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As energias renováveis avançam, mas em ritmo insuficiente para descarbonizar a economia, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

 

 

As energias renováveis avançam, mas em ritmo insuficiente para descarbonizar a economia, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

cenários para o crescimento das energias renováveis com redução das emissões de CO2

 

[EcoDebate] As energias renováveis já estão crescendo em ritmo mais veloz do que as fontes fósseis e os investimentos em usinas eólicas e solares já superam a quantidade investida anualmente em petróleo, gás e carvão. Crescem os apoiadores das energias que até pouco tempo eram chamadas de alternativas, mas que agora são de baixo custo e são a opção preferencial do setor energético global.

O colunista do New York Times, prêmio Nobel de Economia, Paul Krugman, no artigo “Energia solar e eólica não são mais coisas de hippie”, republicado na Folha de São Paulo, tece loas às energias renováveis, critica as posições do governo Donald Trump e diz: “Não existe mais qualquer razão para acreditar que seria difícil ‘descarbonizar’ dramaticamente a economia. De fato, não há razão para acreditar que fazê-lo imporia custos econômicos significativos. O debate realista é determinar o quanto será difícil chegar dos 80% aos 100% de descarbonização. Por enquanto, porém, o problema não está na tecnologia, mas na política” (18/04/2018).

Paul Krugman está correto, mas o último relatório da IRENA – International Renewable Energy Agency – “Global Energy Transformation: A Roadmap to 2050”, mostra que a velocidade da adoção de energia renovável global precisa aumentar em, pelo menos, por um fator de seis vezes para que o mundo atinja as metas estabelecidas no Acordo do Clima, de Paris.

Conforme o relatório, o investimento cumulativo no sistema de energia precisaria ser aumentado em 30% até 2050 em favor do apoio à energia renovável e à eficiência energética – de cerca de US$ 93 trilhões sob as políticas atuais e planejadas, até US$ 120 trilhões.

Esse valor do investimento também exige que US$ 18 trilhões sejam direcionados para redes elétricas e flexibilidade energética – o dobro das políticas atuais e planejadas.

Evidentemente, a energia renovável e a eficiência energética formam a base da solução mundial para as emissões de gases de efeito estufa, relacionadas à energia, e podem fornecer mais de 90% das reduções de emissões de CO2 necessárias para manter a temperatura global subindo menos de 2º Celsius, como estabelecido no Acordo de Paris. Mas o relatório da IRENA mostra que: “Se quisermos descarbonizar a economia global com rapidez suficiente para evitar os impactos mais severos das mudanças climáticas, as energias renováveis devem representar pelo menos dois terços da energia total até 2050.

O gráfico acima mostra que, seguindo as tendências atuais e os planos aprovados pelos diversos governos do mundo, as emissões não seriam reduzidas o suficiente para cumprir as metas do Acordo de Paris. Na trajetória de hoje, a despeito do forte crescimento da energia renovável, o planeta exauriria seu “orçamento de carbono”, permitido no cenário de 2º C, em apenas 20 anos (ou seja, 2037).

Portanto, não basta manter o ritmo do crescimento atual das energias eólica e solar. A participação da energia renovável na matriz energética deve atingir pelo menos dois terços do total energético, para evitar um agravamento incontrolável do aquecimento global.

O sol e o vento são recursos naturais abundantes e renováveis, mas, indubitavelmente, não podem fazer milagres e nem evitar o imperativo do metabolismo entrópico, como ensina a escola da economia ecológica.

A humanidade já ultrapassou a capacidade de carga do Planeta. Como alertou o ambientalista Ted Trainer (2007), as energias renováveis não são suficientes para manter a expectativa das pessoas por um alto padrão de consumo conspícuo. Ted Trainer prega um mundo mais frugal, com decrescimento demoeconômico, onde as pessoas adotem um estilo de vida com base nos princípios da Simplicidade Voluntária.

Referências:

ALVES, JED. Energia renovável: um salto na evolução? , Ecodebate, 29/01/2010
http://www.ecodebate.com.br/2010/01/29/energia-renovavel-um-salto-na-evolucao-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

ALVES, JED. Futuro do pretérito: o ocaso da energia fóssil, Ecodebate, 13/10/2013
https://www.ecodebate.com.br/2017/10/13/futuro-do-preterito-o-ocaso-da-energia-fossil-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

ALVES, JED. Ascensão e queda da civilização dos combustíveis fósseis, Ecodebate, 02/04/2014
http://www.ecodebate.com.br/2014/04/02/ascensao-e-queda-da-civilizacao-dos-combustiveis-fosseis-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

ALVES, JED. O grande crescimento global da energia solar em 2017, Ecodebate, 28/03/2018
https://www.ecodebate.com.br/2018/03/28/o-grande-crescimento-global-da-energia-solar-em-2017-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

Ted Trainer. Renewable Energy Cannot Sustain a Consumer Society, Springer, 2007
http://www.springer.com/la/book/9781402055485

IRENA. Global Energy Transformation: A Roadmap to 2050, Berlin, April 2018
http://www.irena.org/publications/2018/Apr/Global-Energy-Transition-A-Roadmap-to-2050

 

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 23/04/2018

[cite]

 

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