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Inseticidas Domésticos, Parte 2/3, artigo de Roberto Naime

 

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Inseticidas Domésticos, Parte 2/3, artigo de Roberto Naime

[EcoDebate] CASTRO e ROZEMBERG (2015) asseveram que o principal grupo químico utilizado como inseticida no ambiente doméstico é o piretróide sintético, amplamente utilizado também para o controle de agentes patogênicos, tanto na produção agrícola como na proteção da saúde humana.

Porém, apesar de suas inúmeras vantagens em relação aos demais, pode causar intoxicações em indivíduos expostos às suas diversas apresentações, em espirais, “sprays” ou vaporizadores.

Os inseticidas piretróides são absorvidos pela pele, por inalação e pelo trato gastrointestinal. Com relação à sua ação tóxica, estudos em animais, determinam efeitos neurológicos, provavelmente de origem periférica, provocando um quadro de agressividade, com tremores e um estágio final de intoxicação consistindo de espasmos convulsivos, falta de coordenação e prostração.

Estas intoxicações podem ocorrer com exposição a curto, médio ou longo prazo, podem ser crônicas ou agudas e de caráter acidental ou intencional, sendo que a velocidade e quantidade de absorção nas diferentes vias serão determinadas pelas propriedades físico-químicas do agente tóxico, da formulação empregada e por fatores fisiológicos e anatômicos do organismo atingido, conforme CASTRO e ROZEMBERG (2015).

A notificação dos casos de intoxicação por agrotóxicos (em que se incluem os domi-sanitários) é habitualmente realizada de modo precário, gerando subnotificação.

As causas da subnotificação podem ser muitas e já foram amplamente discutidas na literatura. Entre elas, está o fato de a contaminação por substâncias químicas, muitas vezes, não ser percebida pela população.

Por não serem graves, muitas vezes, as intoxicações não exigem internação do indivíduo, ou sequer geram a procura de atendimento médico. A população, de uma forma geral, desconhece o nexo entre os sintomas e os agentes químicos.

CASTRO e ROZEMBERG (2015) descrevem que a comunicação é força poderosa e amplamente conhecido, e que a mídia pode criar, em torno de questões centrais da vida pública, as representações que mais interessam a determinados grupos que detêm o monopólio de sua operacionalização.

A televisão, o rádio, o jornal, as revistas, e até a indicação de alguém, podem estimular uma determinada ação de consumo, sobretudo porque os lançamentos de marcas e produtos no mercado são divulgados por um desses meios.

A mídia mais influente continua sendo a televisão. Os elementos que compõem um comercial de TV conduzem o público por uma narrativa sonora e visual que provoca reações de identificação com o universo do produto ou serviço que é divulgado e apresentado.

A regulação publicitária no Brasil é executada no âmbito público pelo CDC (Código de Defesa do Consumidor) e pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), e no âmbito privado pelo CONAR (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária), sendo os primeiros de caráter legislativo e o último de caráter autorregulatório.

Tais instâncias analisam as peças publicitárias segundo suas diferentes atribuições, sendo que a ANVISA verifica sua adequação à legislação brasileira e aos regulamentos por ela criados para orientar os anunciantes quanto à prática da publicidade dos produtos sujeitos à sua área de atuação que é a vigilância sanitária.

Isto inclui também a informação disponibilizada ao consumidor nos rótulos dos produtos. A ANVISA conta com uma gerência específica, a Gerência de Monitoramento e Fiscalização de Propaganda, Publicidade, Promoção e Informação de Produtos Sujeitos à Vigilância Sanitária.

Apesar da existência de tais instâncias regulatórias, a maioria das pesquisas realizadas sobre propaganda de produtos relacionados à saúde, como alimentos, medicamentos e inseticidas, aponta irregularidades e extrapolação dos limites éticos.

A propaganda, em geral, ultrapassa tais limites, desrespeitando os direitos do consumidor e fazendo com que sejam necessários estudos sobre as estratégias por ela utilizadas, de modo a subsidiar a atuação dos setores que respondem por seu controle.

Considerando que o discurso publicitário é uma forma de comunicação específica e dirigida, que alcança sua eficácia persuasiva, graças ao uso de inúmeros recursos da linguagem, torna-se fundamental identificá-los.

Agora que com a presença do mosquito “aedes aegypti” muito relevante, até não se pretendia divulgar estas abordagens para não criar alarmismo, mas pensando bem isto demonstra o grau de desequilíbrio da civilização. Tem que se escolher entre os males qual é o menor. Triste destino da notável civilização humana.

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Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.

 

** Nota da Redação: Leiam, ainda, a parte anterior desta série de artigos:

Inseticidas Domésticos, Parte 1/3

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 28/09/2017

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