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Artigo

Pegada Ecológica do Canadá e do mundo, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

 

Pegada Ecológica do Canadá e do mundo

 

[EcoDebate] As pegadas ecológicas do Canadá e do mundo eram, respectivamente, de 6,43 hectares globais (gha) per capita e 2,7 gha per capita, em 2008. Os valores da biocapacidade eram, respectivamente, de 14,9 gha e 1,78 gha. Portanto, havia superávit ambiental no Canadá e déficit ambiental no mundo.

Mesmo tendo alta pegada ecológica (ou seja, alto padrão de consumo), o Canadá tinha (e tem) superávit ambiental porque tem uma população pequena vivendo em um território rico e extenso. A pegada ecológica per capita vezes a população do Canadá representava 214.199.000 gha enquanto a biocapacidade per capita vezes a população representava um valor de 496.836.000 gha. Portanto, o Canadá tinha uma área de biocapacidade 2,3 vezes maior do que a área da pegada ecológica, em 2008.

Já o mundo tinha uma pegada ecológica relativamente baixa, de 2,7 gha per capita, mas tinha uma biocapacidade mais baixa ainda, de 1,78 gha. A pegada ecológica total do mundo era de 18 bilhões de hectares globais (gha) para uma biocapacidade total de 12 bilhões de gha. Portanto, o mundo tinha um déficit ecológico de 50%, ou seja, estava consumindo 50% a mais sobre a capacidade regenerativa do Planeta.

Assim, a população mundial estava necessitando de 1,5 Planeta, em 2008. Como só existe um Planeta, a humanidade estava e está vivendo dos recursos herdados do passado (como combustíveis fósseis, florestas, estoques de peixe nos oceanos, etc.) e deve passar por grandes dificuldades quando estes recursos se esgotarem ou ficarem muito caros.

A despeito da alta pegada ecológica, o Canadá tinha superávit ambiental, em 2008, porque tinha uma população pequena. Assim, o mundo com uma pegada ecológica bem menor do que a canadense tinha déficit ambiental porque a população era relativamente grande.

É comum se ouvir dizer que se o mundo tivesse a pegada ecológica semelhante à do Canadá o déficit ambiental seria muito elevado. De fato, se os 6,74 bilhões de habitantes do globo tivessem uma pegada per capita de 6,43 gha a área total necessária para a sustentabilidade seria de 43,3 bilhões de gha. Como a biocapacidade global é de apenas 12 bilhões de gha, o mundo necessitaria de 3,6 Planetas para que a população mundial tivesse o padrão de consumo do Canadá. O que seria totalmente inviável do ponto de vista ambiental.

Porém, se a população mundial tivesse o valor da pegada ecológica e a mesma densidade demográfica do Canadá então haveria superávit ambiental no mundo. Com a baixa densidade demográfica do Canadá e o mesmo nível da pegada ecológica o mundo utilizaria apenas um terço da biocapacidade do Planeta. Por exemplo, se o mundo tivesse a pegada ecológica per capita de 6,43 gha, mas uma população de 934 milhões de habitantes teria uma pegada total de 6 bilhões de hectares globais e utilizaria somente metade dos recursos renováveis do Planeta, com superávit ambiental de 100%.

Concluindo, população volumosa com alto padrão de consumo é inviável do ponto de vista da sustentabilidade ambiental. Porém, pode haver grande população com baixo consumo ou pequena população com alto consumo. O Canadá e a Austrália são exemplos de países com alta pegada ecológica, baixa densidade demográfica e superávit ambiental. Índia e Ruanda, por outro lado, são países que apresentam tendências opostas, pois possuem alta densidade demográfica, baixa pegada ecológica e déficit ambiental.

Desta forma, o mundo precisa atingir um equilíbrio entre o tamanho da população e o nível de consumo. Por exemplo, no estágio atual do conhecimento, pode haver uma população de 6 bilhões de habitantes e uma pegada ecológica de 2 hectares globais per capita. Também pode haver uma população de 8 bilhões e uma pegada ecológica de 1,5 gha. Ou ainda, uma população de 4 bilhões de habitantes e uma pegada ecológica de 3 gha. O que não é possível, do ponto de vista da sustentabilidade de longo prazo, é ultrapassar os 12 bilhões de hectares globais da biocapacidade e degradar a Terra a uma taxa superior à capacidade de regeneração bioprodutiva do Planeta.

Referências:
ALVES, JED. Pegada ecológica, população e desenvolvimento, EcoDebate, RJ, 26/01/2011

ALVES, JED. Pegada Ecológica e Biocapacidade, EcoDebate, RJ, 23/05/2012

ALVES, JED. O relatório Planeta Vivo e as projeções da Pegada Ecológica, EcoDebate, RJ, 01/06/2012

ALVES, JED. População, Pegada Ecológica e Biocapacidade: como evitar o colapso? , EcoDebate, RJ, 04/07/2012

ALVES, JED. Pegada Ecológica: e se eliminarmos os países ricos? , EcoDebate, RJ, 19/07/2013

ALVES, JED. Pegada Ecológica e declínio da biocapacidade, EcoDebate, RJ, 07/08/2013

ALVES, JED. Duas enomes Pegadas Ecológicas: EUA grande consumo e China grande população, EcoDebate, RJ, 07/05/2014

 

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

EcoDebate, 30/05/2014


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