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Artigo

As várias ‘almas’ do Brasil, artigo de Montserrat Martins

 

artigo de opinião

 

[EcoDebate] Vemos que cada povo tem uma cultura, um jeito de ser, a organização dos alemães, a expansividade dos italianos, a disciplina do japoneses… Qual seria a “alma” do Brasil, o jeito de ser que sintetiza o brasileiro?

Esse assunto sempre me fascinou e acho interessante a tese de Nelson Rodrigues, de que o que caracteriza o brasileiro é a mistura, quanto mais misturados mais brasileiros somos, uma espécie de colcha de retalhos de várias “almas” regionais, de vários jeitos de ser, de viver, de experimentar o mundo. É impressionante a diversidade do povo de cada região do Brasil, do modo de falar do mineiro e do gaúcho, o contraste entre o pernambucano e o baiano.

Gaúcho, por exemplo, começa a conversa pelo fim, pela conclusão, para convencer rapidamente o outro da sua opinião já formada. Se a outra pessoa não se convence de imediato, então vem o desenvolvimento, a fundamentação. Se continua difícil, o gaúcho vai então às origens do assunto para começar a história desde o início e persuadir ao outro de que a sua conclusão é a correta.

Mineiro, ao contrário, começa contanto uma história bem do início, sem pressa, cuidando com os olhos se você está acompanhando. Depois da introdução vem o desenvolvimento e se você não estiver acompanhando na mesma direção em que ele está conduzindo a história, o mineiro nem conclui. Ele espera você estar em sintonia com ele para chegar ao fim da história, senão vai ficar pra uma ocasião mais propícia.

Baianos e pernambucanos são vizinhos, mas poderiam ser considerados de países diferentes. Os baianos tem um jeito totalmente próprio de ser, são tão sofridos quanto alegres, guardam no íntimo seus sofrimentos (que quem conhece descobre por um olhar mais profundo e empático) e mostram só a alegria de viver e de se divertir. O tempo todo gostam de estar “perturbando” os outros, que é como eles chamam “folgar” com os amigos, “zoar”, brincar. Os pernambucanos, mesmo gostando de brincar, são mais estressados. Pernambuco é a São Paulo do Nordeste. Um primo gaúcho que mora lá me comentou que “quem acha que o gaúcho é metido a valente, não conhece o pernambucano”. Eles levam as coisas mais a sério que na brincadeira.

Claro que as pessoas são diferentes, que não podemos generalizar, não podemos reduzir pessoas a “caricaturas” de cada região, de cada povo, mas é um exercício interessante tentar compreender as diversidades culturais. Pois tudo isso com certeza tem origens históricas, vivenciais, da ocupação do nosso território, com os povos que aqui viviam, misturados ao longo dos séculos com os que para cá vieram, das mais diversas formas.

É um esforço fascinante tentar compreender a nossa multiplicidade de origens e jeitos de ser, para termos empatia com o Brasil.

Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é médico psiquiatra, bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais e ex-presidente do IGS – Instituto Gaúcho da Sustentabilidade

 

in EcoDebate, 31/01/2017

[cite]

 

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