EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Notícia

MPT aciona a União a fim de garantir recursos para as ações de combate ao trabalho análogo ao escravo

 

ABr

trabalho escravo
MPT quer que a União garanta recursos para combater o trabalho escravo. Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
 
O Ministério Público do Trabalho (MPT) ajuizou ação contra a União, a fim de garantir financiamento para as ações de combate ao trabalho análogo ao escravo. O órgão, que tem o dever de responsabilizar exploradores e beneficiários desse tipo de crime, alertou que a redução do orçamento destinado às operações deflagradas pelo Grupo Especial de Fiscalização Móvel poderá levar à paralisação das atividades do grupo pela primeira vez, desde sua criação em 1995.

Segundo o Observatório Digital do Trabalho Escravo, ferramenta construída pelo MPT e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil, até agora apenas 18 operações foram realizadas em 2017. No ano anterior, no mesmo período, foram 106, e em 2015, 155. Desde 2005, nenhum ano registrou a realização de menos de 100 ações do tipo. Diante desse quadro, a ação civil pública requer que se imponha à União, com antecipação de tutela, o financiamento das operações deflagradas pelo Grupo de Fiscalização Móvel, sob pena de multa diária de R$ 100 mil, em caso de descumprimento. A ação tramita na 21ª Vara do Trabalho de Brasília.

Em nota à Agência Brasil, o Ministério do Trabalho reiterou “que o combate ao trabalho escravo é uma ação prioritária e não será paralisada. Temos remanejado recursos e buscado, junto ao Planejamento, alternativas para que a área de fiscalização continue atuando. Na próxima semana temos programada uma ação de combate ao trabalho escravo e outras estão sendo programadas até o final do ano, na expectativa de que novos recursos serão liberados para esse fim”.

Já o Coordenador nacional de Erradicação do Trabalho Escravo (Conaete), procurador do Trabalho Tiago Muniz Cavalcanti, disse que não há garantia das ações programadas para setembro. “Não me foi repassada a certeza dessa operação e, até agora, a passagem do auditor não foi comprada”, relatou.

O procurador explicou que existem dois tipos de operação, as de fiscalização da legislação trabalhista em geral e aquelas voltadas ao combate ao trabalho escravo. De acordo com ele, as primeiras já estão paralisadas, sobretudo porque envolvem ações em áreas rurais, que demandam mais recursos operacionais. Em relação às atividades do Grupo Móvel, ele disse que os recursos acabaram recentemente. “O montante que foi disponibilizado acabou agora, no mês de agosto, e nós dependemos de novos repasses do governo para serem realizadas as operações previstas”.

Cada operação de fiscalização custa entre R$ 40 mil e R$ 60 mil. Em geral, são realizadas quatro operações mensais. “Com menos de um R$ 1 milhão você garante a operação de todo o semestre. É um valor muito reduzido para a importância dessa política”, disse o procurador.

Também preocupados com a continuidade dos trabalhos, auditores-fiscais do trabalho divulgaram, na quarta-feira (23), nota pública em que alertam sobre a falta de recursos para as próximas iniciativas e alertam que “as ações de combate a esse crime não podem parar”.

Antes de iniciar o processo contra a União, o MPT buscou resolver a questão extrajudicialmente, a partir de diálogo com o Ministério do Trabalho. Após reunião entre o procurador-geral do Ministério do Trabalho, Ronaldo Fleury, e o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, foi anunciada a continuidade das ações do grupo, com a garantia dos recursos. No entanto, o MPT avalia que os diálogos não tiveram êxito, por isso o órgão buscou a Justiça para evitar a paralisação e a concretização de “prejuízos diretos e irreversíveis à coletividade de trabalhadores alcançada pelas operações deflagradas para atender denúncias de trabalho escravo”, conforme o texto da ação.

Dados do Observatório Digital apontam que, entre 1995 e 2015, cerca de 50 mil pessoas foram libertadas do trabalho análogo ao de escravo no país. São pessoas submetidas a condições degradantes, trabalho forçado, jornada exaustiva ou servidão por dívida. A maior parte delas é do sexo masculino (95%) e tem entre 18 e 44 anos (83%). As libertações decorreram da atuação de equipes móveis e auditores das Superintendências Regionais do Trabalho e Emprego, que realizaram, ao longo desse período, 2.020 operações, as quais envolveram a inspeção de 4.303 estabelecimentos, segundo informações compiladas pela organização Repórter Brasil.

As operações do grupo contam com integrantes do MPT, Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Polícia Federal (PF) e Polícia Rodoviária Federal (PRF). Os estados do Pará, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e Bahia têm registrado o maior número de casos, os quais estão associados a atividades como a pecuária.

 

Por Helena Martins, da Agência Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 25/08/2017

 

[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário da revista eletrônica EcoDebate, ISSN 2446-9394,

Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta enviar um email para newsletter_ecodebate+subscribe@googlegroups.com . O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.

O EcoDebate não pratica SPAM e a exigência de confirmação do e-mail de origem visa evitar que seu e-mail seja incluído indevidamente por terceiros.

Remoção da lista de distribuição do Boletim Diário da revista eletrônica EcoDebate

Para cancelar a sua inscrição neste grupo, envie um e-mail para newsletter_ecodebate+unsubscribe@googlegroups.com ou ecodebate@ecodebate.com.br. O seu e-mail será removido e você receberá uma mensagem confirmando a remoção. Observe que a remoção é automática mas não é instantânea.