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Artigo

Geoquímica Urbana e Síndrome do Rio Urbano, artigo de Carlos Augusto de Medeiros Filho

 

[EcoDebate] Áreas urbanas incorporam características geoquímicas diferentes do ambiente natural (geogênico). As assinaturas geoquímicas de uma zona urbana são influenciadas por distúrbios ou modificações no seu relevo, como também por materiais alóctones incorporados durante a construção e degradação (erosão e intemperismo) das suas infraestruturas.

Thornton (1992) assinalou que a geoquímica urbana se refere às complexas relações e interações entre elementos químicos e seus compostos no âmbito urbano; as influências, nesse ambiente, das atividades humanas atuais e pretéritas e os efeitos dos parâmetros geoquímicos, na área urbana, na saúde humana, dos animais e plantas.

No âmbito da ciência Geoquímica Urbana, serão discutidos aspectos básicos da geoquímica dos “rios urbanos”, especialmente a partir dos trabalhos de Fitzpatrick et al. (2007); Rose (2007) e Connor et al. (2014).

A mudança no uso da terra evidentemente influencia na biogeoquímica de bacias hidrográficas. A transformação da paisagem natural para fins agrícolas e urbanos provoca a perda de florestas e zonas úmidas e o crescimento da densidade de superfícies impermeabilizadas, com o consequente aumento do escoamento superficial e da participação de insumos químicos e de águas residuais antrópicas. Como resultado de atividades humanas, as condições de muitos ambientes aquáticos urbanos têm sido degradadas.

Compreender a geoquímica dos rios urbanos é fundamental. Ela pode informar, por exemplo, como o aumento da extensão da cobertura do solo impermeável pode impactar bacias hidrográficas. Com o crescimento das cidades e a limitação das reservas de água potável, a compreensão de como as paisagens urbanas impacta esse indispensável recurso é imperativa.

As correntes urbanas são caracterizadas pela morfologia do canal alterado, diminuição da riqueza biótica e concentrações elevadas de nutrientes e contaminantes. As Interações entre água e as rochas residuais podem tornar-se limitadas devido as superfícies impermeáveis em córregos intensamente urbanizadas.

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Canal do Baldo (Natal-RN). Fonte: Tribuna do Norte 13-12-2009.

 

Com relação à geoquímica, o escoamento das águas ao longo de áreas urbanas contribui para aumentar o pH, a condutividade, e em gerar modificações das composições iônicas. Alterações na composição química da água de escoamento, devido a lixiviação de álcalis de concretos e outras infraestruturas urbanas, geram aumento na disponibilidade de Na, K e Cl entre outros elementos.

O Rio Chattahoochee, que drena zonas rurais e urbanas na Geórgia, Alabama e Flórida, registrou um aumento de 3-4 vezes em Ca, Mg, Na e SO42- em amostras de coluna de água em urbanas, em relação as das áreas rurais (Rose, 2007).

Wright et ai. (2011, in Connor, 2014) verificaram aumentos semelhantes na alcalinidade / capacidade de tamponamento, pH, Na, Cl e Ca, em riachos com sistemas de drenagem de concreto em Sydney, Austrália, em comparação com fluxos de referência. Além disso, eles sugeriram que quantidades significativas de Ca, HCO3- e K em drenagens urbanas poderiam se originar de contato com tubos de drenagem de concreto.

Os estudos sobre os rios urbanos descrevem o que foi caracterizado como ” síndrome de corrente urbana” (Fitzpatrick et al., 2007) , em que a alteração da paisagem urbana está intimamente associada à geoquímica do sistema fluvial. Uma análise mais aprofundada dos controles geoquímicos dos sistemas fluviais urbanos é um componente importante e necessário para melhor compreender as relações sinérgicas entre a urbanização e a estrutura e função geral das suas correntes d’águas.

Referências Bibliográficas
Connor, N.P.; Sarraino, S.; Frantz, D.E.; Bushaw-Newton, K.; MacAvoy, S.E. 2014. Geochemical characteristics of an urban river: Influences of an anthropogenic landscape. Applied Geochemistry 47 209–216

Fitzpatrick,M.L.; Long, D.T, Pijanowski, B.C. 2007. Exploring the effects of urban and agricultural land use on surface water chemistry, across a regional watershed, using multivariate statistics. Applied Geochemistry 22 1825–1840

Rose, S., 2007. The effects of urbanization on the hydrochemistry of base flow within the Chattahoochee River Basin (Georgia, USA). J. Hydrol. 341 (1–2), 42–54.

Thornton, I. 1992. Environmental geochemistry and health in the 1990s: a global perspective. Appl. Geochem. 11 (2), 203 – 210.

Carlos Augusto de Medeiros Filho, geoquímico, graduado na faculdade de geologia da UFRN e com mestrado na UFPA. Trabalha há mais de 30 anos em Pesquisa Mineral.

 

in EcoDebate, 16/08/2016

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