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Cicatrizes do cárcere feminino, artigo de Daniel Clemente

 

Ato de mulheres no Rio pede o fim da cultura do estupro. Foto de Tomaz Silva/Agência Brasil

 

[EcoDebate] Atos que fogem à esfera de um tratado social causam indignação. A barbárie está localizada às margens da sociedade, expulsa do convívio e do espaço comum, porém, abrigada em terreno fértil e improdutivo, ausente das sementes do respeito e harmonia, da ética e moral, da educação e cultura. A barbárie está sempre munida de preconceito formulado pela incapacidade de compreensão, subjuga suas vítimas fornecendo condenação prévia e argumentos justificando a ação: a violência sexual contra a mulher deixa de ter sua origem na violação desferida pelo homem e passa a questionar a liberdade feminina sobre os locais frequentados, as roupas utilizadas, as relações consumadas, opção musical, conhecimento religioso, circulo de amizades, grau de relação familiar. De vitima a indutora, de criminoso a induzido.

“Parem de me culpar”. Assim se expressou a jovem de 16 anos vítima de estupro coletivo no Estado do Rio de Janeiro. E quantas mulheres são condenadas dentro de suas próprias casas por seus maridos, ou mesmo nos locais de trabalho coagidas pelos empregadores, nos templos, no transporte público, nas famílias, nas praças, nos espaços de entretenimento. A cultura patriarcal impossibilita a compreensão: como um homem pode saber ou sentir o medo de andar pelas ruas e durante todo o trajeto rezar para não ser vítima de um estupro? Do ponto de vista moral todos os argumentos são insuficientes para entender a dor da cicatriz provocada pela violação, incapazes de buscar a cura.

Na prática social a mulher não tem direitos, apenas concessões. Não tem valores, apenas deveres. Não é protagonista, apenas coadjuvante. Não tem liberdade plena, apenas assistida. Não fala, só ouve. Tem apenas um dia a ser comemorado enquanto os outros trezentos e sessenta e quatro dias são transformados em obstáculos pelo preconceito de gênero. Muitos avanços são constatados nas últimas décadas sobre a inserção da mulher em todas as esferas da sociedade. Mas quanto retrocesso e primitivismo podemos verificar? O estupro coletivo no Rio de Janeiro revela ausência de cultura e civilidade, inexistência de respeito ao ser humano.

O cárcere feminino é o seu corpo, sua própria existência, o seu ser. A cultura do estupro deve ser combatida, causa nobre. A ignorância não pode ser transformada em virtude e a barbárie deve ser combatida com civilidade.

Daniel Clemente
Professor de História
Colégio Adventista de Santos
Pós Graduando História Sociedade e Cultura PUC-SP
Pós Graduando Docência Universitária UNASP

 

in EcoDebate, 03/06/2016

[cite]

 

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