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Poxa Odebrecht, magoei! artigo de Adalberto Luis Val

 

artigo de opinião

 

“Eu tentei imaginar o que poderia ser feito na área de Ciência e Tecnologia com uma pequena fração desse recurso”. Artigo do professor Adalberto Luis Val, ex-diretor da SBPC, para o Jornal da Ciência.

Nos últimos meses vimos que vocês, Emilio e Marcelo Odebrecht, tornaram público que a empresa que administram repassou consideráveis somas de dinheiro não contabilizado para um sem número de pessoas inescrupulosas para obter vantagens para suas empresas. Eu tentei imaginar o que poderia ser feito na área de Ciência e Tecnologia com uma pequena fração desse recurso. Tentei também imaginar quão melhor poderiam ser nossas escolas do interior do Brasil, entre elas muitas sem sequer banheiro. Confesso que não consegui chegar a uma lista definitiva. Tomei, para referência, apenas um de nossos mais importantes programas de Ciência e Tecnologia, os INCTs (Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia). Cada projeto desse programa constitui uma rede de laboratórios nacionais e estrangeiros que lidam com questões científicas de alta relevância. No desenho atual, cada um desses projetos envolve investimentos da ordem de um milhão de reais por ano para custear compra de insumos, equipamentos, bolsas de estudos, coleta de material, intercâmbio de pessoal, entre outras ações. Ou seja, são projetos que requerem só duas mochilas da Odebrecht! Tomei como referência, também, a análise do custo de um banheiro decente para crianças das muitas escolas desabastadas Brasil afora. Com apenas uma mochila de vocês, vários banheiros poderiam ser construídos. Mais, poderiam ser construídas várias salas adequadas para que nossas crianças contribuam para a construção de um País melhor.

Por outro lado, lembrei-me também que vocês utilizam informações científicas produzidas nas bancadas dos muitos laboratórios do País para executar as obras de grande porte País afora e no exterior. Quanto vocês pagam por essas informações? Quantos projetos de pesquisa apoiam? Será que uma parte da propina não poderia legalmente ajudar a consolidar nosso País na área científica? Tenho certeza que com investimento continuado e seguro ocuparíamos uma posição de destaque na mídia internacional de forma diferente da que estamos ocupando por conta das ações desconcertantes que temos visto noticiadas a cada dia. Lembro-me, ainda, de que a vida de vocês só é possível graças a muitas informações que a ciência produz. O café que tomam durante as reuniões, o avião em que voam, o etanol que usam em seus carros, os exames médicos que realizam, os remédios que tomam, os alimentos que consomem decorrem das muitas e muitas horas de estudos de homens e mulheres devotados à ciência. Sabem, boa parte do tempo dessas pessoas é aplicado na redação de projetos de pesquisa para conseguir algum apoio financeiro para suas pesquisas. Bastava uma mochila de vocês para viabilizar muitas atividades de pesquisas.

Durante muito tempo e em muitas palestras ressaltei a importância das atividades de empresas como a de vocês para o desenvolvimento do nosso País. Contudo, só agora a sociedade soube que essas atividades envolvem também ações que ocorrem no porão, longe da legalidade. Confesso, nunca estive tão magoado. Já vivi, como pesquisador, momentos de profunda escassez de recursos para nossos experimentos mas creditava isso aos cenários econômicos, mas saber agora que parte das dificuldades está relacionada às ações no porão da ilegalidade é desanimador.

Porém, como sou um otimista por natureza, acredito que teremos em breve um País passado a limpo, no qual a ciência e a tecnologia ocupem a posição e o respeito que merecem e possam contribuir mais e melhor com o desenvolvimento de nosso País proporcionando uma vida melhor para a sociedade brasileira.

Do Jornal da Ciência / SBPC, reproduzido in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 03/05/2017

 

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