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Artigo

A jararaca, Lula e D. Darcy, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)

 

opiniao

 

[EcoDebate] Meu pai sempre teve vida no campo, até hoje, embora eu já me conhecesse morando em cidades no interior de São Paulo.

Ele nos ensinava a matar cobras. Não se bate a primeira nem no rabo, nem na cabeça. No rabo ela te dá um bote. Na cabeça, se errar, ela te morde. Então, com um pau duas vezes maior que a cobra, se bate a uns dois palmos da cabeça, para quebrar a espinha dorsal. Depois se esmaga a cabeça.

Mesmo assim, quando já tinha mais de 80 anos, foi mordido por uma cascavel quando cortava cana. Sobreviveu, continua rastelando o quintal do sítio até hoje com mais de 90 anos.

Mas, assim era no passado. Hoje o mundo da biodiversidade nos ensina que cada ser tem um papel na natureza. Papa Francisco, na Laudato Si, diz que “cada criatura tem sua mensagem”. Por isso, as cobras não venenosas têm seu lugar na natureza, como controladoras de ratos e outros roedores que transmitem doenças. Além disso, comem cobras venenosas. Aqui pelo sertão ainda é costume algumas famílias criarem jiboias em casa para espantar as venenosas.

É do veneno da jararaca que se faz o remédio mais potente contra a pressão alta, inclusive de mulheres grávidas. Então, não é sinal de inteligência matarmos as cobras.

Convivi com D. Darcy no tempo de seminário redentorista. Aliás, fui seu professor de literatura durante ao menos um ano. Era uma pessoa simples e de alma generosa.

Mas, ele fez um sermão sobre cobras, particularmente a jararaca, que repercutiu no Brasil inteiro. Talvez, lendo o Papa Francisco, ele possa atualizar o discurso, quem sabe mais ecológico, mais afinado com os tempos modernos. Vamos respeitar a mensagem de cada criatura.

Segundo, vi-o algumas vezes em Aparecida arrodeado de outras víboras da política brasileira. E ele parecia bem à vontade. Nesse campo não se pode jamais ter dois pesos e duas medidas, sob o risco de sermos mortalmente envenenados.

Então, assim como na natureza, a biodiversidade política é fundamental onde queiramos que reine a democracia, desde que o respeito mútuo seja maior que nossos interesses partidários. Como nos ensinava Jesus, “sejamos simples como as pombas e astutos como as cobras”.

A própria CNBB, oficialmente, tem se colocado em defesa da democracia, contra os golpes e no combate à corrupção venha de onde vier.

Roberto Malvezzi (Gogó), Articulista do Portal EcoDebate, possui formação em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. Atua na Equipe CPP/CPT do São Francisco.

 

in EcoDebate, 14/03/2016

[cite]

 

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7 thoughts on “A jararaca, Lula e D. Darcy, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)

  • Gogó, gosto de ler seus artigos, mas este eu não entendi.
    O título é A jararaca, Lula e D. Darcy, mas não há uma única referência a Lula. Penso que esteja faltando uma parte do artigo

  • Este texto precisa de maior divulgação, a fim de que seja lido por maior número de pessoas. É de sabedoria ímpar, e mostra a que ponto chegam políticos inescrupulosos que se valem dos recursos públicos, aliados à dialética nociva para enganar a todos. Parabéns ao Autor.

  • Muito bom teu artigo, inspirado…

    Mas do jeito que anda a política no país, toda hora me sinto na Macondo de Gabriel Garcia Marques…

    Abs

    RNaime

  • “A própria CNBB, oficialmente, tem se colocado em defesa da democracia, contra os golpes e no combate à corrupção venha de onde vier”.

    [Último parágrafo do artigo em apreço]

    Comentário:

    A Igreja Católica é tão boazinha.

    Ao menos, é como ela se define.

    Portanto, se a pessoa não olhar a História do passado e do presente do Catolicismo (que nojo!), e aceitar como verdadeiras todas as mentiras que ele propaga, verá brotando o bem de onde só nasce o mal.

    É isto que acontece com todas as pessoas religiosas.

    As religiões são fundamentadas em mentiras tão mal contadas que somente um estado de parcial insanidade mental poderá justificar tal adesão.

    As dificuldades da vida, a certeza da morte – para as pessoas adultas – e as imposições parentais aos infantes são os fundamentos psicológicos para a submissão a tantas fantasias desprovidas de qualquer fundamentação.

    Seria muito bom se, de fato, existisse um ser todo-poderoso que nos protegesse das dificuldades da nossa existência e nos desse vida eterna.

    Seria muito bom, mas a História da espécie humana deixa evidente que foram os próprios seres humanos que, diante de seus medos e em busca de proteção, criaram seus Deuses.

    No início, eram muitos Deuses, cada um especializado em determinada aflição.

    Depos, há cerca de 4000 anos, foi criada a primeira religião monoteísta, isto é, de um único Deus. A moda pegou, e hoje já não existe religião politeísta – de vários Deuses. Elas existem, apenas, na História do passado.

  • Prof. José de Castro Silva

    Prezado Valdeci:

    Com todo o respeito, o seu comentário extrapolou o bom senso, desafiando a humanidade que tem suas diversas religiões, como forma natural de suas crenças.
    Afirmar que as religiões são fundamentadas em mentiras é assumir, em parte, a insanidade mental de que se fala.
    Não se deve confundir a doutrina e as pessoas que se escondem sob seu manto. Este espetáculo macula todas as doutrinas porque o ser humano é movido por interesses, que desconsideram a doutrina e o espírito do bem que move as pessoas.

    O Ex-Presidente se comparou à jararaca, ardilosa e venenosa, e que deve ser preservada no ambiente selvagem. Quem se compadeceu da jararaca, que a leve para casa e faça bom proveito.
    Foi uma comparação infeliz para um ex-presidente, ex-líder, ex-sindicalista. Com esta infeliz comparação, perdeu a oportunidade de ficar calado.

    Respeitamos a sua opinião e lamentamos a ofensa aos acreditam em Deus, seja qual for a religião.

  • Senhor Valdeci permita-me um adendo na sua reflexão. Senão, vejamos. Com relação as cobras, eu lembraria que a espécie Philodryas olfersii é também conhecida por cobra-verde. Culturalmente, a maioria dos homens comenta que ela não tem veneno. O problema é que ela é opistóglifa e essa condição dificulta um pouco a sua picada. Destarte, no mundo dos homens, eu diria que há muitas cobras-verdes. Abraços.

  • Prezado Prof. José de Castro Silva,

    sua crítica em relação ao termo “mentira”, conforme utilizado no comentário que fiz acima, tem coerência. O termo mais apropriado seria ficção.
    Quanto à afirmação de que estou “desafiando a humanidade”, devo esclarecer que não é esse meu intento, pois sei que a grande maioria dos seres humanos têm crença religiosa, mas, apesar disto, a História deixa evidente que a criação de um ser todo-poderoso, que protege ou castiga; que pune com a morte ou dá vida eterna, tudo isto é invenção da mente humana, não de agora, mas de centenas de milhares de anos atrás, e, curiosamente, ainda existe nas mentes humanas dos dias de hoje.

    O fato de a grande maioria dos seres humanos acreditar em algo que não existe de fato não transforma essa crença em realidade.

    Espero que as arestas do meu primeiro comentário tenham sido retiradas, afinal, não tratei de minhas crenças nem de meus desejos, apenas expuz um pequeno trecho da triste História da espécie humana, que mais triste se fez devido às tolas invenções de nossos antigos ancestrais. Abraços.

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