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Artigo

A queda das exportações brasileiras e a perda de competitividade, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

 

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[EcoDebate] O superávit da balança comercial brasileira foi de US$ 23,63 bilhões no primeiro semestre de 2016, informou, na sexta-feira (01/07), o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC). Trata-se do melhor resultado para os seis primeiros meses de um ano desde o início da série histórica, em 1989, ou seja, em 28 anos.

Mas este resultado ocorreu devido à grande queda das importações e não devido ao aumento das exportações. Na verdade, o Brasil vem perdendo participação no comércio mundial desde o início dos anos de 1950, quando as exportações brasileiras representavam cerca de 2% das transações globais. O ponto mais baixo ocorreu em 1967 com 0,76% das exportações mundiais.

Durante o regime militar as exportações brasileiras recuperaram um pouco até atingir 1,4% em 1984. Depois houve nova queda da participação brasileira no comércio internacional que caiu para 0,84% em 1999. Porém, com a desvalorização cambial do segundo governo FHC e com a valorização internacional do preço das commodities a participação brasileira nas exportações globais voltou para a casa de 1,4% em 2011. Mas nos últimos 5 anos a queda foi constante e o Brasil deve ficar próximo de 1% da fatia das exportações mundiais em 2016.

Em 2013 e 2014 o Brasil teve déficit na balança comercial, o que agravou o déficit em transações correntes. Esta situação era insustentável. A desvalorização cambial de 2015 eliminou o déficit na balança comercial e o país voltou a apresentar superávits comerciais. Porém, o ajuste foi feito pela contração da demanda interna e não o aumento das exportações. Em 2011 as exportações brasileiras atingiram o pico de US$ 256 bilhões, com saldo comercial de US$ 9,2 bilhões. Em 2012 e 2013 as exportações caíram para US$ 242 bilhões, mas o saldo comercial reverteu de aproximadamente + US$ 9 bilhões para – US$ 9 bilhões. O pior foi em 2014 com queda das exportações para US$ 225 bilhões, enquanto o saldo ficou negativo em US$ 14 bilhões. As exportações tiveram um tombo ainda maior em 2015 e ficaram em US$ 191 bilhões (e superávit comercial de US$ 12,3 bilhões).

A tabela abaixo mostra que as exportações brasileiras no primeiro semestre de 2016 foram de US$ 90,24 bilhões, o que significa uma queda de 5,9% em relação aos US$ 94,33 do primeiro semestre de 2015. Neste ritmo, as exportações brasileiras devem ficar em torno de US$ 181 bilhões em 2016, bem abaixo dos US$ 256 bilhões de 2011.

A média diária de junho de 2016, considerando os dias úteis, foi de US$ 761,1 milhões o que ficou abaixo da média diária de maio de 2016 que ficou em US$ 836,7 milhões, provavelmente já refletindo a valorização cambial que aconteceu no período. Os dados do mês passado ficaram muito abaixo de junho de 2015, que teve uma média diária de US$ 934,7 milhões. Assim, a queda de junho de 2016 em relação ao mesmo mês do ano passado foi de -18,6%, um tombo expressivo.

 

balança comercial brasileira, junho 2016

 

Os dados da balança comercial de 2016 não são animadores, pois embora o superávit comercial venha crescendo, isto acontece pela via da queda das importações e não devido ao aumento do valor das exportações. Isto mostra que o Brasil está com dificuldade de competir no comércio internacional, em grande parte, devido a baixa produtividade da economia nacional. Sem o crescimento das exportações o emprego não aumenta e a crise social continua prejudicando a vida de milhões de famílias brasileiras.

 

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

 

in EcoDebate, 04/07/2016

[cite]

 

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2 thoughts on “A queda das exportações brasileiras e a perda de competitividade, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

  • Ants de pensarmos nos valores da Balança Comercial Brasileira, devemos ter como objetivo o nosso avanço econômico, social e ecológico correto. Como Nação, há que alcançarmos um desenvolvimento sustentável, com a finalidade de sermos capazes de produzir, para podermos ser auto-suficientes em tudo aquilo que está ao alcance de todos nós.

  • Por bem ou por mal, a venda da América do Sul para os países ricos da Europa, EUA e China em breve há de parar, seja pelo esgotamento total dos recursos naturais, seja por um reordenamento, no qual todo o planeta Terra seja unificado em um só Estado Socialista, onde, evidentemente, não haverá competitividade nem exploração, e o controle da reprodução humana será utilizado como meio de recuperação da biosfera terrestre e da biodiversidade.

    Não alimento ilusões de que a segunda hipótese aconteça, mas…

    A América do Sul é explorada, ou melhor, saqueada há mais de quinhentos anos, e em pleno século XXI, ano 2016, ainda se fala em competitivida.

    É… Talvez eu não entenda bem as regras do jogo, e não perceba que temos diante de nós (quando digo nós, refiro-me a todos os seres vivos que ainda habitam o planeta Terra) um futuro brilhante, em um planeta totalmente saudável.

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