmcpediatr.biomedcentral.com

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 05/06/2019

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