O Lado B dos Candidatos, artigo de Montserrat Martins
[EcoDebate] “O Lado B dos Candidatos” é um livro para quem gosta de examinar todos os lados da trajetória de líderes políticos, não se mostrando contra nem a favor, muito antes pelo contrário. Centrado nas eleições presidenciais de 2014, se resume a 3 capítulos: Dilma, Aécio e Marina, nessa mesma ordem em que foram os 3 mais votados, com a peculiaridade de que o livro foi escrito antes do resultado do primeiro turno. Chico Góis e Simone Iglesias, os autores, se propõe a mostrar o “lado humano” dos presidenciáveis, suas lutas e também as críticas que sofrem e as irregularidades de que são acusados, “para não serem endeusados”.
O livro começa com Dilma enfrentando Neuza Canabarro no governo pedetista. Mostra a influência da irmã de Aécio na vida pessoal e política dele. O capítulo sobre Marina – o único no qual eu poderia averiguar a veracidade de alguns desses bastidores – contém tanto os aspectos tido como positivos, quanto as críticas sofridas pela candidata ao longo de sua trajetória política. Inclui textos históricos como a carta de demissão do Ministério do Meio Ambiente escrita por Marina para Lula em 2008, rica em conteúdo, e depois a de desfiliação do PT, sucinta, em 2009.
“O que se fizer da Amazônia será, ouso dizer, o padrão de convivência futura da humanidade com os recursos naturais, a diversidade cultural e o desejo de crescimento”, diz na carta. Preocupações que não estão na “ordem do dia” neste segundo turno de uma eleição com muito menos debates ambientais do que em 2010. Naquela ocasião, quando o PT e o PSDB passaram ao segundo turno, ambos fizeram uma série de propostas para atrair os votos dos eleitores de Marina. Agora em 2014, Dilma já havia se negado a assumir na ONU o compromisso contra o desmatamento e os gestos de Aécio parecem tímidos nesse sentido, eis que ambos os finalistas da corrida presidencial tem fortes alianças e grandes financiadores ligados ao desmatamento.
“O Lado B dos Candidatos” é uma leitura interessante nesse momento eleitoral em que, com ânimos acirrados e milhares de cargos em jogo, a destrutividade das campanhas é evidente. A propaganda de Dilma dedicou uma atenção e uma intensidade inéditas para “desconstruir” Marina, no que o PT foi bem sucedido, eis que a ex-petista desandou nas intenções de voto até voltar ao seu patamar de 20 e poucos milhões de eleitores, número similar ao da eleição anterior, sendo que suas perspectivas de chegar ao segundo turno esse ano eram muito maiores .
A diferença entre a Marina do livro (com a descrição de possíveis qualidades e defeitos, deixados ao julgamento do leitor) e a descrita na propaganda do PT é gritante. A nenhuma pessoa isenta – mas onde encontrá-las? – poderiam passar desapercebidas as grosseiras distorções a que a imagem de Marina foi submetida nessa disputa eleitoral, por parte do PT. O resultado é que em 2010 havia 3 grupos de “marineiros”, os pró Dilma, os pró-Serra e os pela neutralidade, que acabou sendo a opção de Marina naquele segundo turno. Em 2014, de tanto apanhar do PT, não houve mais “marineiros” pró-Dilma e Marina decidiu apoiar Aécio. Aquela que foi o alvo principal de Dilma está longe de ser o monstro que o PT pintou dela, mas – por isso mesmo, por ter sido demonizada (como se dizia eufemisticamente, “descontruída”) – pode se tornar o carrasco de Dilma nessa eleição.
Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é Psiquiatra.
Publicado no Portal EcoDebate, 17/10/2014
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Acredito e espero que a desconstrução de Marina tenha sido último desserviço do PT ao Brasil, inclusive a meu ver aquele onde a balança começou a pender negativamente ao partido. Já pensou Montserrat como pois seria lindo termos o embate de ideias de duas ex-ministras de Lula? Ao moderador, logicamente que meu comentário é político, mas como não ser num texto com este caráter, intencional ou não.
Gostarei de ler este livro, com certeza. Os autores são pessoas sérias e conhecidas do mundo político e dos bastidores.
Ninguém é perfeito, mas com certeza a Dilma não faz tantas calúnias e tantas maldade sozinha. Não teria competência para tanto. Votei na Marina (primeiro turno) pelo desejo de ver a Dilma e Lula bem longe do poder. Acredito na sinceridade dela e no embate de ideias e propostas para salvar o país do pior e do que está por vir. Infelizmente, o embate toma outros rumos, mas nunca vi tanta raiva e disposição para prometer o que não fez enquanto estava como governante.
Longe das convicções, estou apoiando Aécio para não me juntar aos milhões de arrependidos de ver o PT no poder. O Brasil não aguenta mais um mandato do PT.
O PT precisa fazer uma autocritica sobre vários aspectos que não vale a pena aqui enumerar, agora querer atribuir ao PT a demonização, a descontrução de uma candidata ao PT ? Quem tem uma base solida não é descontruido. Tanto ela como o pessoal que gosta dela precisa parar com esse negocio de vitimação. E não foi o PT que a vitimou. O que o PT mostrou foi as contradições da candidata Marina, e que não vale também a pena enumera-las aqui. Acrdeito que a Marina perdeu a confiança de muitos que realmente acreditavam nela, apos o seu apoio ao PSDB. Mas de qualquer forma, boa sorte a ela, com esta escolha. O livro não aborda esse assunto, mas o futuro o dirá, se foi um acerto ou mais um erro, mas o que não se pode dizer é que ela foi vítima novamente.