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Análise do agronegócio e cadeias produtivas, artigo de Roberto Naime

 

artigo

 

[EcoDebate] HOEFLICH (2007) afirma que o conceito de sistema seria de pouca utilidade se a este não tivesse sido adicionado as ferramentas analíticas, que permitem identificar componentes, determinar fluxos e relações entre componentes e conhecer o desempenho de um sistema.

Este conhecimento é de valor científico, pois com ele é possível determinar limitações e promover intervenções, para aprimorar o funcionamento e desempenho do sistema analisado.

A descrição de um sistema começa pelos seus objetivos que são as razões de sua existência, pela qual o sistema opera. Prossegue com a determinação de seus limites, o que pertence e o que está fora do sistema.

Por exemplo, vai se fazer nova estrada entre São Paulo e Santos. Não faz sentido o sistema abrangido incluir a lua.

Depois vem o contexto, que é o ambiente externo, onde o sistema opera e continua com os componentes, que são os principais segmentos que se relacionam.

A fase descritiva engloba a interação, que são as relações entre os componentes; e os insumos de entradas, que são elementos utilizados pelo sistema, produzidos externamente e produtos de saídas, que são resultados da operação do sistema.

Considerando como sistemas as cadeias produtivas e o agronegócio, a análise desses sistemas implicaria em determinar quais as razões de uma cadeia produtiva existir; até onde e quais elementos pertencem à cadeia produtiva considerada e porquê. Quais os elementos pertinentes que constituem o contexto desses sistemas analisados e quais elementos são competentes da cadeia produtiva e como se relacionam.

E o quê, quando e quanto flui entre os componentes e como se regula estes fluxos, além de quais os insumos utilizados pelos componentes e como são processados internamente para gerar as saídas ou produtos do sistema. E finalizando, qual a natureza qualitativa e quantitativa dos produtos da cadeia produtiva e dos seus subprodutos.

Essas questões apresentadas são apenas iniciadoras do processo analítico, servindo para gerar questões cada vez mais específicas sobre o comportamento dos sistemas em análise. A lógica utilizada neste processo é diferente, partindo do geral para o específico e sempre mantendo a relação entre todas e as partes, o que está no cerne do enfoque sistêmico.

A internacionalização dos mercados finais dos produtos das cadeias produtivas introduziu a necessidade da agricultura ser pensada em termos de iniciadores de desempenho como eficiência produtiva, qualidade de produtos e processos e de competitividade.

Dentro dessas considerações, é fácil constatar uma mudança histórica no perfil dos fatores de produção prioritários para o desenvolvimento da agricultura, de uma situação onde prevaleciam os fatores mão de obra e terra, a agricultura evoluiu para a ênfase no capital, mecanização e terra, que vigorou nas décadas de 1960 e 1970.

Até evoluir para o conceito que começa a predominar nos anos de 1990, no qual os principais fatores para controlar o desempenho da agricultura e lograr sucesso em seus diversos indicadores são primordialmente o conhecimento tecnológico, o de mercados e o de integração agroindustrial (JOHNSON, 1995).

As mudanças verificadas nos mercados finais, com a sua internacionalização, sinalizam impactos que, para serem compreendidos e gerenciados, vão necessitar de visão sistêmica, proporcionada pelo enfoque de agronegócio e cadeias produtivas. Esses impactos serão diferentes, variando de acordo com o tipo de cadeia produtiva.

HOEFLICH (2007) distingue as cadeias produtivas relacionadas com a produção de commodities, tipo milho, trigo, soja, algodão, cacau e cadeias produtivas de produtos diferenciados, como frutas, hortaliças, especiarias.

Num caso é previsível uma intensificação da concorrência internacional pelo mercado de commodities nos próximos anos, sendo previsível que serão competitivas as cadeias produtivas que consigam vantagem pelo preço. Fatores como resíduos tóxicos e origem dos materiais plantados poderão alterar posições de competitividade, como está emergindo no momento, por exemplo, a questão dos alimentos transgênicos.

Já no outro, a busca de preços competitivos pode gerar concorrência interna nas cadeias produtivas. Assim, para as cadeias produtivas de produtos diferenciados, a concorrência poderá ser principalmente pautada pela qualidade e pela agilidade em conquistar e “atender” mercados e seus nichos. Diferenciações de preços serão, possivelmente, de menor importância neste contexto, sendo as questões relativas à qualidade e ao suprimento ágil dos consumidores as de maior impacto sobre a competitividade dessas cadeias produtivas.

Focar a análise da agricultura em cadeias produtivas é uma forma de ampliar a visão para todas as possibilidades de agregação de valor ao produto agrícola, o que pode facilitar a transição de determinados segmentos da situação de produtor de commodities para a de produtor de bens com valor agregado.

Em geral, as possibilidades de agregação de valor ocorrem fora da propriedade agrícola. O setor que representa maior tendência futura de crescimento em valores mobilizados é o de processamento agroindustrial e o de distribuição, o que deverá continuar a se manifestar no futuro, caso se confirme o cenário de tendências.

Contudo, as tendências têm sido confirmada, com pequenas variações. A aceitar como realística as projeções, fica patente que as oportunidades para agregação de valor na agricultura são mais consistentes nos segmentos “depois da porteira” da fazenda.

Assim, a planificação e a gestão desta função só será possível com a ampliação da visão analítica da agricultura, que o conceito de cadeias produtivas e agronegócio pode proporcionar.

Referências:

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 16/10/2018

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