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Artigo

A distância do ensino, artigo de Daniel Clemente

 

Número de jovens que concluem ensino médio na idade certa (até 17 anos) subiu em 10 anos, passando de 5% em 2004 para 19% em 2014, revela estudo do Instituto Unibanco, com base em dados do IBGE. Foto: Arquivo/Agência Brasil

 

[EcoDebate] Voltando de uma viagem destinada a conhecer o centro-oeste brasileiro, dentro de um ônibus que se encarregava de maltratar e diminuir a vida útil de minha coluna, me possibilitando de maneira incomoda a permanecer acordado e presenciar o sentimento que pais e filhos compartilham sobre educação escolar. Ao meu lado, separados pelo corredor, uma mãe com sua filha de aproximadamente cinco anos de idade debatiam acidamente sobre bons modos e o comportamento adequado que uma criança alegre deve ter perante aos adultos fadigados. O diálogo era de confronto, a mãe exigindo silêncio e a garota com a sabedoria infantil transformava a viagem monótona em uma grande diversão, foi quando a mãe agarrou a menina pelos braços e disse:  “Comporte-se já, senão te mando para a creche”.  Fiquei pensando: Existe punição mais severa do que mandar o seu próprio filho para um centro educacional?

No Estado do Paraná uma escola estadual vetou a “hora do recreio” devido as constantes ocorrências de brigas no pátio do colégio entre turmas rivais. Medidas semelhantes são tomadas em casas de detenção quando os presidiários não contribuem com o cumprimento das regras institucionais. A prática do diálogo rendeu-se á punição, a integridade física requer prisão psicológica. A escola segue sua função, educando vitimas de um sistema excludente e transformando-os em condenados do sistema penal.

Em São Paulo, Estado da federação que se orgulha de ser o primeiro na economia, tratando todas as relações sociais com segundas intenções, e com o ensino público de quinta categoria, coleciona desprezo, incompetência e falta de compromisso com a educação pública. Na gestão do prefeito Celso Pitta a “escola de lata” transformou container em salas de aula, nos dias ensolarados a temperatura de suas “paredes” chegavam a sessenta graus. Logo após, Marta Suplicy inaugurou quatorze “Céus”, centros educacionais unificados, com infraestrutura privilegiada, porém, todo privilégio remete a prática de acesso aos recursos por alguns e exclusão dos demais, sendo assim permitiu a permanência das centenas de “infernos”, escolas precárias sem o mínimo de condições de servir como canil.

Em seguida José Serra, desmoralizando professores com corte nos benefícios e ampliando salas de aula a base da construção de madeira, oficializando o “puxadinho” como prática governamental. Após Serra abandonar o cargo na prefeitura, emergiu Gilberto Kassab, uma nuvem carregada de amnésia pairou na cidade, compromissos esquecidos, valores desvalorizados, escolas sem educação. Já o prefeito em exercício Fernando Haddad propôs melhorias na educação da mesma maneira que oferece analgésico ao internado na UTI, esparadrapo para a fratura exposta, chocolate ao diabético, lanterna ao cego, talheres a quem não tem o que comer.

Provavelmente, o espectro escolar aterroriza, a mãe amedrontava em troca de silêncio, a filha entristecida suplicava piedade. A educação agoniza e pede socorro. Instrumento de liberdade ou de repressão? O desprezo pelo saber semeia políticos fartos em transformar verbas publicas em privadas, despejam migalhas em troca de voto. Em quem votar? Não precisa ler nem escrever, basta apertar um botão. Basta!

Daniel Clemente
Professor de História
Colégio Adventista de Santos
Pós Graduando em História Sociedade e Cultura PUC-SP

 

in EcoDebate, 11/03/2016

[cite]

 

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