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Artigo

Proibidos de discutir o Brasil, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)

 

opinião

 

[EcoDebate] Estamos presos há quase dois anos pelo processo de golpe à democracia instaurado no Brasil. Nesse período discutimos fartamente a monumental hipocrisia da corrupção e ficamos proibidos de discutir questões fundamentais que afetam a vida de toda a população brasileira.

Uma dessas questões fundamentais é a dimensão do meio ambiente. Nesses últimos tempos o estouro de uma barragem destruiu a quinta maior bacia hidrográfica do Brasil (Rio Doce), a vazão do rio São Francisco foi reduzida para 800 m3/s, aumentou o desmatamento na Amazônia e o governo deposto criou o território do MATOPIBA, punhalada mortal no que resta do bioma Cerrado. Mas, ele é o “pai das águas”, local de onde as águas pendem para todas as maiores bacias hidrográficas brasileiras.

Portanto, continuamos perdendo nossa biodiversidade, nossas águas, nossos solos e aumentando a temperatura geral do país e do planeta. Curioso, para os economistas que pensam esse país, esses bens são externalidades ao processo econômico, não riquezas das quais dependemos para viver.

A recessão econômica brasileira nos proíbe de discutir novas energias, novas tecnologias, um novo modelo econômico e nos força a assumir a qualquer preço o desenvolvimentismo (crescimentismo) de uma economia que se mostra inviável por depender de algumas commodities cujos preços despencaram no mercado internacional. Então, somos obrigados a produzir mais e mais produtos primários como soja, minério de ferro, sem conter a erosão dos preços. Hoje, para se comprar um soft do Bill Gates – um pacote completo do office vale R$ 800,00 – precisamos exportar quatro toneladas de ferro, cujo valor não passa de R$ 200,00 no mercado das commodities.

Mas, um país não vive só de sua economia. Vive de seus valores simbólicos e bens intangíveis, como sua cultura, sua pluralidade, suas relações familiares e sociais. Essas são mais visíveis e mais imediatas. Tememos perder o emprego, a pouca renda dos programas sociais, o acesso à universidade de mais uns poucos, o acesso gratuito à saúde ainda que precário, a facilidade para adquirir uma moradia, os direitos dos trabalhadores aposentados, enfim, o pouco de cidadania que avançou nas últimas décadas. Sobretudo, vimos crescer o ódio e o preconceito entre nós.

Ainda mais, tememos perder o fiapo de democracia que nos restava para golpistas que souberam aliar a manutenção do próprio pescoço (Lava Jato) com interesses escusos do capital nacional e internacional privatista e excludente.

O problema de sempre é que não sabemos se o país sairá mais maduro dessa instabilidade e nem quando sairá. Golpe, autoritarismo e hipocrisia nunca produziram bons frutos.

Roberto Malvezzi (Gogó), Articulista do Portal EcoDebate, possui formação em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. Atua na Equipe CPP/CPT do São Francisco.

 

in EcoDebate, 07/06/2016

[cite]

 

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6 thoughts on “Proibidos de discutir o Brasil, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)

  • Prof. José de Castro Silva

    Excelente artigo do colega Roberto Malvezzi. Muita lucidez e equilíbrio em colocar a questão tão preocupante para nós, ligados ao meio ambiente.
    Concordo plenamente que estamos há quase dois anos presos pelo processo de golpe duro á democracia. O termo “golpe” sofreu uma banalização nos últimos meses onde os recém-depostos do poder cometeram as maiores banalidades e quebraram o país. Os recém-empossados estão vivendo os pesadelos de terem um passado cheio de senões e desvios, obrigando-os a desmentir a todos que insinuam a dizer o contrário. Golpistas de ontem e de hoje.
    Como disse o “grande pensador Lula”, não somos diferentes em nada. Por que não podemos errar também?
    Quanto à sociedade, resto do poder que já está perdendo a capacidade de indignação, cabe pensar nas próximas eleições e promover as mudanças de baixo (prefeitos e vereadores). Um dia, quem sabe, as mudanças chegarão até lá em cima. Com raras exceções, Executivo, Legislativo e Judiciário se sustentam como instituições. Quanto aos seus representantes, há muito as esperanças já se esvaíram. Uma geração republicana quase perdida.
    Sem mudanças de cabeças, não haverá mudanças de situações. Ficará muito fácil escrever a história. “Durante várias décadas, a situação foi a mesma”.

    Um abraço.

  • lincoln gambier

    O autor, para escrever um artigo como este, decerto não lê jornais e não recebe informações do que acontece no Brasil há mais de ano!

    O governo do PT literalmente afundou a economia do País, destruiu os fundos de pensões, etc., etc. Aqueles que hoje nos governam foram parceiros e eleitos com o PT! ou não?

    Respeite, por favor, a inteligência dos leitores do EcoDebate!

  • É, faço uma analogia com nosso futebol, que foi o melhor do mundo. Quando perdemos de 7 x 1 da Alemanha, deu para sentir a distância que estamos em todos os sentidos dos países ditos 1º mundo, isso se replica em todas as áreas, em todos os níveis. Nosso futebol (nosso país) continuou o mesmo dos anos 60/70 enquanto os outros evoluíram no futebol e nas gestões públicas (países africanos, asiáticos sem expressão futebolístico no passado, hoje compete de igual com o Brasil ou superam). Não tivemos homens de visão, de ação, de criação e inovação, só políticos na expressão chula que hoje essa palavra representa, infelizmente.

  • Roberto, você tocou num assunto importantíssimo: um software do Bill Gates equivale a quatro toneladas de ferro exportado.
    A História nos ensina algo semelhante. Pelo tratado de Methuen, Portugal tinha facilidades para comprar tecidos ingleses e a Inglaterra tinha iguais facilidades para adquirir vinhos portugueses. Como tecido é mais necessário que vinho, o saldo da balança comercial sempre pendia para a Inglaterra.
    No caso que você citou, o assunto é ainda mais marcante. Isso prova que a exportação de produtos primários não pode ser a vocação nacional. Se exportamos ferro e compramos softwares, sempre vamos ficar em desvantagem.

  • Para entender o que se passa no Brasil precisamos ler muito mais que os jornais da mídia corporativa. Embora não participe da esquizofrenia nacional, há pontos que golpistas e golpeados se entendem muito bem: devastação das florestas, das águas, economia primária e primitiva de commodities, grandes obras, dai para frente.
    Uma economia de produtos primários não tem como competir com quem exporta tecnologia, assim como entende a maioria que comentou esse artigo.

  • Artigo excelente na parte que toca ao meio ambiente e lulista/fanático/infantil, quando esforça por fazer uma análise da conjuntura política.
    O Governo do PT literalmente arrasou a economia nacional e assaltou as instituições aparelhando-as partidariamente. Um crime contra a nação.
    Devemos aprender a separar as instituições públicas e os partidos políticos, sob pena de continuarmos a sofrer os seus perversos malefícios.

Fechado para comentários.