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Pegada Ecológica: e se eliminarmos os países ricos? artigo de José Eustáquio Diniz Alves

 

Pegada Ecológica

 

[EcoDebate] A Terra é um Planeta finito. Isto significa que os seres vivos possuem um espaço comum e delimitado para a sobrevivência conjunta. O crescimento exponencial de uma espécie significa a redução do espaço para a vida de outras espécies. Da mesma forma, o crescimento ilimitado de cada país aumenta a demanda global por matérias-primas e commodities e contribui para o sobre-uso dos recursos naturais. Ninguém vive sem demandar bens materiais dos ecossistemas.

A Pegada Ecológica é uma metodologia que mede o impacto humano sobre as áreas terrestres e aquáticas, consideradas biologicamente produtivas e necessárias à disponibilização de recursos ecológicos e serviços, como alimentos, fibras, madeira, terreno para construção e para a absorção do dióxido de carbono (CO2) emitido pela combustão de combustíveis fósseis etc. A Pegada Ecológica mede a quantidade de área biologicamente produtiva – zona de cultivo, pasto, floresta e pesca – disponível para responder às necessidades da humanidade.

Segundo o Relatório Planeta Vivo, da WWF, com dados de 2008, as atividade antrópicas já haviam ultrapassado a biocapacidade da Terra, que é de 12 bilhões de hectares globais (gha). A Pegada Ecológica da humanidade atingiu 2,7 gha por pessoa para um população de 6,7 bilhões de habitantes em 2007. Isto significa que a humanidade já estava utilizando 18 bilhões de gha, 50% a mais do que a capacidade de regeneração do Planeta.

Os países do mundo com maior pegada ecológica, em 2008, eram Emirados Árabes e Qatar, com mais de 10 gha por pessoa. Porém, como são países com baixo número de habitantes, o impacto global é relativamente pequeno. Já os Estados Unidos da América (EUA) tinham uma população de 305 milhões de habitantes e uma pegada de 7,2 gha por pessoa, em 2008. Isto quer dizer que o impacto global dos EUA foi de 2,2 bilhões de gha. O padrão de consumo destes 3 países não é generalizável para o resto do mundo.

A pegada ecológica per capita dos países de alta renda (desenvolvidos) foi de 5,6 gha, em 2008, para uma população de 1,037 bilhão de habitantes, o que representava uma pegada total de 5,768 gha. Eliminando-se a pegada total dos países ricos o déficit ecológico global diminuiria muito, mas mesmo assim haveria um déficit, ainda que menor, para o restante dos habitantes do mundo, com uma pegada ecológica total de 12,2 bilhões de gha. Portanto, mesmo eliminando-se os impactos negativos dos países ricos, o restante do mundo estaria vivendo acima da capacidade de suporte (biocapacidade) da Terra.

Ou seja, os 5,6 bilhões de habitantes dos países de renda baixa e de renda média (países em desenvolvimento), em 2008, tinham uma pegada ecológica total de 12,2 bilhões de hectares globais (gha), superior à capacidade de carga (biocapacidade) do Planeta. Desta forma, mesmo em uma situação hipotética em que os países ricos chegassem a zero em sua pegada ecológica, ainda assim o mundo estaria com problema ambiental e com uma Pegada Ecológica acima da Biocapacidade. E o pior é que os países do chamado “sul global” continuam com população em crescimento e com um modelo econômico que mimetiza o que tem de pior nos países desenvolvidos.

Portanto, mesmo eliminando os países ricos do cálculo da Pegada Ecológica mundial as atividades antrópicas do resto da população do globo continuam superiores à capacidade de regeneração da biosfera. Os cálculos acima não tiram as responsabilidades dos países desenvolvidos como os maiores poluidores do Planeta. Apenas mostram a real dimensão dos problemas causados pelos tamanhos do consumo e da população.

É compreensível que as populações dos países pobres aspirem níveis mais elevados de desenvolvimento e consumo. Mas reproduzir o modelo dos países ricos e poluidores seria um desastre total. Também é compreensível que os indignados do mundo lutem por melhores escolas, hospitais, transporte público, lazer, etc. Mas não é aceitável e nem viável se promover o desenvolvimento humano às custas do empobrecimento do Planeta e da biodiversidade. O consumo médio da população mundial já ultrapassou os níveis de sustentabilidade ambiental. Simplesmente distribuir a riqueza e o consumo humano não resolve os problemas ambientais globais.

Seguindo o princípio das “Responsabilidades comuns mas diferenciadas” a ONU deveria cobrar dos países ricos suas dívidas pelos danos causados ao meio ambiente global. Mas, acima de tudo, seria preciso que toda a comunidade internacional se engaje na luta pela mudança do atual modelo marrom de desenvolvimento e de consumismo exacerbado. Só uma economia de baixo carbono, limpa, com baixo nível de consumo conspícuo, não poluidora, que respeite a biodiversidade e seja socialmente justa poderia mitigar os danos mais impactantes da degradação ambiental e o desastre do aquecimento global.

Referências:
ALVES, JED. População, Pegada Ecológica e Biocapacidade: como evitar o colapso? Ecodebate, RJ, 04/07/2012.
ALVES, JED. Os limites do crescimento econômico. Ecodebate, RJ, 12/06/2013

 

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

EcoDebate, 19/07/2013


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3 thoughts on “Pegada Ecológica: e se eliminarmos os países ricos? artigo de José Eustáquio Diniz Alves

  • Caio Cassius de Barros

    A Pegada Ecológica mede a quantidade de área biologicamente produtiva – zona de cultivo, pasto, floresta e pesca – disponível para responder às necessidades da humanidade.

    Pergunta. Seria só a área biológicamente produtiva? E as áreas de produção de energia?E as áreas de sequestro de carbono.” Limpeza da poluição.”E as bacias produtoras de água?
    Gostaria se possível de receber tais respostas.
    Grato desde já.
    Caio Cassius de Barros
    Eng. Agrícola e Ambiental

  • José Eustáquio

    Olá Caio,

    Obrigado pelo seu interesse no artigo e na metodologia da Pegada Ecológica. Creio que neste pequeno espaço não é o melhor local para fazer uma explicação complexa. O melhor é voce procurar na bibliografia já publicada, pois existe muita coisa escrita sobre o assunto. Para ajudar seguem 3 links:

    http://www.footprintnetwork.org/en/index.php/GFN/

    http://assets.panda.org/downloads/lpr_2008_portuguese_final_lores_2_.pdf

    http://www.urbenviron.org/more/web/REPOSITORIO/Genebaldo%20Freire%20Dias%20-%20A%20Pegada%20Ecol%C3%B3gica%20_Painel.pdf

    Abs, JE

  • Caio Cassius de Barros

    Obrigado pelo esclarecimentos, acompanho sempre seus textos e compartilho com meu pai e amigos, Falta gente que interesse por assunto de tão valor para nossa sobrevivencia. Parabéns pelos textos e abordagens.
    Abraços.
    Caio Cassius de Barros

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